Desde o início do ano, 83 crianças foram usadas como “bombas humanas” na Nigéria

O número de crianças usadas para estes ataques quadruplicou em relação a 2016. Actos do grupo terrorista Boko Haram são cruéis e atrozes, diz Unicef.

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Manifestação na Nigéria contra o rapto de raparigas pelo grupo terrorista Boko Haram Reuters/JON NAZCA (Arquivo)

O conflito na Nigéria estalou há oito anos, em 2009, quando o grupo terrorista Boko Haram iniciou uma campanha militar para criar um estado islâmico no território africano. Desde então, os jihadistas nigerianos já mataram mais de 15.000 pessoas. Entre as vítimas estão milhares de crianças, que o grupo terrorista envia para a morte.

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O conflito na Nigéria estalou há oito anos, em 2009, quando o grupo terrorista Boko Haram iniciou uma campanha militar para criar um estado islâmico no território africano. Desde então, os jihadistas nigerianos já mataram mais de 15.000 pessoas. Entre as vítimas estão milhares de crianças, que o grupo terrorista envia para a morte.

O alerta surgiu na terça-feira pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Num comunicado, divulgado no site da organização, a Unicef afirma que o número de crianças utilizadas como “bombas humanas” é “quatro vezes maior” do que o número registado em 2016.

Desde o início deste ano, 83 crianças foram utilizados como “bombas humanas”, 55 das quais eram raparigas – na sua maioria com idades inferiores a 15 anos – e 27 rapazes. A este número junta-se ainda um bebé, que estaria agarrada a uma jovem. Segundo a agência Reuters, o ano passado foram utilizadas 19 crianças como “bombas humanas”.

A Unicef está “muito preocupada com o aumento cruel e aterrador de crianças, especialmente raparigas, como ‘bombas humanas’” no nordeste da Nigéria. “As crianças usadas como ‘bombas humanas’ são, acima de tudo, vítimas, não perpetradores”, lê-se na nota da organização, que acrescenta que utilizar crianças para este propósito é uma “atrocidade”.

Em Março de 2015, o Boko Haram (que significa “a educação ocidental é proibida”) jurou fidelidade ao grupo terrorista Daesh, alastrando os ataques suicidas aos países vizinhos, como os Camarões e o Níger.

Em Abril de 2014, o grupo jihadista raptou 270 raparigas na cidade nigeriana de Chibok, sendo que algumas delas conseguiram fugir. Três anos depois, apenas 103 delas foram libertadas. “O uso de crianças nestes ataques tem um impacto adicional de criar suspeita e medo sobre as que foram libertadas, salvas ou que fugiram ao Boko Haram”, declara a Unicef. Dessa forma, “muitas dessas crianças […] enfrentam a rejeição quando tentam reintegrar-se nas comunidades, aumentando o seu sofrimento”.

Rebecca Dali, da organização humanitária Centro de Assistência, Empoderamento e Paz, conta que, desde 2015, a organização ajudou a libertar cerca de 209 crianças. Algumas delas tinham apenas quatro anos. “Elas estão muito traumatizadas”, afirmou Rebecca Dali à Reuters. Na segunda-feira, Dali foi homenageada com o prémio da Fundação Sergio Vieira de Mello pelo seu trabalho humanitário.

Em Fevereiro, uma jovem nigeriana que escapou ao Boko Haram contou ao jornal inglês Independent que os militantes do grupo terroristas se ofereceram para pagar cerca de 54 euros para detonarem uma bomba. “Eles disseram que se apertássemos o botão, a bomba explodia e íamos directamente para o céu”, contou a jovem ao jornal britânico.

Uma porta-voz da Unicef, Marixie Mercado disse à VICE News que “a frequência dos ataques na Nigéria é incrível”. Marixie Mercado esteve na cidade de Maiduguri em Julho deste ano: “Estive lá durante oito dias, e houve cinco incidentes que envolveram dois rapazes e cinco raparigas.” “O nível de stress que as pessoas comuns passam é extraordinário”, acrescentou.

Algumas das crianças são treinadas pelo grupo terrorista para se tornarem bombistas suicidas, dando o exemplo de duas jovens ensinadas para o efeito. “As raparigas contaram-nos que foram ensinadas de que não valia a pena viver, e que se morressem enquanto detonavam uma bomba, matando milhares de pessoas, a sua vida seria proveitosa”, afirmou Rebecca Dali.