Faltam respostas sobre imã que instigou ataques de Barcelona

Único sobrevivente confirmou em tribunal que a célula planeava atacar monumentos em Barcelona. Investigadores tentam perceber que contactos teve Es Satty antes dos ataques.

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Mohamed Houli Chemla, o único sobrevivente da explosão que antecedeu os ataques EPA

O único sobrevivente da explosão acidental que antecedeu os ataques na Catalunha confirmou perante a Audiência Nacional espanhola que a célula terrorista estava a preparar um atentado maior com explosivos contra “monumentos” de Barcelona. Mohamed Houli, tal como outros três suspeitos ouvidos esta terça-feira em tribunal, garantiu que o instigador do plano foi o imã Abdelbaki Es Satty, que teria intenção de “se imolar”. Mas por trás dele há grandes incógnitas: Teria ligações a grupos jihadistas? Com que apoios contou na preparação do ataque? Como conseguiu escapar aos radares dos serviços de informação?

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O único sobrevivente da explosão acidental que antecedeu os ataques na Catalunha confirmou perante a Audiência Nacional espanhola que a célula terrorista estava a preparar um atentado maior com explosivos contra “monumentos” de Barcelona. Mohamed Houli, tal como outros três suspeitos ouvidos esta terça-feira em tribunal, garantiu que o instigador do plano foi o imã Abdelbaki Es Satty, que teria intenção de “se imolar”. Mas por trás dele há grandes incógnitas: Teria ligações a grupos jihadistas? Com que apoios contou na preparação do ataque? Como conseguiu escapar aos radares dos serviços de informação?

Os investigadores admitem que não têm ainda grande parte das respostas que serão decisivas para perceber se esta era uma célula isolada ou, se como afirmou o Daesh ao reivindicar os ataques, pertencia a uma rede mais vasta.

O procurador-geral espanhol, José Manuel Maza, reconheceu que o processo judicial aberto contra os quatro suspeitos “será complexo”, com ramificações que se estendem a outros países, e não excluiu que haja envolvidos na trama que ainda não foram identificados. A polícia catalã tinha já admitido que nem Es Satty nem nenhum dos outros 11 alegados membros da célula — oito dos quais foram mortos — era conhecido por suspeitas relacionadas com terrorismo.

Uma das prioridades é, por isso, perceber que contactos o grupo, em particular Es Satty, teve antes dos ataques. O ministro do Interior francês, Gerard Collomb, confirmou que pelo menos quatro dos suspeitos foram a Paris no fim-de-semana anterior aos ataques. Ainda assim, Paris diz desconhecer eventuais ligações a grupos em França. A polícia suíça revelou também que pelo menos um deles esteve em Dezembro na Suíça, dizendo desconhecer as razões da estadia.

Sabe-se ainda que Es Satty, que morreu na explosão acidental, esteve entre Janeiro e Março de 2016 em Viloorde, uma das cidades belgas que mais jihadistas enviaram para a Síria, em busca de trabalho como imã, mas em pelo menos uma das comunidades que contactou foi recusado por não falar flamengo nem francês, e por não ter apresentado provas das suas habilitações religiosas, adianta o El Mundo. Não se sabe, porém, que contactos teve durante a estadia no país que, nota o jornal, terminou pela mesma altura dos atentados em Bruxelas.

As atenções dos investigadores centram-se também em Marrocos, país de origem de todos os membros da célula e que, apesar de ser visto como um exemplo de sucesso na infiltração de células terroristas, é um dos que mais jovens tem a combater pelo Daesh na Síria e no Iraque — 1600, segundo Rabat, a que se juntam outros dois mil jovens da diáspora marroquina na Europa. Marrocos, com quem Madrid garante ter uma “excelente cooperação” no combate aos extremistas, revelou ter detido um primo de dois dos suspeitos, acusado de exaltação do terrorismo, que segundo Rabat pode ter conhecimento dos atentados em preparação.

Numa outra frente, as autoridades tentam compreender como Es Satty conseguiu radicalizar um grupo de “rapazes como todos os outros”, como os descreveu, numa carta aberta, uma assistente social que os conhecia.  

As famílias asseguram que nunca suspeitaram de nada, mas dois familiares confidenciaram ao jornal El País que a radicalização não terá sido tão rápida como inicialmente se suspeitou. “Há pelo menos um ano que o imã se reunia com eles fora da mesquita”, conta um primo, acrescentando que “costumavam estar dentro de uma carrinha e lá ficavam duas horas ou mais [...] Se se cruzavam noutro sítio cumprimentavam-se como se fossem desconhecidos”.

Ao mesmo jornal Manuel Gazapo, director do Observatório de Segurança Nacional, sublinha que o facto de os jovens, imigrantes de primeira e segunda geração, estarem bem integrados na sociedade não os torna menos vulneráveis à radicalização. “Não deixavam de pertencer a uma minoria em risco de exclusão, em que basta um percalço para que se convertessem em rapazes fáceis de manipular”, afirma o especialista, destacando também o facto de serem mais novos do que o perfil habitual dos jihadistas, logo, com uma personalidade mais maleável”.