Navio que inspirou diálogo memorável de Tubarão foi encontrado 72 anos depois
O naufrágio da embarcação USS Indianapolis foi considerada uma das maiores perdas na história da Marinha dos EUA. Dos 1196 tripulantes a bordo, sobreviveram 316.
Estávamos na manhã de 30 de Julho de 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial à vista, quando o navio Indianapolis, da Marinha dos Estados Unidos, foi bombardeado pelas forças militares japonesas. Acabado de chegar de uma missão secreta – em que transportou de São Francisco até à ilha de Tinian (no oceano Pacífico) partes da Little Boy, a bomba atómica que atingiu Hiroxima – o navio foi bombardeado por dois torpedos, vindos de um submarino japonês, acabando por se afundar. Agora, 72 anos depois, uma equipa de expedição liderada por Paul Allen, o co-fundador da Microsoft, encontrou-o.
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Estávamos na manhã de 30 de Julho de 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial à vista, quando o navio Indianapolis, da Marinha dos Estados Unidos, foi bombardeado pelas forças militares japonesas. Acabado de chegar de uma missão secreta – em que transportou de São Francisco até à ilha de Tinian (no oceano Pacífico) partes da Little Boy, a bomba atómica que atingiu Hiroxima – o navio foi bombardeado por dois torpedos, vindos de um submarino japonês, acabando por se afundar. Agora, 72 anos depois, uma equipa de expedição liderada por Paul Allen, o co-fundador da Microsoft, encontrou-o.
Segundo um comunicado da Marinha norte-americana, os restos do navio de 9800 toneladas – peso equivalente a 27 aviões Boeing 747 – foram encontrados a 18 de Agosto, no mar das Filipinas, no Pacífico Norte, a 5500 metros de profundidade. No Twitter, Paul Allen escreveu que a descoberta dos destroços encerrou "um importante capítulo da história da Segunda Guerra Mundial".
O co-fundador da Microsoft caracteriza a descoberta como uma experiência de “humildade”. “Poder homenagear os bravos homens do USS Indianapolis e as suas famílias, através da descoberta do navio que desempenhou um papel importante durante a Segunda Guerra Mundial, é verdadeiramente uma experiência de humildade”, lê-se numa nota divulgada no site de Paul Allen.
“Enquanto americanos, todos temos uma dívida para com a equipa pela sua coragem, persistência e sacrifício, face às terríveis circunstâncias”, referiu o filantropo, na esperança de que “todas as pessoas relacionadas com este navio histórico” possam continuar o seu luto em tranquilidade.
A bordo da embarcação seguiam 1196 tripulantes da Marinha norte-americana, sendo que 800 dos tripulantes sobreviveram ao bombardeamento (que acabou por afundar o navio). Porém, de acordo com a missiva do Comando de História e Património Naval norte-americana, após cinco dias à deriva no mar das Filipinas, expostos ao sol, desidratados e após vários ataques de tubarões, apenas 316 tripulantes conseguiram sobreviver.
De acordo com os relatos históricos do acidente, o navio submergiu em apenas 12 minutos, tornando impossível que a tripulação pedisse ajuda ou utilizasse equipamentos salva-vidas.
“Mesmo nas piores derrotas e desastres existe valor e sacrifício que merecem nunca ser esquecidos”, declarou o director do Comando de História e Património Naval, Sam Cox. “Eles [os tripulantes] podem servir de inspiração para os actuais e os futuros marinheiros em permanentes situações de risco”, acrescentou.
O factor-chave para a descoberta
Um dos factores mais importantes para a descoberta dos destroços do USS Indianapolis surgiu em 2016. De acordo com a Marinha norte-americana, o historiador Richard Hulver realizou buscas no local que se pensava ser a zona do naufrágio. Essas buscas acabaram por conduzir ao local exacto do acidente.
Nas suas investigações, o historiador identificou um porta-aviões, que tinha avistado o Indianapolis antes de este ser atingido. Com base nesses dados, a equipa de investigação criou uma nova área de buscas para encontrar o navio. A equipa da expedição, composta por 13 elementos, está agora responsável por fazer o levantamento topográfico. Esta expedição levou ainda à descoberta do navio de guerra japonês Musashi e do contratorpedeiro italiano Artigliere.
Na missiva, a Marinha dos EUA esclarece ainda que os trabalhos de investigação da equipa liderada por Paul Allen estão a ser realizados em conformidade com a lei, “respeitando o navio afundado como uma sepultura de guerra e não um local sujeito a qualquer tipo de trastorno”. Os destroços encontrados vão ficar na posse da Marinha norte-americana e a sua localização exacta vai permanecer confidencial.
O naufrágio do USS Indianapolis ficou marcado na história, com vários livros – e até mesmo um filme – a retratarem o incidente. Realizado por Steven Spielberg, o filme Jaws (em português, Tubarão), inspirado no livro de Peter Benchley, retrata, numa das cenas, os momentos vividos por um dos tripulantes do navio.
“Às vezes o tubarão olha-nos directamente. Mesmo nos nossos olhos. E o que se passa com os tubarões é que eles têm olhos inertes. Olhos pretos, como os das bonecas. Quando vêm na nossa direcção, nem parecem estar vivos, até nos morderem. O oceano fica vermelho, e apesar das palpitações e dos gritos, os tubarões aparecem e deixam-nos em pedaços”, conta Quint, um dos tripulantes da embarcação, retratado no filme pelo actor britânico Robert Shaw. “Na quinta-feira de manhã, cruzei-me com um amigo, Herbie Robinson. Um jogador de basquetebol de Cleveland. Pensei que ele estava a dormir. Aproximei-me para o acordar mas ele afundou-se na água”, diz ainda a personagem.
O naufrágio da manhã de 30 de Julho de 1945 foi também retratado na obra A Viagem Mortal: O naufrágio do USS Indianapolis, de Dan Kurzman, e no livro In Harm’s Way (Na Direcção do Mal, em português), de Doug Stanton, que conta a história dos tripulantes que sobreviveram ao bombardeamento. Passados 72 anos, 22 membros da tripulação do USS Indianapolis ainda estão vivos.