Macron, o Presidente Júpiter, está a tombar do seu Olimpo, pelo menos para os franceses
Com a popularidade em baixa, e várias medidas impopulares tomadas, Macron prepara rentrée difícil.
No estrangeiro, Emmanuel Macron continua a ser visto como uma esperança, um novo líder político que pode traçar um novo rumo político para a Europa. Mas, após mais de 100 dias no Eliseu, exercendo o cargo de Presidente da República, os franceses que votaram nele como uma barreira contra o avanço das forças reaccionárias da extrema-direita, personificadas em Marine Le, estão desencantadas com ele.
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No estrangeiro, Emmanuel Macron continua a ser visto como uma esperança, um novo líder político que pode traçar um novo rumo político para a Europa. Mas, após mais de 100 dias no Eliseu, exercendo o cargo de Presidente da República, os franceses que votaram nele como uma barreira contra o avanço das forças reaccionárias da extrema-direita, personificadas em Marine Le, estão desencantadas com ele.
Macron é príncipe encantado no estrangeiro, e está a transformar-se aceleradamente em sapo no seu próprio país.
Em Agosto, apenas 36% dos franceses confiam nele, vítima dos vários “casos” que atingiram o seu Governo — com a saída de ministros do partido centrista MoDem, inclusivamente o da Justiça, e a manutenção de outros sob suspeita, como Richard Ferrand. E a tomada de medidas impopulares, como o aumento de alguns impostos, cortes nos orçamentos do poder local e regional. Ou o adiamento do alívio de outros, nomeadamente na habitação, que lhe valeram muitos votos.
Mas há também a questão do estilo adoptado por Macron, a presidência “jupiteriana”, que implica ter um Presidente distante — embora não se coiba de se lançar nalguns banhos de multidão —, que não dá entrevistas, raramente fala, opta antes por declarações solenes. Ou então intervenções feitas à medida para ter impacto nos media internacionais e nas redes internacionais, como tem feito para espicaçar Donald Trump, por exemplo quando o Presidente do Estados Unidos anunciou que retiraria o seu país do Acordo de Paris para limitar as Alterações Climáticas.
Em geral, este estilo de distanciamento aliena os cidadãos franceses. Que, aliás, também não ficaram propriamente agradados com a sua querela com o ex-chefe de Estado das Forças Armadas, general Pierre de Villiers, por causa dos cortes no orçamento militar deste ano, para manter as contas de França dentro o limite estipulado pela União Europeia para o défice. Embora no orçamento de 2018/2019 Macron tenha prometido aumentar o investimento nas Forças Armadas, no próximo haverá cortes na ordem de mil milhões de euros. O general Villiers não gostou, disse-o, e demitiu-se. Macron acabou a dizer “sou o seu chefe!”, num reflexo que não lhe saiu bem, enquanto Presidente.
“É um ditador”, “é um muito dirigista e distante”, “não respeitas as pessoas e é vaidoso”. Estas são alguns dos qualificativos usados pelas pessoas ouvidas num estudo de opinião Harris Interactive sobre a imagem do Presidente Macron.
Demasiado chefe
Se os franceses não queriam um Presidente “normal”, como Hollande se definia, nem um “hiperpresidente”, como se dizia ser Sarkozy, sempre em todo o lado, também não parecem de todo contentes com este Presidente distante, demasiado chefe.
Prevê-se a rentrée seja dura, pois é em Setembro que a revisão do Código do Trabalho, com muitas medidas polémicas, esteja completa. A central sindical CGT, pelo menos, prometeu dar luta nas ruas. E se Macron conquistou, distanciado, o voto das grandes cidades, não cativou o campo e as chamadas zonas periurbanas — que mais podem perder com os cortes anunciados pelo Governo. É destas duas fontes que a agitação social capaz de abalar o Presidente Júpiter no seu Olimpo poderá nascer.