Exército diz que não lhe competia comunicar às famílias relatórios das autópsias
Família de recruta nunca recebeu o relatório da autópsia.
A família de Joaquim Bastos nunca soube o que levou à sua morte, a cerca de um mês de completar o curso 89 dos Comandos em 1988, no Campo Militar de Santa Margarida. Várias vezes solicitou o relatório da autópsia, nunca o recebeu. Situação semelhante foi vivida na altura pela família de Luís Barata, o segundo instruendo que morreu nesse dia.
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A família de Joaquim Bastos nunca soube o que levou à sua morte, a cerca de um mês de completar o curso 89 dos Comandos em 1988, no Campo Militar de Santa Margarida. Várias vezes solicitou o relatório da autópsia, nunca o recebeu. Situação semelhante foi vivida na altura pela família de Luís Barata, o segundo instruendo que morreu nesse dia.
Nas diligências feitas informalmente, os familiares de Joaquim Bastos ficaram convencidos que o jovem de 20 anos teria três costelas partidas quando faleceu e que andava a sofrer ameaças por parte de um instrutor. Olga Bastos diz que o sobrinho terá sofrido uma hemorragia interna que teria acabado por asfixiá-lo; houve tentativas de reanimá-lo, mas terá perdido a vida no campo, antes de chegar ao Hospital de Abrantes. As perguntas da família dirigidas à instituição militar, ao procurador do Ministério Público de Abrantes e ao ministro da Defesa Eurico de Melo nunca tiveram qualquer resposta, diz Olga Bastos.
Ao PÚBLICO, o gabinete de Relações Públicas do Estado-Maior do Exército diz que "não competia ao Exército comunicar às famílias o relatório da autópsia dos militares". Nas respostas enviadas para um trabalho publicado no ano passado, acrescenta que "a informação prestada da causa foi a de 'morte por exaustão', conforme o relatório da autópsia". A instituição diz ainda que "os referidos acidentes foram decorrentes de acidente em serviço, durante a instrução militar no Campo Militar de Santa Margarida", e que os dois jovens "vieram a falecer no Hospital de Abrantes”.
Notícias de 1988 referem que o inquérito interno do Exército “não encontrou qualquer ilícito disciplinar imputável a qualquer instrutor, monitor ou qualquer outro militar”. O documento foi entregue ao então ministro da Defesa Eurico de Melo, “que não o leu” e o entregou ao presidente da Assembleia da República “para lhe dar o fim que muito bem entender”.