Portos nacionais reclamam mais digital e menos guindastes
Comunidades portuárias pedem à ministra do Mar iniciativas que permitam aumentar o acesso à informação sobre as cargas movimentadas a todos os intervenientes da cadeia logística.
Não é ter mais um pórtico ou menos um pórtico para descarga de contentores, ou a dimensão do cais ter uma dezena de metros a mais ou a menos. Mais importante do que investimentos físicos de relevo ou ampliar espaços logísticos, “nesta fase do campeonato, o mais importante é ampliar a cultura digital dos portos”, disse ao PÚBLICO o presidente da Comunidade Portuária de Leixões, Jaime Vieira dos Santos, explicando porque é que todas as comunidades portuárias pediram à ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, que pensasse num plano director para a inovação tecnológica que estruture todas as acções que permanecem relativamente avulsas e que são desenvolvidas porto a porto.
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Não é ter mais um pórtico ou menos um pórtico para descarga de contentores, ou a dimensão do cais ter uma dezena de metros a mais ou a menos. Mais importante do que investimentos físicos de relevo ou ampliar espaços logísticos, “nesta fase do campeonato, o mais importante é ampliar a cultura digital dos portos”, disse ao PÚBLICO o presidente da Comunidade Portuária de Leixões, Jaime Vieira dos Santos, explicando porque é que todas as comunidades portuárias pediram à ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, que pensasse num plano director para a inovação tecnológica que estruture todas as acções que permanecem relativamente avulsas e que são desenvolvidas porto a porto.
“Doravante, os guindastes não serão tanto um facto de diferenciação competitiva, mas antes as plataformas digitais, a automação, a robotização e as energias limpas, conceitos para onde, nos portos, se está a deslocar a criação de valor”, lê-se, na carta que as Comunidades Portuárias dos Portos Portugueses do Continente (CPPPC) enviaram à ministra e a que o PÚBLICO teve acesso.
Quando fala de cultura digital dos portos, Vieira dos Santos explica que se está a referir ao ambiente tecnológico que está a levar a profundas alterações em todas as transacções económicas, lembrando os estudos que demonstram que 14% das transacções são feitas online. “O sistema portuário precisa, cada vez mais, de acompanhar essa mudança, de ter acesso ao big data, de poder aproveitar a enxurrada de informação que está espalhada em varias plataformas tecnológicas, mas que não são trabalhadas, nem a elas se consegue ter acesso”, diz o presidente da Comunidade Portuária de Leixões.
Os portos são hoje uma plataforma onde convergem os interesses de um vasto conjunto de actores, designadamente carregadores, recebedores, alfândegas, administrações portuárias, transitários, empresas de transporte terrestre e marítimo, plataformas físicas de distribuição, entre outras. “É importante que todos estes actores, públicos e privados, possam ser convidados a partilhar a informação de que dispõem, informação essa que quase sempre é fornecida pelo próprio sistema portuário nacional, mas à qual não se consegue ter acesso devido a critérios de confidencialidade que são obsoletos”, diz Vieira dos Santos. Refere-se a critérios que, argumentam as CPPPC, “apenas ‘dificultam’ e ‘confundem’ o acesso sistematizado conciso a dados cujo conhecimento seria da utilidade de todos os parceiros da cadeia logística”.
Ter acesso à informação é urgente, assim como é igualmente urgente interpretá-la não só no plano de eficiência (saber quanto tempo demora num porto um navio, por exemplo), mas também no plano do mercado “é importante conhecê-lo ao nível do consumidor final”, insiste Vieira dos Santos.
A digitalização dos portos era já um dos pilares para os quais as Comunidades Portuárias pediam uma maior ambição no estudo “Portugal, O Porto Europeu do Oceano Atlântico”. Este documento, entregue há cerca de um ano à ministra do Mar precedeu a apresentação pública da Estratégia para o Aumento da Competitividade Portuária, assinada por Ana Paula Vitorino, e que acabou por revelar sintonia nos objectivos - a ministra quer aumentar o movimento dos contentores nos portos comerciais do continente em 200% já nos próximos dez anos. O que as CPPPC reiteram, agora, é que são as “soluções big data” que poderão “promover a informação até ao patamar do conhecimento profundo do nosso mercado, um conhecimento que consideramos fundamental para garantir esse objectivo estratégico” de aumentar o movimento dos contentores.
O que as CPPPC pedem em concreto é mais atenção no detalhe com que vai ser implementada a Janela Única Logistica (JUL), e um debate nacional que permita fazer uma espécie de plano de transição “entre o mundo em brick para o mundo em click”: “É evidente que as cargas movimentadas nos portos serão sempre em brick. Porém a diferenciação dos portos será doravante cada vez mais em click. Os portos portugueses podem ser muito mais competitivos, e serem mais procurados pelo digital, pelo tipo de informação que disponibilizam, do que pelo físico. Podemos dizer isto agora, porque em termos de infra-estruturas físicas, e dos tempos de espera dos navios em cada porto, temos cada vez melhores indicadores”, argumenta Vieira dos Santos.
O objectivo último da CPPPC será colocar todos os actores numa plataforma comum de transacções logísticas e de sistemas de informação, em que, utilizando como referência a padronização que deu origem ao fenómeno da contentorização, se aplique o mesmo às relações logísticas, tornando a logística portuária acessível a todos os operadores que nesta queiram participar.