Um título inédito, uma medalha habitual, algumas revelações e um "ferido grave"
Os pontos altos e baixos da prestação portuguesa nos Mundiais de atletismo de Londres.
Feitas as contas, os Mundiais de Londres acabaram por ser uma excelente contribuição para o palmarés português. Com o título conquistado por Inês Henriques e o bronze de Nelson Évora, Portugal passou a deter 19 medalhas na competição, voltando aos títulos dez anos depois do ouro de Évora no triplo salto e voltando a ter duas posições de pódio 12 anos depois dos bronzes de Rui Silva e Susana Feitor em Helsínquia 2005, mas longe de Gotemburgo 1995, que teve dois títulos (Fernanda Ribeiro e Manuela Machado), uma prata (Fernanda Ribeiro) e um bronze (Carla Sacramento).
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Feitas as contas, os Mundiais de Londres acabaram por ser uma excelente contribuição para o palmarés português. Com o título conquistado por Inês Henriques e o bronze de Nelson Évora, Portugal passou a deter 19 medalhas na competição, voltando aos títulos dez anos depois do ouro de Évora no triplo salto e voltando a ter duas posições de pódio 12 anos depois dos bronzes de Rui Silva e Susana Feitor em Helsínquia 2005, mas longe de Gotemburgo 1995, que teve dois títulos (Fernanda Ribeiro e Manuela Machado), uma prata (Fernanda Ribeiro) e um bronze (Carla Sacramento).
As duas medalhas são os óbvios pontos altos de uma comitiva de 20 atletas, sendo que apenas mais um conseguiu uma posição entre os oito primeiros – Ana Cabecinha, sexta nos 20km marcha, pior que o quarto lugar de 2015. Finalistas foram também Patrícia Mamona e Susana Costa no triplo salto, mas ambas pioraram a classificação dos Jogos Olímpicos do Rio. David Lima teve o ponto alto nos 200m, com a presença numa meia-final e a promessa de recolocar Portugal numa final da velocidade.
Mas, como disse Jorge Vieira, houve “feridos nesta competição”, “aqueles que não chegaram aos resultados que poderiam e deveriam ter chegado”. O presidente da Federação Portuguesa de Atletismo não nomeou os “feridos” da comitiva, mas não é difícil de adivinhar quem são. A maior desilusão talvez seja Tsanko Arnaudov, que não passou da qualificação do peso, tal como Francisco Belo, ficando ambos longe dos respectivos recordes pessoais.
O português nascido na Bulgária não foi o único a ficar distante do seu melhor – e mais nenhum dos restantes elementos, seja na pista ou na estrada, conseguiu fugir a uma passagem discreta por Londres – mas Arnaudov vinha com legítimas expectativas de fazer boa figura num concurso que se revelou de nível bastante alto.
A campeã: Inês Henriques
Tem o ponto alto da carreira aos 37 anos, o que não é de todo invulgar, mas a atleta de Rio Maior tem mais uma medalha para além do ouro nos 50km marcha femininos. Foi uma pioneira na luta pela igualdade de género no atletismo e aproveitou da melhor maneira a oportunidade única que ela e o seu perspicaz treinador Jorge Miguel ajudaram a criar. Foi a primeira campeã do evento e abrilhantou o feito com um recorde do mundo.
O tetramedalhado: Nelson Évora
Num ano de mudanças (de clube e de treinador), o saltador conquistou em Londres a sua quarta medalha em Mundiais de atletismo, repetindo o bronze de há dois anos. Não o fez com o salto mais brilhante da sua carreira (17,19m), teve muita gente próxima e ficou longe dos dois primeiros numa final em que era o mais velho. Aos 33 anos, Évora continua a mostrar que é um atleta dos grandes momentos e continua a sonhar com os grandes saltos.
A promessa: David Lima
Para quem não se lembra, o recorde europeu dos 100m ainda é português e tem mais de uma década (9,86s). Francis Obikwelu, quando estava no auge, colocou os recordes da velocidade a níveis que ainda parecem inalcançáveis, mas David Lima mostrou em Londres bons sinais de, pelo menos, se aproximar deles. A correr perto de casa, o velocista imigrante treinado por Linford Christie não bateu recordes pessoais, mas conseguiu uma meia-final no duplo hectómetro e deixou a promessa de lutar por finais em competições futuras.
A superação: Susana Costa
Apesar de ter piorado em termos classificativos a presença no Rio de Janeiro, a saltadora do Benfica conseguiu um recorde pessoal na qualificação por um centímetro (14,35m), e, por isso, a sua passagem por Londres só pode ser positiva. É isso que se pede a um atleta numa grande competição, que se supere, e foi que Susana Costa fez. E saltou com dores. Patrícia Mamona também não melhorou a classificação olímpica, mas foi à final, algo que nunca tinha conseguido em Mundiais.
A desilusão: Tsanko Arnaudov
Chegou a Londres com uma grande marca, feita em Junho passado, que foi recorde nacional (21,56m), mas, nas qualificações do peso, só conseguiu lançar a 20,08m, ficando muito distante até da marca do 12.º apurado (20,55m). Arnaudov não escondeu a desilusão pelo que fez em Londres, e ele próprio nem sequer conseguiu explicar o que se passou. Foi uma aprendizagem para o enorme atleta do Benfica, que ainda tem 25 anos e uma longa carreira atlética pela frente.