Passos contra a demagogia e populismo da "geringonça", que quer voltar aos anos 80
“O país não está apenas adiado porque não tem reformas; está cativado”, apontou o líder do PSD que avisou que o partido "não se juntará à festa". ”Se queremos ter mais alguma coisa do que temos hoje, não podemos 'geringonçar'”, defendeu.
Sem grandes indicadores económicos por onde lançar as críticas ao Governo, Pedro Passos Coelho atacou a cultura de “imobilismo, demagogia, populismo e radicalismo” da geringonça, defendeu a necessidade de o país ter uma estratégia reformista, mas também chegou à conclusão de que isso é impossível com esta solução governativa. Na Festa do Pontal deste domingo à noite, o líder do PSD acusou os partidos da esquerda de quererem voltar ao Portugal dos anos 80, antes da revisão constitucional de 1989 que arrumou de vez com as nacionalizações e abriu o país à iniciativa privada e às reformas. E disse mesmo que a "geringonça" quer "regressar ao espírito constitucional de 1975".
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Sem grandes indicadores económicos por onde lançar as críticas ao Governo, Pedro Passos Coelho atacou a cultura de “imobilismo, demagogia, populismo e radicalismo” da geringonça, defendeu a necessidade de o país ter uma estratégia reformista, mas também chegou à conclusão de que isso é impossível com esta solução governativa. Na Festa do Pontal deste domingo à noite, o líder do PSD acusou os partidos da esquerda de quererem voltar ao Portugal dos anos 80, antes da revisão constitucional de 1989 que arrumou de vez com as nacionalizações e abriu o país à iniciativa privada e às reformas. E disse mesmo que a "geringonça" quer "regressar ao espírito constitucional de 1975".
Passos Coelho defendeu ser preciso “prosseguir algumas reformas lançadas pelo seu executivo com o CDS, para que o país possa ter “fôlego” no futuro. “Cumprida metade da legislatura o que vemos? Que a vontade do Governo de mudar alguma coisa que não seja por razões populistas e demagógicas ou olhar para o curto prazo (sondagens ou eleições) ou está na gaveta ou não está nas intenções de quem governa”, apontou o líder do PSD, acusando quem governa, seja no Parlamento ou em São Bento, de “não ter espírito reformista”.
A "geringonça" é, antes, a “encarnação da cultura dos direitos adquiridos” e essa é “uma visão pobre da cultura democrática”. Exemplos? As reversões na educação (com o “facilitismo”), nas privatizações, a “lei Mortágua”. E por isso “está esgotada”, disse Passos, retomando os argumentos já usados há precisamente um ano no mesmo palco. E se há casos em que o país está melhor, então devem-se às reformas lançadas pelo Governo PSD/CDS — as exportações, por exemplo, vão aumentar em 2018 com o novo modelo da Autoeuropa negociados na anterior legislatura.
“Cumprir o défice não chega para ganhar o futuro”, disse Passos, elogiando o facto de os partidos de esquerda estarem, afinal, a cumprir a meta de Bruxelas para o défice. "E para o futuro não chegará nenhuma 'geringonça'. Ela basta-se a si própria: ela prende-nos ao presente ou atira-nos" para o passado. ”Se queremos ter mais alguma coisa do que temos hoje, não podemos 'geringonçar'”, concluiu.
Nem peçam ao PSD “que se junte à festa”, avisou Pedro Passos Coelho. “O país não está apenas adiado porque não tem reformas. Está cativado. Porque o Governo não tem coragem de dizer que o que o país precisa não é o que o Governo faz. Temos um país adiado do ponto de vista estrutural, cativado do ponto de vista orçamental.”E previu que este populismo e demagogia vão trazer más notícias: “Se os próximos dois anos de 'geringonça' forem como os dois primeiros, teremos uma legislatura perdida, a viver à conta do que se fez no passado e nada a preparar o futuro. E o futuro chega sempre muito depressa.”
Entre os exemplos de populismo está o aumento extraordinário das pensões pago este mês de Agosto, “justamente a um mês da campanha eleitoral das autárquicas”. Para lembrar logo a seguir que uma parte desse aumento será “comido” pelas novas comissões da Caixa Geral de Depósitos, outra pelos “impostos indirectos”.
“Deve exigir-se de um Governo seriedade, isenção, independência, imparcialidade. Mas nenhum destes termos joga com a 'geringonça' nem com o Governo; continuamos a ter muita demagogia, populismo e também disfarce — avançam medidas destas para disfarçar outras”, apontou. Lembrou depois que a esquerda queria aumento do emprego (que conseguiu, admitiu), mas afinal este tem sido feito à custa de salários baixos — o vencimento mínimo é agora a regra, vincou.
Incêndios e lei da nacionalidade - as polémicas
Antes disso, Passos atacara o primeiro-ministro por causa dos incêndios, pegando no caso do sistema de comunicações de emergência (SIRESP). Criticou a descoordenação e o “exercício permanente de desresponsabilização, de passa-culpas, de acusação” com que o Governo tem lidado com a questão. Lembrou que “o SIRESP tem a cara do actual primeiro-ministro, que o aprovou quando era ministro da Administração Interna” e é por isso que António Costa procurou primeiro “minimizar” as falhas graves do sistema. Mas agora mudou de opinião porque a Altice (dona da PT e sócia do consórcio SIRESP) resolveu anunciar a compra da Media Capital “sem ter ido ao beija-mão” do chefe do Governo.
“Haverá uma altura em que falaremos a sério de responsabilização política. Continua a não ser a altura de o fazer. Isso não significa silêncio e a rolha como o Governo quis impor sobre o sistema de bombeiros para que as pessoas não saibam o que está a falhar e porque está a falhar”, avisou o presidente do PSD. O partido anunciou que vai doar a uma associação de bombeiros os 12 euros que cada militante pagou pelo jantar.
Ainda recusando aquilo a que chamou "radicalismo de esquerda", o líder do PSD disse que no Governo "só se cultiva a ideia do elogio: eles ficam muito contentes se elogiamos; mas se criticamos é porque a oposição tem uma visão negra do futuro". E a oposição critica porque quer um país "com prosperidade", "aberto mas sem cedência alguma ao radicalismo de esquerda".
O exemplo mais simbólico é a alteração à lei de estrangeiros, a quem passa a ser permitida a residência, bastando para isso apresentar uma "promessa de trabalho". Perante isso, Passos questionou-se sobre o que vai acontecer ao "país seguro" caso se mantenha esta "possibilidade de qualquer um viver em Portugal" e lembrou que o Estado também não vai poder expulsar quem tenha cometido crimes graves.
PSD "não precisa de fazer prova de vida"
Estranhamente, Passos pouco falou das eleições. Limitou-se a salientar que o PSD foi sempre um “partido de grande implantação autárquica”, que os municípios liderados são “modelo de desenvolvimento e crescimento” e desejou “boa sorte” aos candidatos do distrito de Faro com quem partilhou a sua enorme mesa. Antes, à chegada ao recinto, antecipara que este é um período de "dificuldades" por causa da campanha eleitoral, como que antecipando a justificação para a ausência dos candidatos sociais-democratas ou apoiados pelo PSD. Dos nomes mais sonantes, apenas Teresa Leal Coelho, candidata a Lisboa, veio ao Pontal. Mas chegou já em cima da hora do jantar e acabou por não ficar na mesa de Passos, mas noutra ao lado, na do líder parlamentar Hugo Soares, onde estavam também Teresa Morais, Marco António Costa ou Maria Luís Albuquerque.
À entrada da Festa do Pontal, o presidente do PSD assegurara que o partido “não precisa de fazer prova de vida” e afirmara-se convicto de que este habitual jantar de rentrée política no Algarve serve para “mostrar que o PSD é um partido que está mobilizado, que faz uma oposição importante e que está sempre a preparar e a pensar no futuro”.
Apesar de estarem cerca de 1600 pessoas no recinto – onde jantaram vitela guisada com ervilhas, cenourinhas e arroz branco –, a plateia mostrou-se pouco reactiva na maior parte do tempo em que Pedro Passos Coelho discursou (e foram 51 minutos). Não houve grandes palmas, nem irromperam assobios como noutros tempos, nem mesmo ovação. Nem o entusiasmo das fotografias e das palmadas nas costas entre os convivas. Porque faltou ali muita juventude que noutros anos animou a noite — havia, pelo contrário, muita gente aparentando idade de reforma, o que resultou numa plateia bem mais amorfa que em festas anteriores.