O regresso dos nazis
Poderia ser só ridículo ver um grupo de homens brancos cujas bisavós nasceram na Europa a reclamar pelo direito ao solo americano. Mas é trágico e dramático. É difícil, para não dizer impossível, entender o que quer um manifestante que pega em tochas e em suásticas para entoar cânticos nazis nas ruas dos Estados Unidos. Para além da flagrante ignorância histórica, revela um desprezo profundo pelas raízes da sociedade em que se manifestam. Agora que todas as perspectivas de razoabilidade foram abandonadas, interessa perceber de onde vem este fenómeno.
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Poderia ser só ridículo ver um grupo de homens brancos cujas bisavós nasceram na Europa a reclamar pelo direito ao solo americano. Mas é trágico e dramático. É difícil, para não dizer impossível, entender o que quer um manifestante que pega em tochas e em suásticas para entoar cânticos nazis nas ruas dos Estados Unidos. Para além da flagrante ignorância histórica, revela um desprezo profundo pelas raízes da sociedade em que se manifestam. Agora que todas as perspectivas de razoabilidade foram abandonadas, interessa perceber de onde vem este fenómeno.
Há várias causas para este ressentimento e este ódio mal disfarçado. Muitas são históricas e têm origem na ainda mal resolvida guerra da secessão, mas isso é apenas o folclore que adorna as bandeiras e as estátuas dos segregacionistas. As causas mais recentes estão na orfandade nascida com a globalização, que foi alimentada pela crise económica nascida dos excessos de Wall Street. A partir daí o fogo do descontentamento foi regado com gasolina pelos vários extremismos, com destaque para o populismo republicano que se consolidou à volta do Tea Party que encontrou em Obama o alvo ideal para expressar o descontentamento. Foi aí, nas guerras culturais que se passaram essencialmente na internet, que ganharam força estes adeptos do ódio. Quando muito, Donald Trump é um produto desta forma de ver o mundo, que se baseia nas dicotomias mais simplistas em que ele próprio medra.
O movimento que se dá a conhecer como “direita alternativa” aposta no eufemismo do marketing para não ser associado a um grupo nazi que medra dentro do Partido Republicano, mas tem exatamente zero novidades para oferecer em termos ideológicos. A cartilha é de nacionalismo populista vagamente adaptado a tempo modernos, reforçando o ataque aos imigrantes latinos e aos muçulmanos como em tempos os nazis se dedicaram a exterminar ciganos e judeus. Como proposta política, para além da habitual protecção republicana aos muito ricos, reduz o seu slogan às frases ecoadas por Trump: “America First” é a única ideologia professada, com a espessura de uma folha de papel, incapaz de lidar com o aquecimento global (que nega) e a globalização (que combate).
Convém lembrar que este presidente americano tem muitos admiradores pelo mundo, incluindo em Portugal. A partir de agora, ficou claro ao lado de quem marcham esses apoiantes. Já não há dúvidas, podemos incluir em definitivo o Governo federal americano na deriva populista do século XXI, com contornos nacionalistas de extrema-direita.