CP suprimiu 255 comboios na linha do Oeste em sete meses
Desde Janeiro que praticamente todos os dias há supressões de comboios na linha do Oeste devido a falta de material. Empresa procura recuperar automotoras que já estavam fora de serviço, mas avarias são quase diárias
Oito de Agosto de 2017. Na estação da Malveira está uma automotora parada que avariou no dia anterior. E na estação do Bombarral está outra, igualmente avariada, que deixou de funcionar na Marinha Grande. Uma outra automotora ainda tentou trazê-la a reboque para as oficinas de Lisboa, mas não conseguiu porque está igualmente velha e deixou-a no Bombarral.
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Oito de Agosto de 2017. Na estação da Malveira está uma automotora parada que avariou no dia anterior. E na estação do Bombarral está outra, igualmente avariada, que deixou de funcionar na Marinha Grande. Uma outra automotora ainda tentou trazê-la a reboque para as oficinas de Lisboa, mas não conseguiu porque está igualmente velha e deixou-a no Bombarral.
Com duas composições a menos, a CP teve de recorrer ao transbordo rodoviário.
É este o quotidiano da linha do Oeste com comboios avariados quase todos os dias, passageiros transportados em autocarros alugados pela empresa e outros “pendurados” nas estações porque não têm informação e nem sempre a transportadora assegura transbordo.
Quando se diz que as supressões fazem parte do quotidiano é porque os números o comprovam: 255 supressões em 212 dias dá uma média de 1,2 comboios suprimidos por dia, com picos que no mês de Maio atingiram 2,6 supressões por dia.
Segundo a empresa, durante este período, 156 comboios foram suprimidos em todo o seu trajecto e 99 em parte do seu percurso.
Para além da perda de receita motivada pela redução de passageiros, a empresa gastou já 20500 euros em aluguer de autocarros desde o início do ano. E como a taxa de uso (portagem ferroviária) tem de ser paga à Refer (agora designada IP), quer os comboios se realizem ou não, a CP já despendeu 10300 euros em igual período para pagar a utilização da infraestrutura apesar dos comboios não terem circulado.
Fonte oficial da empresa diz que “a CP e a EMEF continuam a desenvolver todos os esforços para aumentar o nível de disponibilidade das unidades que integram o parque de material ao serviço nesta linha. Não obstante, mesmo com reposição de unidades de material circulante ao serviço, a ocorrência de imobilizações mantém-se elevada, dado o baixo grau de fiabilidade deste material circulante e os constrangimentos da EMEF ao nível da disponibilidade de material”.
A empresa tem ido buscar automotoras Allan que já estavam desafectadas e prontas para servem vendidas para sucata. Mas dada a sua provecta idade – datam dos anos 50 e foram modernizadas nos anos 90 – o índice de avarias é muito elevado. Na semana passada o motor de uma destas automotoras sofreu um incêndio. E quando isso acontece não há material de reserva para substituição, recorrendo a empresa ao transbordo rodoviário. No entanto, já aconteceu a CP não conseguir autocarros para alugar por as empresas rodoviários não terem também nenhum veículo disponível.
Os atrasos e as supressões na linha do Oeste agravaram-se desde que, em Fevereiro, a empresa retirou material menos antiquado e o deslocou para a linha do Douro a fim de responder ao aumento da procura por motivos turísticos.
A anterior administração da CP, liderada por Manuel Queiró, tinha vindo a insistir junto do governo para que este autorizasse a compra de material circulante destinado às linhas ainda não electrificadas (Oeste, Algarve, Minho e Douro). Sem sucesso.
Desde Julho a empresa tem um novo conselho de administração, liderado por Carlos Gomes Nogueira, que ainda não divulgou a sua estratégia para a transportadora.