Motor da avioneta que matou duas pessoas parou quatro minutos após descolar
Até aterrar numa praia da Caparica, piloto fez várias tentativas de arranque ao motor sem sucesso, revela nota de gabinete de acidentes com aeronaves.
O motor da avioneta que aterrou de emergência numa praia da Costa de Caparica, em Almada, provocando dois mortos, parou quatro minutos após a descolagem, momento em que a aeronave "foi atingida por uma corrente ascendente muito forte".
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O motor da avioneta que aterrou de emergência numa praia da Costa de Caparica, em Almada, provocando dois mortos, parou quatro minutos após a descolagem, momento em que a aeronave "foi atingida por uma corrente ascendente muito forte".
A descrição consta de uma nota informativa do acidente do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), a que a Lusa teve hoje acesso, a qual acrescenta que o instrutor "efetuou várias tentativas de arranque do motor" até à aterragem de emergência, mas "sem sucesso".
O Cessna 152 descolou do Aeródromo Municipal de Cascais às 15h42 de 2 de Agosto, com destino a Évora, para realizar um voo de treino de navegação por instrumentos. A bordo seguiam o instrutor, de 56 anos, e um aluno.
"Às 15h46, durante o cruzamento do rio Tejo, a aeronave foi atingida por uma corrente [de ar] ascendente muito forte. Nesse momento o motor falhou e parou de funcionar. O instrutor efectuou várias tentativas de arranque do motor e ao mesmo tempo assumiu a operação da aeronave, reduzindo a velocidade para uma perda de energia potencial baixa e tentou alcançar algum ponto possível para uma aterragem de emergência", refere o GPIAAF.
A nota informativa conta que, "mantendo a velocidade e a razão de descida constante, o instrutor conseguiu voar a aeronave para uma aterragem de emergência na faixa de areia da praia de São João, que, no momento, estava repleta de banhistas".
"A aeronave aproximou-se silenciosamente e a tripulação, por meio de acionamento das luzes, procurou chamar a atenção das pessoas na praia. O instrutor até à aterragem de emergência, tentou arrancar o motor sem sucesso", sublinha a nota informativa do GPIAAF.
No momento da aterragem de emergência, o avião ligeiro saltou, "pelo menos, três vezes" e "embateu em duas pessoas" que faleceram no local. As vítimas são um homem de 56 anos e uma menina de oito anos.
O instrutor e o aluno saíram ilesos e pelos próprios meios do interior da avioneta.
Os dois tripulantes ficaram sujeitos à medida de coação de termo de identidade e residência, depois de ouvidos no dia seguinte ao acidente por uma procuradora do Ministério Público, no tribunal de Almada, na qualidade de arguidos.
Nesse dia, a Procuradoria-Geral da República emitiu um comunicado, no qual informava que piloto e aluno "incorrem na eventual prática de crime de homicídio por negligência", acrescentando que o inquérito judicial se encontra em segredo de justiça.
Na nota informativa, o GPIAAF reitera que a investigação de segurança a seu cargo "visa unicamente identificar os fatores causais e contributivos envolvidos nos acidentes, com vista à eventual emissão de recomendações para prevenção e melhoria da segurança da aviação civil".
Este organismo sublinha que a sua investigação "é independente e distinta de quaisquer processos judiciais ou administrativos que visem apurar culpas ou imputar responsabilidades".