Mais produtividade = melhor nível de vida
A evolução recente mostra que medidas em prol da produtividade são necessárias.
Os portugueses querem ter um nível de vida similar ao que se verifica nos países mais desenvolvidos. Para que isso aconteça só há um caminho: aumentar a produtividade com que aplicamos os nossos recursos. Não chega imitar o que os outros fazem, é necessário um caminho próprio e muita imaginação produtiva. Este é o desafio que os portugueses têm de ultrapassar para ficarem materialmente mais ricos (a parte espiritual não entra aqui).
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Os portugueses querem ter um nível de vida similar ao que se verifica nos países mais desenvolvidos. Para que isso aconteça só há um caminho: aumentar a produtividade com que aplicamos os nossos recursos. Não chega imitar o que os outros fazem, é necessário um caminho próprio e muita imaginação produtiva. Este é o desafio que os portugueses têm de ultrapassar para ficarem materialmente mais ricos (a parte espiritual não entra aqui).
Portugal é um país desenvolvido mas com um nível de produtividade baixo. O crescimento da produtividade em Portugal nos últimos 20 anos foi inferior ao verificado nas maiores economias desenvolvidas (G7), o que significa que não convergimos em nível de vida.
Alemães, ingleses ou norte-americanos já trabalhavam melhor do que nós e produziam mais bens e serviços numa hora de trabalho. Em duas décadas melhoraram ainda mais o seu desempenho e por isso estão ainda mais ricos do que os portugueses.
Em 1992, a produtividade por hora trabalhada em Portugal (medida em paridades de poder de compra, para ser comparável) representava 56% de Alemanha, França e EUA, 72% do Reino Unido e 87% do Japão. Em 2014, estes valores tinham descido em todos os países: EUA 51%; França 53%; Alemanha 54%; Reino Unido 67%; Japão 81%.
Mais grave, chegámos a uma situação em que os valores de 2014 são todos inferiores aos verificados em 1973, quando Portugal estava em 65% de Alemanha e França, e 76% do Reino Unido. A única exceção é os EUA, onde o valor já estava em torno dos 50%. Neste período, e face às grandes economias, Portugal apenas convergiu com Itália. Se aplicados ao ensino, por exemplo, o nível de produtividade significa que um professor alemão ensina em uma hora o que um professor português ensina em duas horas.
Mas os portugueses demonstram diariamente serem bastante produtivos quando o enquadramento é adequado. Basta pensar em fábricas de multinacionais instaladas em Portugal que são mais produtivas do que as instaladas em alguns daqueles países. Então por que é que esta divergência aconteceu e por que é que nas últimas décadas Portugal não convergiu ao nível da produtividade?
Adam Smith explicou há 250 anos que a diferença de riqueza entre os países se devia ao interesse próprio do empreendedor em aumentar a sua riqueza, à especialização dos trabalhadores e a instituições estáveis como os direitos de propriedade. Todas contribuem para uma afetação de recursos mais produtiva.
As economias evoluíram desde essa altura e são hoje mais complexas, pelo que outros fatores são importantes: inovação nos processos e produtos, adequada qualificação de empresários, gestores e trabalhadores com mais educação e formação ao longo da vida ou aproveitamento de economias de escala por empresas mais internacionalizadas e com acesso a novos mercados. O Estado tem também responsabilidade em assegurar um bom ambiente de negócios e condições de concorrência, de modo que novas empresas, mais inovadoras, possam entrar no mercado, aplicando recursos de forma mais produtiva.
É certo que Portugal tem uma população em envelhecimento e em declínio, o que condiciona negativamente a evolução da produtividade. Contudo, sendo uma situação mais grave do que na maioria dos países desenvolvidos, estes também sofrem do mesmo problema.
As soluções para aumentar a produtividade são conhecidas mas é necessário que haja vontade e pressão na sociedade para que sejam implementadas. Isso só acontecerá se os portugueses perceberem que estas políticas são benéficas para a sua vida. Para além disso, a avaliação de políticas públicas na perspetiva da produtividade torna-se essencial para assegurar políticas apropriadas e corretamente focadas.
Uma opção é a constituição de um conselho de produtividade independente, que avalie de uma forma transparente as políticas implementadas no sentido de identificar e destacar os benefícios das opções pró-produtividade. Estes organismos existem na Austrália e Nova Zelândia, países mais desenvolvidos apesar de mais periféricos do que Portugal, e foram objeto de uma recomendação recente do Conselho Europeu para o seu estabelecimento. O seu funcionamento permitiria consciencializar os portugueses para os benefícios de políticas pró-produtividade na criação de riqueza e, simultaneamente, ultrapassar a oposição e prevenir medidas que favoreçam interesses instalados.
A evolução recente mostra que medidas em prol da produtividade são necessárias. Um conselho para a produtividade seria uma ajuda para o retomar da convergência de Portugal com as grandes economias desenvolvidas. O texto reflete apenas a opinião do autor
O autor escreve segundo as normas do novo Acordo Ortográfico