Observadores internacionais dão nota positiva às eleições no Quénia

Candidato da oposição repete que houve fraude e exige ser declarado vencedor. Comissão eleitoral considera acusações "ridículas".

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Apoiantes de Odinga constroem barricadas no bairro de Kawangware, em Nairobi Goran Tomasevic/Reuters

Os observadores internacionais às presidenciais no Quénia dizem não ter detectado indícios de manipulação eleitoral e repetiram o apelo à calma enquanto decorre o processo de verificação dos resultados preliminares. No entanto, Raila Odinga, o principal candidato da oposição, repetiu as acusações de fraude, assegurando que foi ele o vencedor das eleições de terça-feira.

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Os observadores internacionais às presidenciais no Quénia dizem não ter detectado indícios de manipulação eleitoral e repetiram o apelo à calma enquanto decorre o processo de verificação dos resultados preliminares. No entanto, Raila Odinga, o principal candidato da oposição, repetiu as acusações de fraude, assegurando que foi ele o vencedor das eleições de terça-feira.

Não foram encontrados “sinais de manipulação centralizada ou localizada” no processo de voto, anunciou a chefe da missão da União Europeia, Marietje Schaake, explicando que o grupo só se pronunciará sobre a contagem dos votos e comunicação dos dados no seu relatório final. Um entendimento semelhante à missão enviada pela Comunidade da África Oriental (CAO) para quem as eleições foram “justas e livres”. Citado pelo jornal queniano The Star, Edward Rugumayo e considerou satisfatórias as explicações da comissão eleitoral em relação às denúncias feitas por Odinga.

Quarta-feira, o candidato da oposição disse ter provas de que hackers entraram no sistema informático daquele organismo, introduzindo um algoritmo que fez disparar os votos atribuídos ao Presidente cessante, Uhuru Kenyatta. Esta quinta-feira, depois de ter prometido investigar as denúncias, o presidente da comissão eleitoral, Wafula Chebukati, confirmou que houve uma tentativa de intromissão no sistema, mas assegura que “não foi bem-sucedida”.

O antigo secretário de Estado norte-americano John Kerry, que liderou os observadores da Fundação Carter, disse que o sistema eleitoral se mostrou sólido e que todas as partes devem esperar até que os números comunicados pelas assembleias de voto à comissão eleitoral (e que dão a Kenyatta 54,3% dos votos) sejam cruzados com os registos em papel enviados posteriormente – uma tarefa que as autoridades esperam concluir durante o dia de sexta-feira. “O Quénia deu um notável testemunho a África e ao mundo sobre democracia e o carácter da democracia. Não deixem que ninguém espezinhe isso”, afirmou Kerry, citado pela Reuters.

Já Thabo Mbeki, antigo presidente sul-africano, enviado pela União Africana ao Quénia, disse à Reuters que as eleições decorreram de forma notável até agora, pelo que “seria muito lamentável que algo viesse a emergir, estragando o desfecho”.

Contrariando estes veredictos, Raila Odinga garantiu esta quinta-feira à Reuters que a maioria dos 20 mil registos eleitorais disponibilizados no site da comissão eleitoral – digitalizações dos registos em papel – é falsa. Numa conferência de imprensa em Nairobi, o director da sua campanha garantiu que informações fornecidas por “fontes confidenciais” da comissão mostram que Odinga obteve mais 300 mil votos que Kenyatta e exigiu que o candidato da oposição seja “imediatamente declarado Presidente”.

Nenhum dos dois forneceu provas que sustentem as acusações, consideradas “ridículas” por um responsável da comissão eleitoral. No entanto, assim que a oposição declarou Odinga vencedor, centenas de apoiantes saíram à rua na capital para festejar, adianta a agência de notícias. Quarta-feira, registaram-se protestos, alguns dos quais terminaram com intervenções musculadas da polícia, em dois subúrbios pobres de Nairobi e em Kisumu, um bastião de Odinga no Oeste do país. Um apoiante do candidato da oposição foi morto a tiro durante uma manifestação na capital e a polícia afirma que um homem foi morto à catanada no condado de Tana River, no centro do país, e dois dos alegados atacantes foram mortos pela polícia. 

Incidentes que trazem à memória o início dos protestos e motins que se seguiram às presidenciais de 2007, de que resultaram mais de 1200 mortos. Nesta quinta-feira, uma equipa de reportagem da Reuters assistiu a confrontos entre jovens e a polícia no bairro de lata de Kawangware, também em Nairobi, durante os quais os agentes dispararam balas reais. Mas no resto da cidade, tal como no país, a situação permanecia calma.