A esperança no voto
Ontem o Quénia foi a votos, num exercício democrático tranquilo e sem grandes falhas a assinalar. As imagens com as imensas filas de quenianos à espera de votar deram esperança a quem deseja que tudo decorra de forma tranquila. A operação era dantesca: foram quarenta mil mesas de voto a servir mais de 44 milhões de cidadãos num daqueles exercícios democráticos que é simpático destacar como “espectáculos de democracia”. Mas, num continente tão dividido como é o africano, existe a necessidade imperiosa de mais bons exemplos e melhores histórias de sucesso nas sociedades democráticas.
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Ontem o Quénia foi a votos, num exercício democrático tranquilo e sem grandes falhas a assinalar. As imagens com as imensas filas de quenianos à espera de votar deram esperança a quem deseja que tudo decorra de forma tranquila. A operação era dantesca: foram quarenta mil mesas de voto a servir mais de 44 milhões de cidadãos num daqueles exercícios democráticos que é simpático destacar como “espectáculos de democracia”. Mas, num continente tão dividido como é o africano, existe a necessidade imperiosa de mais bons exemplos e melhores histórias de sucesso nas sociedades democráticas.
A norte, não há estabilidade: a Étiópia lida com uma insurreição num terço do país e a Somália está infestada de terroristas e piratas. Toda a região depende e muito do mercado que o porto de Mombaça garante, pelo que uma perturbação da democracia no Quénia será uma quase garantia de conflitos sérios na região.
O Quénia está a meio caminho na escala das liberdades civis e dos direitos políticos elaborado anualmente pela Freedom House. Não sendo propriamente um país livre, há uma liberdade relativa que é suficiente para garantir a realização de eleições. Mas as conquistas da frágil democracia não estão imunes a ataques e a festa do voto não está garantida. Tudo depende dos resultados finais e do comportamento do candidato derrotado. O seu comportamento e o apelo – ou não – à paz será determinante no futuro de um país que ainda não dá por adquirida a tranquilidade social. Há dez anos, uma eleição e subsequente protesto deram origem mais de 1300 mortos e seiscentos mil desalojados. O risco é que o mesmo se repita, embora exista a esperança que desta vez isso não aconteça.
Uhuru Kenyatta, actual Presidente, soube procurar a estabilidade étnica ao procurar um vice-presidente que garantiu a diversidade no poder. Raila Odinga, ex-primeiro-ministro, está a tentar pela quarta vez chegar ao cargo desta vez tem partilhado a liderança nas sondagens com o actual ocupante. Ambos representam a herança política do Quénia, visto que os seus progenitores eram os grandes rivais políticos dos anos sessenta no país. Tudo pode, portanto, acontecer quando os resultados forem anunciados – e nem mesmo os pedidos de Barack Obama deverão fazer grande diferença se por acaso existir desejo de sangue.