Sanções não fazem Coreia do Norte desviar-se do nuclear
Regime diz que EUA irão “pagar mil vezes” pelos seus “crimes” e recusa proposta de diálogo com o Sul. Efeitos das sanções geram dúvidas.
A Coreia do Norte prometeu responder de forma agressiva à aprovação do mais recente pacote de sanções económicas pelas Nações Unidas, enterrando as esperanças de que a pressão internacional pudesse forçar o regime de Kim Jong-un a sentar-se à mesa das negociações.
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A Coreia do Norte prometeu responder de forma agressiva à aprovação do mais recente pacote de sanções económicas pelas Nações Unidas, enterrando as esperanças de que a pressão internacional pudesse forçar o regime de Kim Jong-un a sentar-se à mesa das negociações.
Utilizando a habitual retórica catastrofista, o Governo norte-coreano emitiu uma declaração em que diz que os EUA irão “pagar mil vezes por todos os seus crimes detestáveis” contra o país. Pyongyang garante ainda que não pretende desviar-se “um palmo sequer” das suas ambições nucleares, enquanto Washington continuar a representar um perigo para a segurança nacional. Antes, à margem da cimeira do bloco regional asiático (ASEAN) nas Filipinas, o ministro dos Negócios Estrangeiros norte-coreano, Ri Yong-ho, já tinha recusado uma proposta sul-coreana para iniciar um processo de diálogo diplomático, dizendo ser “desonesta”.
A reacção do regime norte-coreano é a resposta às sanções económicas aprovadas por unanimidade no sábado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, que visam penalizar Pyongyang pelos dois testes de mísseis intercontinentais realizados em Julho. Os ensaios vieram demonstrar a capacidade de a Coreia do Norte conseguir atingir grande parte do território norte-americano.
O novo pacote de sanções foi descrito pela embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, como “as mais duras aplicadas a um país numa geração”. A generalidade dos cálculos aponta para que o impacto das restrições, centradas em algumas das principais exportações norte-coreanas, atinja mil milhões de dólares – um terço do rendimento total anual das exportações. As medidas mais importantes incluem proibições à importação de carvão, marisco, ferro ou chumbo, e ao acolhimento de trabalhadores norte-coreanos – a mão-de-obra fora do país é uma das principais fontes de moeda estrangeiro para os cofres da Coreia do Norte.
Há bastante tempo que a diplomacia norte-americana estava a negociar nos bastidores a aplicação de sanções mais fortes contra o regime de Kim. O objectivo é obrigar a Coreia do Norte a paralisar os testes relacionados com o seu programa nuclear e abrir um novo processo de diálogo para desanuviar a tensão na Península Coreana. “Quando as condições estiverem reunidas, então poderemos sentar-nos e ter um diálogo sobre o futuro da Coreia do Norte, de maneira a que se sintam seguros e possam ter prosperidade económica”, afirmou o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, que também participou na cimeira da ASEAN.
Impacto limitado
Persistem, no entanto, muitas dúvidas sobre a real eficácia que as novas sanções possam vir a ter para alterar o cálculo da Coreia do Norte. Esta é a terceira vez nos últimos 18 meses que o Conselho de Segurança da ONU aprovou medidas destinadas a forçar Pyongyang a cessar o desenvolvimento do seu programa nuclear, mas foi o contrário que sucedeu.
“As sanções irão ter um impacto económico, mas poucos efeitos sobre o objectivo estratégico de desenvolver mísseis balísticos”, diz à Bloomberg o presidente da Korea Society, Thomas Byrne. A reacção imediata do regime parece demonstrar a manutenção do desafio.
Apesar da dureza das novas medidas, continuam excluídas das restrições as exportações de petróleo da China, e também da Rússia, para a Coreia do Norte. Todos os anos, a China fornece cerca de 500 mil toneladas de petróleo a baixo custo para o regime de Kim, de acordo com dados da Coreia do Sul. Um corte deste abastecimento poderia, porém, provocar um rápido colapso do seu aliado – algo que Pequim quer evitar a todo o custo.
O Presidente dos EUA, Donald Trump, tem insistido no papel da China para travar a escalada da tensão na região e saudou a aprovação das novas sanções. Mas Pequim tem respondido que a sua influência sobre o aliado norte-coreano é limitada e que é necessário que também Washington dê alguns passos no sentido do desanuviamento. Para o Governo chinês, o grande obstáculo é o sistema antimíssil que os EUA começaram a instalar na Coreia do Sul para detectar e abater projécteis norte-coreanos. Os Estados Unidos dizem ter apenas um objectivo defensivo, mas a China encara-o como uma ameaça dirigida à sua própria segurança.
Por outro lado, o programa nuclear norte-coreano tornou-se na principal garantia de sobrevivência do regime – Kim tem a convicção de que assim que tiver na sua posse um míssil capaz de transportar uma ogiva nuclear que consiga atingir os EUA, irá travar qualquer plano para o derrubar.