Mega Ferreira: “Até morrer, todos os anos hei-de ir a Itália”
Viagem. Que palavra é esta para quem nunca separou esta experiência da literatura? É movimento e um fascínio azzurro italiano ou as lágrimas numa paisagem da Úmbria.
Ceder ao impulso de escrita despertado pela viagem. Um detalhe. E depois sentar-se, deixar passar o filtro do tempo e arrumar uma ideia, encontrar o sentido para o que viu e o modo como essa visão alterou outra visão maior, a de si próprio e a do mundo. Foi desta experiência que nasceu Itália, Práticas de Viagem (Sextante), o mais recente livro de António Mega Ferreira num tom que se assemelha ao anterior, Roma, Exercícios de Reconhecimento. “São pensamentos, reflexões, exercícios à volta de um quadro, uma paisagem, uma personagem, um edifício, uma viagem intelectual e afectiva”, como lhe chama na introdução este ex-jornalista, mentor da Expo-98, ex-administrador do Centro Cultural de Belém, actualmente à frente da Orquestra Metropolitana de Lisboa. Nesta conversa fala-se sobre o inexplicável que considera ser a experiência de viagem a partir de um inventário de 40 anos de viagem por Itália, à sombra de Dante, de Ulisses, ancorada num instinto de sobrevivência, único limite da curiosidade e uma imagem na cabeça: a da mais bela mulher de Roma.
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Ceder ao impulso de escrita despertado pela viagem. Um detalhe. E depois sentar-se, deixar passar o filtro do tempo e arrumar uma ideia, encontrar o sentido para o que viu e o modo como essa visão alterou outra visão maior, a de si próprio e a do mundo. Foi desta experiência que nasceu Itália, Práticas de Viagem (Sextante), o mais recente livro de António Mega Ferreira num tom que se assemelha ao anterior, Roma, Exercícios de Reconhecimento. “São pensamentos, reflexões, exercícios à volta de um quadro, uma paisagem, uma personagem, um edifício, uma viagem intelectual e afectiva”, como lhe chama na introdução este ex-jornalista, mentor da Expo-98, ex-administrador do Centro Cultural de Belém, actualmente à frente da Orquestra Metropolitana de Lisboa. Nesta conversa fala-se sobre o inexplicável que considera ser a experiência de viagem a partir de um inventário de 40 anos de viagem por Itália, à sombra de Dante, de Ulisses, ancorada num instinto de sobrevivência, único limite da curiosidade e uma imagem na cabeça: a da mais bela mulher de Roma.
O que é que a palavra viagem lhe sugere?
Penso em primeiro lugar na deslocação. Viagem implica movimento físico. E implica algum estudo, não no sentido académico. Depois é olhar e ver. Olhar para tudo e ver muita coisa. Não há objectividade nesse ver. É ver subjectivamente mas com olhos curiosos. Viajei muito sem ser como turista, profissionalmente, sem enquadramento, e apanhava muitas coisas meio no ar. Para mim, as viagens sempre foram acumulação de conhecimentos. De coisas que se vêem, se conhecem, algumas se experimentam apenas. É importante saber que o bolognesi é uma coisa e o spaghetti outra e não vêm empratados para a mesa. [Viajar] é ir dando com os hábitos de toda a natureza que um país e um povo têm. Em Itália, o território cultural é tão vasto que esse exercício é muito estimulante.
O que o faria apanhar agora um avião?
Podia ser um documentário. No ano passado senti umas saudades enormes do Rio de Janeiro, quando perdi horas da minha vida a ver competições de ciclismo nos Jogos Olímpicos. Odeio ciclismo. Gosto muito de ver desporto, mas... andei a passear pelo Rio com as mais deslumbrantes paisagens. Deu-me uma grande vontade de me meter num avião. Apanhei muitas vezes o avião só para ver o meu Glorioso [Benfica]. Já não o faço. A viagem por impulso hoje em dia já não me é muito prática. Mas fui a Bruges depois de ver um documentário num domingo depois do almoço. Na semana seguinte apanhei o avião. Agora não me movo tão bem. E todos os filmes passados em Itália me despertam a vontade de ir a Itália.
Itália é o primeiro impulso?
Itália é sempre o primeiro impulso. Há uns quatro ou cinco anos estava a falar com uns amigos e disse-lhes: “Até morrer, todos os anos hei-de ir a Itália.” Este ano já fui. E fui pela primeira vez a Lucca, uma cidade maravilhosa. Vou a Itália como quem toma uma injecção. Depois posso ir a outros sítios, não sou monomaníaco, mas sou quase. O azzurro italiano chega-me. Dá-me um shot de reconciliação com a vida.
Um dos livros que cita neste Itália, Práticas de Viagem é A História da Curiosidade de Alberto Manguel [Tinta da China]. O viajante é um curioso e a curiosidade alimenta a viagem e vice-versa?
Sim. O viajante é um curioso. Na Divina Comédia, de Dante, no Inferno, há uma coisa particularmente importante, quando Dante [personagem], que vai acompanhado por Virgílio, encontra Ulisses, e então Virgílio explica a Dante porque é que Ulisses está no Inferno; explica-lhe que está num círculo do Inferno onde estão os consiglieri di frode, os vígaros, e Dante pergunta: “Porquê o Ulisses ali?” A resposta foi que o cavalo de Tróia é um ardil infame, ignóbil. Mas ao longo do canto descobrimos que essa não é a verdadeira razão. A dada altura, Dante pergunta a Ulisses como é que ele morreu e ele conta a história da última viagem que fez, em que passa os pilares de Hércules, o limite tolerado pelos deuses, o limite do mundo conhecido, Gibraltar, a entrada do Mediterrâneo. Vai pelo Atlântico fora até um monte enorme e pela continuidade da Divina Comédia descobrimos que é o Monte do Purgatório e no topo desse monte está o céu, Deus. Mas ao chegar à base do Monte do Purgatório cai uma tempestade enorme e assim morrem Ulisses e os seus companheiros. Isto não está na Odisseia. Isto não é Homero; é uma invenção, provavelmente do próprio Dante. Quer dizer o quê? Que curiosidade, sim, mas é preciso cuidado. A mensagem de Dante é que a curiosidade não pode passar além dos limites divinos. Mesmo na viagem, convém saber onde é que a viagem se deve deter, qual o limite a partir do qual já não se deve ceder à curiosidade.
Como é que sente que chegou ao limite?
Às vezes a falar com as pessoas e, em ambiente urbano, quando nos internamos em certos sítios. Aconteceu-me uma vez em Nova Iorque, outra em Xangai. Um tipo a andar fascinado e de repente sente uma sensação de perdição, que pode estar metido em sarilhos. É uma intuição forte. Um viajante distraído pode estar tramado. É preciso ir de sentidos alerta. Para tudo. Viajar é também uma coisa profundamente sensorial, sensual, de tacto, de cheiro. Uma vez no Brasil fui a uma terra do interior sertanejo chamada Caruaru, e no regresso vinha com as janelas do carro abertas e começam a entrar uns aromas extraordinários com fumo à mistura. Perguntei ao motorista o que era e ele disse que era noite de S. João e havia uma fogueira com a melhor madeira. Era um cheiro inebriante. Aquilo evocou tantas coisas. Para mim, as viagens são isso.
E a escrita é uma maneira de arrumar, de dar sentido a sensações?
Escrever é uma forma de ordenar – coisas, ideias, sensações. Há ideias que se tornam claras porque as escrevemos, antes disso são um magma. A viagem é muito enriquecida pelo exercício de escrita que fazemos sobre ela.
Começa este seu livro a falar das viagens de formação, tirar um tempo para aprender qualquer coisa sobre o mundo, uma experiência que alimentou muita literatura mas que parece perdida.
As modalidades da viagem estão hoje completamente alteradas. Há uma geração faziam-se inter-rails. Já passou. Era uma forma de viagem de formação, como é o [programa europeu] Erasmus. O importante é a vivência que as pessoas têm quando são deslocadas do seu meio e são transplantadas para uma língua diferente, um país diferente, costumes diferentes. É um exercício de formação de cidadãos, seres civilizados. Não há fotografias que substituam a experiência física de imersão num local. Por isso, milhares de pessoas continuam a ir às exposições internacionais. A televisão dá tudo; porém, não é a mesma coisa. O futebol também é muito melhor visto no estádio. Há uma liturgia, um encontro, uma espécie de exercício religioso. Em casa não estou ligado.
Os livros não substituem a viagem, mas a literatura parece ter começado para contar a viagem. Homero com Ulisses, por exemplo. Contar a experiência da viagem porque a viagem é insubstituível?
Precisamente por ser insubstituível é que a literatura a elege como o tema. O tema da Odisseia não é saber se o Ulisses chega ou não a Ítaca, mata ou não os pretendentes de Penélope, encontra ou não o filho. O tema é a viagem. Por isso a viagem de Ulisses é uma odisseia, de Odysseus [variante latina de Ulisses]; o tema é o esforço que implica sair de um sítio para chegar a outro. A literatura pega nisso, porque isso é que é excitante.
E quem fica lê e quem vai acompanha-se de literatura sobre a viagem.
É uma experiência auto-reprodutiva. Voltamos a Dante. O que é A Divina Comédia? Uma viagem no além. O homem resolveu escrever um poema de 14 mil versos sobre uma viagem no além. No Inferno, no Purgatório e depois, loucura das loucuras, no Paraíso! Ele imagina o paraíso, uma cosmologia da salvação. A Comédia de Dante é fundadora, inclusive, da língua italiana, é ele que fixa uma língua italiana. É interessante que essas obras fundadoras de literaturas e de identidades culturais nacionais — falo do Ocidente — sejam sobre viagens. Elas estão a falar de quê? Do que é fundador do homem: movimentar-se. Há um livro muito bonito do Bruce Chatwin, grande viajante e razoável escritor, The Songlines, que tem que ver com os percursos dos aborígenes na Austrália e como esses percursos eram traduzidos em canções. As canções eram, em grande medida, canções de viagem. A viagem é um mito fundador e por isso as viagens são tão mitificadas. Quando Dante fala de Ulisses, interessa-lhe perceber onde é o limite da viagem, porque ele próprio, Dante, está nesse poema a fazer uma viagem proibida por Deus; a viagem dele é para ir ao encontro de Deus. Deus não permite isso. E ele vai e, pior, ele encontra Deus. Pior do que tudo, sai de lá vivo para contar. É o único ser que atravessa o Inferno, o Purgatório e o Paraíso para escrever um poema. Isto é de uma modernidade extraordinária.
Nunca foi tão fácil viajar, mas cada vez mais a viagem se tornou onírica. Há um ideal que perseguimos e parece inalcançável.
Pela banalização. Quando comecei a viajar por volta de 1970, viajar não era evidente. Vivíamos em ditadura e na guerra colonial. Depois nada disto era tão fácil. Tudo aquilo era um ritual e esse ritual valorizava muito a experiência. A viagem era um acontecimento. Era muito miúdo e lembro-me de um grande amigo do meu pai, mais velho do que ele, que sempre que começava a falar dizia: “Quando eu estive em Paris...” E ele tinha estado em Paris há vinte e tal anos, tinha vendido um negócio e gasto todo o dinheiro em Paris em 15 dias. Era a história da vida dele. Era possível haver uma viagem numa vida, que iluminava essa vida inteira e, provavelmente perante o próprio, justificava ele ter nascido. Hoje há viagens extraordinárias, mas a maior parte foi banalizada. E a banalização também trouxe outro efeito, o físico: as multidões. Existem e é das tais coisas que não vale a pena estar nostalgicamente a dizer que antes era melhor. É o que é. É o efeito da democratização das sociedades e isso é muito positivo, mais gente vai tendo acesso às coisas a que outra gente já tinha.
As multidões não o constrangem?
Claro que há constrangimentos. Para ver os [quadros de] Boticceli na galeria dos Ufizzi, em Florença, é preciso estar lá às nove da manhã. Ao meio-dia é impossível. As novas condições da viagem obrigam a um esforço acrescido, mas esta coisa da cultura... não é que seja para sofrer, mas é preciso algum esforço. Há um lado voluntário e prazenteiro e outro que passa por aceitar os contratempos. Para mim, faz parte da viagem outra coisa: ir a um sítio, ver uma coisa que me impressiona muito, e no dia seguinte voltar lá. A experiência nunca é a mesma. Tem o mesmo efeito de ver um filme do [Ingmar] Bergman e querer vê-lo muitas vezes, O Sétimo Selo por exemplo. As coisas que nos interpelam, nos suscitam isso ou o desejo de escrita, merecem muito.
Falava da necessidade de dominar a curiosidade, saber quando parar, mas a viagem desafia isso, pode ser interminável.
É interminável, porque nunca se consegue conhecer tudo e esse é o limite da curiosidade. Vai-se vendo mais, olhando mais, andando mais e a viagem é interminável, porque o objecto é muito mais extenso do que a nossa vida.
Viagem e tempo são indissociáveis.
São. Há uma sensação curiosa que só me veio a partir de certa idade perante determinadas coisas de que gosto muito: “Que pena, isto vai ficar aqui e eu desaparecer!” É bom que aquilo me sobreviva, mas ao mesmo tempo há uma espécie de lamento.
O seu principal impulso em viagem é literário?
É. Estou a ver as coisas e as frases aparecem-me na cabeça. Acontece muito com pintura e arquitectura; aparecem frases na cabeça, compostas literariamente. É como se estivesse a observar as coisas e a projectar o texto que se pode escrever sobre elas. Muitas vezes escrevo, outras não. Mas isto tem uma razão: uma imagem não vale mais do que mil palavras. A imagem só faz realmente sentido quando mil palavras elaboram sobre ela.
O seu olhar dirige-se quase sempre para a arte. A pintura e a arquitectura, como disse. Onde está o António Mega Ferreira, jornalista, que olha as pessoas para escrever sobre elas?
A mulher mais bela de Roma, vi-a um dia ao meio-dia, sentada debaixo de uma coluna do Pantheon, as pernas estendidas, com um vestido de seda vermelho, a comer um tramezzino. Nunca mais verei nada assim em Roma. É uma experiência única. Não sei se é o olhar do repórter, mas se calhar também é. O repórter teria ido falar com ela. O sedutor também. Eu fiquei a olhar. Era a imagem toda. Tudo etéreo e depois a comer uma sandes de pão de forma. Já não sei o que é o olhar do repórter. O que me acontece é que não tenho o olhar no momento, toda esta construção é posterior. Sou melhor a escrever quando o tempo passa. Se me pedirem hoje um texto sobre a Capela Brancacci [Florença] para a meia-noite, já não sou capaz. Se calhar sou, mas é uma coisa superficial. Já não tenho tempo para ser superficial, quero tentar passar para lá da superfície das coisas. O repórter tem constrangimentos temporais e tem o seu papel exactamente nesse registo. Perdi um bocado esse olhar instantâneo do repórter. É filtrado por outras coisas, pelo tempo.
A propósito do instantâneo, não tem a noção, em alguns momentos, de que aquele instante é irrepetível?
Ah, sim! Tenho imagens incríveis na cabeça. Uma vez na Grécia, nos anos 1970, em Napflio, fui parar a um hotel decadente em frente ao porto e andava à procura do quarto quando entro por uma porta de outro quarto e ali estava uma cadeira com um uniforme de soldado e o soldado nu em cima da cama, com o lençol a cobrir-lhe as pernas. Já escrevi um poema sobre isto. Era uma imagem insólita, uma luz muito bonita, a cama estava iluminada pelo sol. Ele dormia com a porta do quarto aberta e ela já tinha saído. O que é que esta imagem significa? Não faço ideia, mas por não fazer ideia é que ela continua. Voltei a Napflio em 2001, e não consegui reconhecer nem o hotel, nem o porto. Interrogava-me por onde andaria o soldado. Esses momentos são mágicos no sentido em que suscitam uma data de coisas que não sabemos dizer o que são. E, se não conseguimos escrever, tornam-se uma espécie de pequenas obsessões. Uma vez, em Assis, depois de um almoço, subi a esplanada da basílica para ver a paisagem e vi a Úmbria e desatei a chorar. Ali estava o fundo da pintura renascentista italiana. É o reconhecimento de que a realidade afinal existe. É a inversão total da coisa. Esse efeito acontece.
Como é que planeia as suas viagens?
Não planeio. Tenho um conjunto de ideias na cabeça. E faço sempre uma lista: dos restaurantes mais recomendados.
Quais são para si os grandes livros de viagem?
Há um que li há pouco tempo, extraordinário, do Lawrence Durrell, As Ilhas Gregas [Relógio d’Água]. Os livros de viagem dele são uma maravilha. Bitter Lemons, sobre Chipre, é fantástico. Muitas daquelas coisas são inventadas, mas isso não importa. Durrell era um ficcionista. Faz coisas muito hábeis: misturar os tempos de narrativa. Como teve experiências na zona das ilhas gregas em várias épocas da vida, parece que tudo aquilo se passou ao mesmo tempo. Outro livro inacreditável é Disse-me Um Adivinho, do Tiziano Terzani [Tinta da China], uma obra-prima. Depois há livros que não são propriamente de viagem, como A Mulher de Porto Pim, de Antonio Tabucchi, mas o lugar está lá. Tabucchi tinha um olhar de viajante, conradiano. Havia um fundo melancólico, ele andava muito por essa linha de sombra que era um pouco o fio do horizonte conradiano. Não acho Chatwin um grande escritor, como já se percebeu. Ele era um escritor-viajante que escolhia o mundo como pano de fundo da sua tragédia pessoal. Depois há autores que têm umas coisas que parece que são de viagem, mas não são bem. Por exemplo, o Journal de Voyage [en Italie], de Montaigne. É sobretudo um relato das suas crises de hemorroidal. O tema da obra dele era ele. A Viagem a Itália [Bertrand], de Goethe, muito mais do que uma observação de Itália, é uma descoberta de si mesmo. O problema é que não sabemos muito bem o que é literatura de viagens? Este livro que escrevi pode ser, mas não o pensei como tal.
Qual foi a sua primeira viagem?
Acho que foi em 68 ou 69, com quatro amigos de Sintra, num velho Ford Mercury de 1946. Fomos do Cabo da Roca ao Cape North, na Noruega. Foi no Verão, atravessámos a Europa e durou uns dois meses e meio. Tínhamos 19, 20 anos. Deu-nos uma pluralidade de visões das coisas. Fui então pela primeira a Paris. Retive o calor e lembro-me de ter ido ver o Teorema, de Pasolini. Era um filme que não podia ser visto em Portugal e, se passasse, passaria retalhadíssimo como passou o Blow-up, de Antonioni.
Estamos numa casa de música. A música faz parte do seu trabalho. Constrói bandas sonoras de viagem?
Nos períodos em que estou em Itália há uma canção italiana dos anos 1960 que me vem à cabeça. Na última viagem, esta Primavera, ocorreu-me uma canção muito popular do pós-guerra, que veio a ser cantada pelo Renato Carosone, Tu vuo fa l’americano, e passei o tempo a cantar isto. Outra que recorre é do Gianni Morandi, Non son degno di te. Mas isto acontece-me sobretudo em Itália. Em Londres não tenho isso. Mas há uma coisa engraçada. No início dos anos 70, vi em Londres o filme The Music Lovers, de Ken Russell, sobre uma obra de Tchaikovsky chamada Souvenir de Florence. A música era extraordinária e depois, em Portobello Road, entrei numa loja de discos e descobri o vinil. Comprei-o e, durante muitos anos, Londres, para mim, era essa música.