China aconselha Coreia do Norte a não responder às fortes sanções da ONU
Conselho de Segurança corta nas trocas que garantiam um terço das receitas de exportação do regime de Pyonguyang. Pequim diz que as sanções não podem ser o objectivo final.
O Conselho de Segurança da ONU aprovou, por unanimidade, a proibição de várias exportações da Coreia do Norte, valiosas para a sua fraca economia, nas que são consideradas das mais fortes sanções ao país por causa dos seus testes nucleares e de mísseis.
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O Conselho de Segurança da ONU aprovou, por unanimidade, a proibição de várias exportações da Coreia do Norte, valiosas para a sua fraca economia, nas que são consideradas das mais fortes sanções ao país por causa dos seus testes nucleares e de mísseis.
A mudança de posição da China, que se vinha a opor a sanções mais duras, foi fundamental – os Estados Unidos vinham a negociar há mais de um mês com Pequim para chegar a uma resolução que fosse aceitável para o país vizinho e maior aliado da Coreia do Norte.
A China não só aprovou as sanções como deixou um recado público ao vizinho, pedindo que não riposte às sanções com novos testes. O ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, que à margem de um fórum regional em Manila se reuniu com o seu homólogo norte-coreano, declarou que foi esta a mensagem do encontro bilateral.
Mas também sublinhou: “as sanções eram necessárias, mas não são o objectivo final” – agora é urgente passar à fase de diálogo. “Depois da aplicação das resoluções, a península coreana entra numa fase decisiva”, declarou Wang aos jornalistas. “Pedimos a todos os lados para terem uma atitude razoável”, apelou, citado pela Reuters.
Apesar da magnitude das sanções, há dois factores a considerar na sua possível eficácia: o país tem sanções desde 2006 que nunca tiveram um resultado palpável em relação ao programa nuclear, que foi avançando apesar de tudo. Especialistas argumentavam que a pouca eficácia se devia à pouca força das medidas.
Mas agora que as medidas são fortes, há outro problema: o tempo. As sanções respondem a um conjunto de cinco testes nucleares e quatro de mísseis e longo alcance levados a cabo recentemente pelo regime norte-coreano. E embora peritos militares tenham expressado dúvidas de que os mísseis testados consigam atingir realmente os seus alvos, as agências de espionagem norte-americanas estimam agora, diz o Washington Post, que o regime de Kim Jong-un poderá ser capaz de produzir um míssil com capacidade de atingir os Estados Unidos com uma ogiva nuclear dentro de um ano – muito mais cedo do que vinha a ser estimado.
As sanções agora aprovadas impedem exportações norte-coreanas de carvão, ferro e minério de ferro, chumbo e minério de chumbo, e marisco. Estimam-se que tenham efeito já que grande parte do financiamento do país vem de exportações para a China, e estas sanções poderão levar a um corte de mil milhões de dólares nas receitas totais de três mil milhões.
Para isso, será necessário que a China cumpra as sanções – os EUA já disseram que irão supervisionar atentamente o cumprimento.
As sanções impedem também que os países contratem mais trabalhadores norte-coreanos, e proíbe novos projectos conjuntos com o país ou novo financiamento para projectos existentes, além de alargar o número de responsáveis do regime de Pyongyang alvo de proibição de viajar e com bens congelados.
O especialista da BBC em Sudeste Asiático, Jonathan Head, diz que apesar da unanimidade nestas sanções, ainda há diferenças de opinião substanciais em relação a como lidar com a Coreia do Norte. A postura mais ansiosa dos Estados Unidos – e também as declarações erráticas do Presidente, Donald Trump – deixam muitos países da região preocupados com um risco de escalada para um confronto violento.
E se não resultarem?
Dentro e fora da Administração norte-americana, há especialistas a tentar chegar a outras possibilidades de impedir a progressão do programa de armas norte-coreano, diz o Washington Post.
O director da CIA, Mike Pompeo, falou de uma estratégia de “separar” o regime das armas. Não era claro se esta seria possível de algum outro modo que não uma mudança de regime, ou se poderia ser conseguido por um acordo de troca: a Coreia do Norte suspendia o programa, e os EUA paravam os exercícios militares com a Coreia do Sul.
Outra proposta foi feita pelo responsável pelo pelouro dos Direitos Humanos no Departamento de Estado, Tom Malinowski, no Politico: os EUA deviam aumentar os esforços por fazer chegar informação ao país, um dos mais fechados do mundo. Isso poderia levar à queda do regime, algo mais provável, considera, do que a sua desnuclearização.