Survivor na Casa Branca
Confirma-se que a verdadeira especialidade de Donald Trump são os reality-shows. Hoje brilha numa versão muito especial de Survivor, emitida em directo a partir da Casa Branca. Os únicos imunes à queda, pelo menos até aos episódios finais, serão os familiares próximos. Todos os outros são para arder na literal fogueira das vaidades em que se transformou a porta giratória do Governo americano. Não há sentido de decoro nem seriedade no exercício do poder da mais importante nação mundial e Washington é já gozada por se parecer cada vez com um circo – ou com uma série de televisão de grande orçamento mas com actores de segunda categoria.
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Confirma-se que a verdadeira especialidade de Donald Trump são os reality-shows. Hoje brilha numa versão muito especial de Survivor, emitida em directo a partir da Casa Branca. Os únicos imunes à queda, pelo menos até aos episódios finais, serão os familiares próximos. Todos os outros são para arder na literal fogueira das vaidades em que se transformou a porta giratória do Governo americano. Não há sentido de decoro nem seriedade no exercício do poder da mais importante nação mundial e Washington é já gozada por se parecer cada vez com um circo – ou com uma série de televisão de grande orçamento mas com actores de segunda categoria.
É importante reconhecer que Donald Trump fez uma Casa Branca à sua imagem e semelhança, construída com base no improviso e na inverosimilhança, apoiada em fundações que não existem e cujo único propósito parece ser o irremediável caos. Em comparação com esta Casa Branca, os senadores romanos que mataram Júlio César eram uns meninos de coro. As facadas nas costas são o prato do dia, servido indiscriminadamente ao ritmo dos humores presidenciais.
Mas a triste verdade é que Trump está a ganhar. Quando a legislação que ia matar o Obamacare não passa por um único voto, é sinal de que os senadores republicanos estão completamente comprometidos com o Presidente mais vulgar que a América já conheceu. Quando o Partido Democrata avisa que vai começar a financiar políticos que incluem a recusa do aborto no seu programa, é sinal que a cedência dos valores ao pragmatismo é uma realidade nos dois lados do espectro político. Quando a Justiça e as câmaras legislativas estão paralisadas pela inacção contra um Presidente inepto, o desequilíbrio de poderes está assegurado. Quando não há alternativa ao populismo de Trump e o país político discute por tweets, perdeu-se a substância da elite norte-americana.
O processo de normalização política do reality-show está em vias de se completar, sem estrondo nem choque. Com Trump, a política norte-americana desceu a um nível inaudito: é difícil ver como pode a sociedade recuperar desta vulgarização. Ainda há quatro dias se viu um grotesco espectáculo: o Presidente a incentivar polícias a exercer violência sobre suspeitos enquanto era freneticamente aplaudido pelos agentes que devem proteger os cidadãos inocentes até prova em contrário. Da mesma forma que Trump é um reflexo do país, também as suas atitudes se irão reflectir na sociedade americana – a desagregação social que elegeu este homem e a polarização política só se vão agudizar, para lamento de todos os que se habituaram a admirar a grandeza dos Estados Unidos da América.