Médicos devem justificar casos de idosos que tomam mais de cinco medicamentos
Medida é defendida na Estratégia Nacional para o Envelhecimento Activo e Saudável, que vai ser colocada a partir de terça-feira em consulta pública.
Os médicos devem sinalizar e justificar obrigatoriamente os casos de idosos que tomam mais do que cinco medicamentos, uma medida defendida na Estratégia Nacional para o Envelhecimento Activo e Saudável.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Os médicos devem sinalizar e justificar obrigatoriamente os casos de idosos que tomam mais do que cinco medicamentos, uma medida defendida na Estratégia Nacional para o Envelhecimento Activo e Saudável.
O documento, que vai ser colocado a partir de terça-feira em consulta pública, traça várias medidas para desenvolver políticas que melhorem a qualidade de vida das pessoas idosas.
Uma das acções defendidas é a definição de uma “estratégia de combate à polimedicação de justificação obrigatória para mais de cinco medicamentos”.
Segundo Pereira Miguel, coordenador do grupo de trabalho interministerial para a Estratégia do Envelhecimento Activo e Saudável, a ideia não é estabelecer um limite para a prescrição ou toma de medicamentos, nem sobrecarregar os médicos com trabalho burocrático.
“Não estamos a dizer qual é a solução a aplicar. Não é uma solução fechada. Mas pretende-se criar um mecanismo que faça um alerta” para a toma de mais de cinco medicamentos, disse à agência Lusa, lembrando que “os medicamentos têm interacções entre eles”.
Pereira Miguel refere que os profissionais de saúde devem estar alerta para a polimedicação, apercebendo-se de que medicamentos outros especialistas prescreveram aos seus doentes.
A Estratégia Nacional para o Envelhecimento Activo e Saudável propõe ainda que sejam criadas uma espécie de “bandeiras vermelhas” para sinalizar idosos com necessidade especial de acompanhamento, como pessoas que recorrem mais às urgências ou que faltam sistematicamente a consultas ou até com sinais de negligência
Esta medida extravasa a área da saúde e devia envolver as autarquias, a PSP, a GNR, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, entre outras entidades.
O documento que terça-feira é colocado em consulta pública defende ainda a criação de um programa de vigilância da saúde das pessoas idosas.
Neste programa deve ser fomentada a realização de avaliações regulares “com vista à detecção precoce de défices funcionais, défices psíquicos ou doenças crónicas a partir dos 50 anos” e tendo em conta as necessidades particulares de homens e mulheres.
No caso de doentes com várias patologias (comorbilidades) sugere-se a adopção de um plano individual de cuidados, um instrumento de intervenção integrada nos diferentes níveis de cuidados.
A Estratégia para o Envelhecimento Ativo e Saudável define medidas que envolvem vários sectores, da Saúde à Educação e passando pela Solidariedade e Segurança Social. Por isso, Pereira Miguel propõe a criação de uma comissão interministerial que acompanhe e monitorize o que se vai realizando e implementando.
Valorização da população idosa deve estar nos currículos escolares
Outra das medidas propostas é que os programas e metas curriculares das escolas deviam integrar a valorização da população idosa e promover a sua imagem. Ou seja, investir na formação e educação sobre o envelhecimento “em todos os graus de ensino”, tentando combater a discriminação, os estereótipos e promovendo a igualdade.
Para isso, é proposta uma intervenção junto do Ministério da Educação “no sentido de integrar nos programas e metas curriculares a valorização da população idosa e promover a sua imagem”.
A par disto, devem ser promovidos projectos que juntem as várias gerações. O coordenador do grupo de trabalho para a Estratégia do Envelhecimento Activo e Saudável, Pereira Miguel, sublinha que a aprendizagem sobre o envelhecimento não tem de ser toda livresca e que há muitas circunstâncias da vida escolar em que é possível criar espaços de convívio entre gerações.
“Muitas destas acções não precisam de estar estabelecidas”, refere Pereira Miguel, deixando como sugestão que sejam dirigidos convites a professores reformados ou a desportistas mais velhos para irem às escolas conversar com os alunos.
A promoção da boa imagem do envelhecimento, a inclusão dos idosos e o combate aos estereótipos devem estar presentes na aprendizagem ao longo da vida e em todos os ciclos de ensino, defende o responsável.
Aliás, outra das medidas preconizadas prende-se com o desenvolvimento de campanhas que promovam uma “imagem positiva do envelhecimento”.
Ainda ao nível do ensino, sobretudo do superior ou pós-graduado, a Estratégia pretende que se criem condições para incentivar a investigação na área do envelhecimento.
Na área da saúde é sugerido mais investimento na formação básica e especializadas dos profissionais em geriatria e gerontologia, sempre baseada numa “abordagem não discriminatória e de direitos humanos”.
Outra das sugestões é desenvolver acções de formação dirigidas a cuidadores informais, nomeadamente para aprenderem a ajudar a controlar doenças crónicas e a potenciar a autonomia das pessoas idosas.