Pescas, fogos e homens valentes
Estas duas áreas têm isso em comum: não nos falta muita ciência, mas o coração sobrepõe-se à razão.
“Existem três tipos de homens: os vivos, os mortos e os que andam no mar”
Platão
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“Existem três tipos de homens: os vivos, os mortos e os que andam no mar”
Platão
“Os bombeiros nunca morrem. Ardem para sempre nos corações daqueles que salvaram”
Susan Diane Murphree
O que têm as políticas de pescas e florestal em comum? Quem vai ao mar é um herói. Arrisca-se para nos trazer o sustento que só os valentes lá podem ir buscar. Quem vai combater um fogo é um herói. Arrisca-se para nos salvar. A nós e aos nossos bens, ao nosso sustento. Aos heróis perdoamos tudo. Temos uma enorme dificuldade em dizer-lhes que talvez o caminho que seguem não seja o melhor para todos nós e que o debate do seu papel na sociedade a todos compete e que todos beneficiaremos com isso. Temos medo de lhes estar a faltar ao respeito.
Só assim podemos entender que, enquanto sociedade, aceitemos gastar tanto dinheiro em estudos que visam a sustentabilidade das pescas ou uma gestão adequada das florestas, e depois autorizemos tacitamente os governantes que elegemos a fazer tábua rasa desses mesmos estudos nas suas decisões.
Estas duas áreas têm isso em comum: não nos falta muita ciência, mas o coração sobrepõe-se à razão. Não temos coragem de impor o princípio da precaução na gestão dos stocks de pescado quando isso implica redução na pesca, ao mesmo tempo que não temos coragem de impor uma aposta maior na prevenção dos incêndios florestais, mesmo em detrimento do combate. No entanto, tudo nos indica que deveriam ser esses os caminhos.
E isso é uma falta de respeito por nós próprios e pelas gerações futuras. Preferimos ir empurrando com a barriga a nossa responsabilidade. Logo se vê e, desde que ninguém se zangue, isto vai andando.
Esta atitude prejudica, em primeira linha, os nossos heróis: uns porque no futuro terão muito mais dificuldades, outros porque no presente são carne para canhão em fogos incontroláveis nos quais lhes pedimos o impossível.
Quando, finalmente, lhes conseguirmos olhar na cara queimada pelo mar ou pelo calor, e dizer-lhes que não deixam de ser os nossos heróis por apostarmos na sustentabilidade e na prevenção, talvez estejamos em condições de exigir aos nossos representantes que transformem o melhor conhecimento nas melhores políticas. Sem medo de lhes faltar ao respeito, sem medo de nos faltar ao respeito.