SIS também soube do assalto a Tancos pelas notícias, diz chefe das secretas

Além da secretária-geral do Sistema de Segurança Interna, também as secretas souberam do roubo de material de guerra “pela comunicação social”.

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Júlio Pereira está a ser ouvido à porta aberta pela primeira vez Daniel Rocha/Arquivo

O secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) soube do assalto a Tancos pelos Serviços de Informações de Segurança (SIS), mas este serviço tomou conhecimento “pela comunicação social”. A revelação foi feita pelo próprio detentor do cargo, Júlio Pereira, que está a ser ouvido na Comissão de Defesa Nacional.

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O secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) soube do assalto a Tancos pelos Serviços de Informações de Segurança (SIS), mas este serviço tomou conhecimento “pela comunicação social”. A revelação foi feita pelo próprio detentor do cargo, Júlio Pereira, que está a ser ouvido na Comissão de Defesa Nacional.

“Tomei conhecimento através do SIS, que soube pela comunicação social. Penso que a comunicação oficial só aconteceu na reunião da UCAT [Unidade de Coordenação Anti-Terrorismo] que decorreu no dia 30”, afirmou o chefe das secretas, por duas vezes. 

A informação transmitida por Júlio Pereira, que está a ser ouvido à porta aberta pela primeira vez, corrobora a que transmitiu na terça-feira a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna.

Ao longo da audição, questionado várias vezes sobre esta falta de informação dentro do sistema, o responsável explicou que essa descoordenação teria a ver com os vários niveis de segurança: “O material militar é uma questão de segurança material, mas a partir do momento em que desaparecem das instalações militares, passam a ser uma ameaça à segurança interna. Porventura não terá havido imediata atenção desse facto, eventualmente terá agora sido aprendida a lição”.

Júlio Pereira desvaloriza, no entanto, o facto de só se ter tido conhecimento mais de 24 horas depois: “A reunião da UCAT aconteceu no dia 30, aquilo terá acontecido de 28 para 29, parece-me que o tempo em que isso aconteceu não é expressivo”, afirmou. O mais importante é saber para o que poderia ser usado o material roubado.  

A esse respeito, Júlio Pereira diz que todos os cenários estão em aberto. “O mercado de armas dá muito dinheiro, seja para venda a terroristas seja criminalidade organizada. Há um grande mercado para este tipo de material de guerra”, afirmou, ainda que tenha acrescentado que “do ponto de vista interna, estamos convencidos que estará mais associado ao crime organizado”.

A convicção do chefe das secretas é a de que o furto terá sido perpetrado por um grupo de crime organizado, mas isso não significa que não tenha havido colaboração de dentro das Forças Militares: “Os argumentos de que haveria algum grau de cumplicidade interna são razoáveis”, disse.

Sobre a que fim concreto se destinam as armas, é que não há nenhuma suspeita concreta. Os assaltantes “vendem este material de guerra a quem lhe pagar. Podem ir parar a um cenário de conflito em África, no Médio Oriente ou mesmo a uma ameaça terrorista”, afirmou Júlio Pereira.  Mas adianta que os serviços de informações consideram “pouco provável que [as armas] sejam utilizadas contra o território nacional, a grande probabilidade é que seja utilizado pelo crime organizado” noutros países. "Seja como for, é sempre uma situação grave, ser em Portugal ou no estrangeiro é sempre grave”.

“Estamos a falar de armas, são coisas raras, valiosas, os agentes da ameaça vão buscá-las onde as podem encontrar”, disse, depois de recordar outros assaltos do mesmo género ocorridos noutros países – em Israel um mês antes, em Barcelona uns dias antes, mas também em França e noutros locais. Sem que, no entanto, haja “qualquer informação que permita relacionar o assalto a Tancos com estes outros”.

Foi tendo em conta toda a essa avaliação que o SIS, a quem compete determinar o grau de ameaça sobre Portugal, decidiu manter em "moderado" o nível de ameaça do país, que já existia antes do assalto. Júlio Pereira rejeita que isso tenha significado uma desvalorização do assalto: “Desvalorização não houve, efectivamente, este é um assunto grave e houve a preocupação de contactar os parceiros externos. De resto, quando acontece uma situação destas, há sempre uma preocupação, mas ela foi-se dissipando a partir do momento em que fizemos a avaliação da ameaça”, concluiu.