Portugal na Feira Internacional do Livro de Guadalajara com investimento de 2,5 milhões

Dez anos depois da primeira tentativa, Portugal vai ser o país tema da Feira Internacional do Livro de Guadalajara 2018. A assinatura do convénio entre Portugal e o México na manhã desta quarta-feira formalizou a participação.

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Era uma ideia antiga: já em 2006, a ministra da Cultura da época, Isabel Pires de Lima, considerara a possibilidade de Portugal ser país tema da edição de 2008 da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México, sucedendo à Colômbia, que tinha sido o país convidado no ano anterior. Acabou por não acontecer; foi a Itália o país escolhido para a edição de 2008 daquela que é a segunda maior feira do livro do mundo e a maior da América Latina, numa operação que custou aos italianos 3 milhões de euros. Portugal acabou, em 2013, por ser o país convidado de outro certame importante da América Latina, a Feira do Livro de Bogotá (Colômbia), e foi uma aposta ganha. Em 2018, dez anos depois, esse sonho antigo, que passou por vários ministérios e secretarias de Estado da Cultura, parece ir concretizar-se.  

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Era uma ideia antiga: já em 2006, a ministra da Cultura da época, Isabel Pires de Lima, considerara a possibilidade de Portugal ser país tema da edição de 2008 da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México, sucedendo à Colômbia, que tinha sido o país convidado no ano anterior. Acabou por não acontecer; foi a Itália o país escolhido para a edição de 2008 daquela que é a segunda maior feira do livro do mundo e a maior da América Latina, numa operação que custou aos italianos 3 milhões de euros. Portugal acabou, em 2013, por ser o país convidado de outro certame importante da América Latina, a Feira do Livro de Bogotá (Colômbia), e foi uma aposta ganha. Em 2018, dez anos depois, esse sonho antigo, que passou por vários ministérios e secretarias de Estado da Cultura, parece ir concretizar-se.  

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Esta quarta-feira de manhã, na Biblioteca do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, o ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, assinaram um convénio entre Portugal e o México que formaliza a participação de Portugal como país convidado de honra na edição do próximo ano da Feira do Livro de Guadalajara (FIL 2018). Estiveram presentes na sessão o presidente do conselho de administração do evento, Raúl Padilla López, e a sua directora-geral, Marisol Schulz, e também Manuela Júdice, que foi nomeada pelo Governo como comissária da participação de Portugal na FIL 2018, ficando a actual secretária-geral da Casa da América Latina, em Lisboa, responsável pela programação das actividades desta presença portuguesa no México.

No final da cerimónia, Augusto Santos Silva explicou aos jornalistas que a participação de Portugal implicará um investimento de 2,5 milhões de euros, e envolverá vários organismos públicos, mecenato e parcerias privadas. E Castro Mendes adiantou que o programa deverá contar com “espectáculos no grande pavilhão da feira, música, artes performativas, espaço de exposições”, eventos ligados ao turismo e à economia e uma participação científica na Universidade de Guadalajara. Confirmou ainda que, além dos habituais apoios à tradução, está prevista “uma linha especial no orçamento para o apoio à tradução e edição em língua castelhana para editores especificamente na área ibero-americana”. 

O evento, que em 2018 se irá realizar em Novembro, funciona como modelo das feiras de livros que existem em toda a América Latina. Com um milhão de visitantes por ano, chamam-lhe "a Frankfurt da língua espanhola", lembrou o ministro da Cultura, caracterizando-a como o grande mercado de compra e venda de direitos de autor para os países de língua espanhola. José Manuel Cortês, subdiretor-geral da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, conhece-a bem e ao seu caderno de encargos: “É uma feira gigantesca” porque vai para além do sector do livro, explica ao PÚBLICO. “Aquilo que é exigido é uma presença cultural em todas as vertentes. Tem uma componente muito importante de artes plásticas, de património e uma vertente científica ligada à investigação e à universidade. Exige uma grande representação ao nível editorial e literário, tem uma presença importante daquilo a que chamamos a música popular. Enfim, tem todas as vertentes da cultura do país convidado. É por isso uma operação muito complexa e muito difícil de montar”.

Manuela Júdice terá ainda um ano e meio para trabalhar na curadoria. Para já sabe que tem “um plafond orçamental muito apertado em relação a tudo quanto até hoje foi investido na FIL pelos outros países convidados ou cidades convidadas”, como é o caso este ano, em que a honra cabe a Madrid. “É dentro deste crivo que farei o meu trabalho”, disse ao PÚBLICO no final da cerimónia. “Tudo o que for para Guadalajara terá a ver com o texto e com o livro, mas sobretudo com o texto, desde as exposições à música", revelou. "Por outro lado, vou tentar potencializar alguma apetência que o México teve pela literatura portuguesa no tempo de Octavio Paz e de Francisco Cervantes, nomeadamente por Fernando Pessoa”, acrescentou a curadora, que já foi directora da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa. Ambos foram tradutores do poeta português, e a Octavio Paz (1914-1998), Nobel da Literatura em 1990, deve-se ainda o conhecido ensaio Fernando Pessoa, o Desconhecido de Si Mesmo. Manuela Júdice vê agora o mesmo interesse pela literatura portuguesa numa outra geração de escritores mexicanos, entre os quais Marco Antonio Campos, Antonio Deltoro ou Blanca Luz Pulido.

Vários editores portugueses marcaram presença na cerimónia, e todos se mostraram contentes e esperançados com a possibilidade de divulgação dos autores portugueses em língua espanhola e com uma nova oportunidade de negócio. Entre eles, a escritora e editora Maria do Rosário Pedreira, do grupo LeYa, já esteve em Guadalajara a convite da própria feira, em 2013. Nessa altura percebeu que sempre houve o desejo de que Portugal fosse país tema, mas numa altura de crise enorme, argumenta, foi impossível convencer os governantes portugueses a gastar dinheiro que não tinham. 

“É uma feira enorme, mas humana, não como a feira de Frankfurt que é enorme mas desumana", diz a editora. "É muito simpática, com várias coisas a acontecerem ao mesmo tempo em termos culturais: colóquios, debates, exposições." No ano em que lá esteve  a sessão de abertura foi irresistível com Herta Müller, prémio Nobel da Literatura em 2009, e Mario Vargas Llosa, que recebeu o Nobel no ano seguinte.

"Pareceu-me que a América Latina é um mercado em crescimento, ao contrário do que se está a passar na Europa. Sinto todos os dias que o livro aqui está a morrer, lá sinto que está a oportunidade. Ou seja que os países da América Latina são os países do futuro”, acrescentou a editora da LeYa. 

Manuela Júdice lembra que foi feita recentemente uma antologia com nove poetas portugueses no México e que há interesse pelas obras portuguesas naquele país. Em parte por causa da presença de Portugal na Feira do Livro de Bogotá em 2013. "Essa presença foi um marco. Ainda ontem me diziam que desde esse ano de 2013 para cá, nenhum país convidado da Feira do Livro de Bogotá atingiu o mesmo número de vendas de Portugal". Tendo acompanhado a feira de Bogotá, e confessando-se "fascinada com o trabalho que se fez", diz que tem, por isso, "a fasquia muito alta" para esta feira, que dura mais tempo, necessita de equipas maiores e tem uma verba disponível pouco acima daquilo que havia na altura". Mas conclui: "Bogotá mostrou como se pode fazer bem sem muito dinheiro”.