Féerie desmiolada
O Valérian de Luc Besson não tem muito a ver com a BD de Christin e Mézières, mas é uma féerie tão deslumbrante como desmiolada.
Só mesmo Luc Besson, o homem de Lucy (2014) ou Léon – O Profissional (1994), para ir buscar ao sótão Valérian e Laureline, os agentes espácio-temporais criados em 1967 na revista Pilote por Pierre Christin e Jean-Claude Mézières, BD de ficção-científica pouco conhecida fora dos círculos europeus, e transformá-los num novo potencial franchise global.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Só mesmo Luc Besson, o homem de Lucy (2014) ou Léon – O Profissional (1994), para ir buscar ao sótão Valérian e Laureline, os agentes espácio-temporais criados em 1967 na revista Pilote por Pierre Christin e Jean-Claude Mézières, BD de ficção-científica pouco conhecida fora dos círculos europeus, e transformá-los num novo potencial franchise global.
O fascínio de Besson pelo psicadelismo futurista das aventuras da série, que surgiu primeiro entre nós na revista Tintin, já era visível desde O Quinto Elemento (1997) – que ia buscar tanta inspiração visual aos livros de Valérian que faz perguntar porque é que, 20 anos depois de ter vampirizado ao limite a sua imagética, o homem lá quis voltar.
O realizador francês sempre foi um apaixonado da tradição da BD franco-belga (lembremo-nos que já levara ao cinema, em 2010, uma outra criatura da “nona arte”, a Adèle Blanc-Sec de Tardi, em As Múmias do Faraó). Mas O Quinto Elemento estava muito mais próximo do espírito original das BD de Christin e Mézières do que esta adaptação nominal, que pega em elementos e personagens da série para as instalar num universo e numa cronologia diferentes, numa fórmula de space-opera-comédia-romântica claramente decalcada dos Guardiões da Galáxia.
E Besson nunca consegue fazer esquecer que o que está mesmo a tentar fazer é um novo Quinto Elemento, que seja suficientemente genérico para embalar quem não conheça os livros originais mas suficientemente personalizada para marcar a diferença.
O que safa Valérian e a Cidade dos Mil Planetas de ser uma perda de tempo – para além da coolness inescapável de Cara Delevingne e de uma Rihanna magnética que não tem tempo de ecrã que chegue é, precisamente, essa dimensão reciclada de cópia fajuta ou “iPhone da feira do relógio”. Besson quer, sempre quis, fazer cinema popular, entretenimento, espectáculo, encher o olho e divertir o espectador, e é na alegria com que se entrega ao lugar-comum e na maneira como o embrulha que melhor se espraia. Valérian é uma féerie tão deslumbrante como desmiolada, tão divertida como descartável, calorias vazias para refrescar o verão.