Portugal é o cúmulo

Discretos ou espalhafatosos, consensuais ou ensandecidos, andamos há uma semana nestas “cumbersas”. Desengane-se quem pensa que isto vem de agora

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Esta não é uma história igual às outras. Reza a lenda que no dia em que “sodôna” Teresa, viúva latina, resolvidona, com tudo em cima, bateu olho num espanhol gostosão, decidiu que era desta que ia arranjar padrasto para o seu rebento.

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Esta não é uma história igual às outras. Reza a lenda que no dia em que “sodôna” Teresa, viúva latina, resolvidona, com tudo em cima, bateu olho num espanhol gostosão, decidiu que era desta que ia arranjar padrasto para o seu rebento.

Afonso, no auge dos seus 11 anos, fez vista grossa à conversa de mãe-para-filho naquela tarde. Primeiro, ainda estava a digerir o facto ter ficado de castigo por se ter esquecido de escovar o pónei, e agora tinha de levar com aquele real macho cheio de salero na familia. Hashtag medieval #ninguemmerece.

Bandeirolas, sangria e despacito até às quinhentas. Sube! Sube! SUBELO! O pesadelo do tropical urbano, deu-lhe tonturas: “Mas, afinal quem é que esta tipa pensa que é?”. A pergunta levou ao nascimento das “conversas portucalenses” - recentemente re-baptizada “encher chouriços” — uma start-up de escárnio e mal-dizer que se tornou numa das imagens de marca 100% portuguesas.

Melhor que conservar sardinha, soubemos conservar este lado abespinhado, mesquinho e mordaz. Infelizmente nem sempre inteligente e regularmente, — parece-me — simplesmente maldoso. Ah, portugueses! Orgulhosamente mexericando desde 1143.

Andamos há uma semana a espichar o mesmo tema. É o driblar da acusação, o bate-boca, o dar o dito por desdito, o arremessar de comentários ao desbarato. Ô, Ó, Psiu! Chegou escândalo novo ao mercado! Abençoado seja, que somos pouco felizes e contentes se não descascarmos em alguém.

Nós gostamos é disto. O mexerico mixuruca. É-nos terapêutico. E mais, estamos peritos no multitasking da barbaridade: Facebook, comentários nos jornais, petições, vudu cibernáutico. Enfim, tudo o que é preciso para achavascar em grande.

Mas isto tem ciência. Aprendemos depressa a distinguir comentário e opinião. Todo o cuidado é pouco: aqui é fácil ser guilhotinado antes mesmo de abrir a boca. Uma coisa é fazer topless de opinião, partilhar o comentário maroto e tal; outra coisa é fazer nudismo de crenças e dizer o que realmente se pensa.

O encher de chouriços quer-se barrado com ligeireza, embalado com diplomacia, e polvilhado com palavras doces. Que neste espaço pequenino, tudo tem opinião, mas à socapa. Somos todos “muito honestos” mas só se o que vamos dizer estiver de acordo com o que a maioria pensa. Quantas “conversas portucalenses” começam com: “Eu não sou preconceituoso, mas…” ou com “Eu não sou racista, mas…”. Mas afinal, ninguém é nada neste país? Que pauliteiros de bancada!

Andamos um bocado mansos nisto dos valores e muito moles no respeito ao que cada um pensa. Vamos sussurrando umas coisitas, ronronando outras, mas sempre muito a medo. Felizmente estamos quase em Agosto. Está na hora de baixar a bitola e dar à sola. O português vai a banhos, no Instagram (primeiro) e na praia (depois).

Talvez dê para refrescar ideias e ideais. Pegar nas nossas crenças e fazer um “(…) e mexe remexe (…)”, para ver se aquilo em que acreditamos ainda faz sentido, e se se deve — ou não — mudar. Mas depois, é ser-se Afonso. É ter tomates-cereja e ovários de gente honrada e lusitana, e assumir aquilo em que verdadeiramente se acredita, sem falsos paninhos quentes. Afinal, precisamos de tema de conversa para Setembro — ou não?