Câmara de Braga não promete manter interior do cinema S. Geraldo
Quase um ano e meio depois da primeira proposta, polémica, para a requalificação do antigo cinema, o município vai arrendá-lo para o transformar no Media Arts Center.
A Câmara Municipal de Braga vai arrendar o cinema S. Geraldo, depois de vários meses de polémica suscitada pela hipótese de transformação do edifício num mercado urbano. O edifício pertencente à Arquidiocese de Braga vai afinal tornar-se “num espaço de convergência de arte, ciência e tecnologia”, e será, garante a autarquia, “peça essencial” na candidatura de Braga a cidade criativa da UNESCO e a Capital Europeia da Cultura 2027. Mas a preservação do seu interior não está, para já, garantida.
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A Câmara Municipal de Braga vai arrendar o cinema S. Geraldo, depois de vários meses de polémica suscitada pela hipótese de transformação do edifício num mercado urbano. O edifício pertencente à Arquidiocese de Braga vai afinal tornar-se “num espaço de convergência de arte, ciência e tecnologia”, e será, garante a autarquia, “peça essencial” na candidatura de Braga a cidade criativa da UNESCO e a Capital Europeia da Cultura 2027. Mas a preservação do seu interior não está, para já, garantida.
A proposta de arrendamento – e a minuta do respectivo contrato – vai ser votada pela câmara na próxima segunda-feira, e surge quase um ano e meio depois de se ter iniciado, na cidade, um movimento em defesa da manutenção do imóvel, para o qual a Diocese chegou a ter previsto um projecto comercial. Ricardo Rio não se compromete com a manutenção da sala de cinema, uma vez que ela “ está quase destruída”, mas garante que irá trabalhar “com o que tem”. O projecto de reabilitação vai ser desenvolvido pelos serviços do município, explicou ao PÚBLICO o autarca social-democrata, acrescentando não ter decidido, ainda, o modelo de gestão do espaço.
O antigo S. Geraldo não foi a primeira opção do Executivo, que durante meses estudou outras hipóteses, na cidade, para localização do Media Arts Center, equipamento dedicado à criação, à aprendizagem e à exposição de trabalhos multimédia que se articulará com o vizinho Theatro Circo e o GNRation. Depois de estudados vários edifícios da cidade, que também necessitavam de intervenção, a escolha recaiu sobre a antiga sala devido à sua localização, mais do que pelas qualidades do imóvel, cuja conservação o executivo não considerava essencial.
Este arrendamento, que custará ao município 12 500 euros mensais, vem resolver, segundo Rio, outro problema. No ano passado, o executivo assinou um contrato com a Arquidiocese para poder utilizar o prédio adjacente ao S. Geraldo, conhecido como edifício Pé Alado. O objectivo era mudar para ali a sede da união de freguesias de São Lázaro e São João do Souto mas, explicou o autarca, como “o processo do S. Geraldo não pode ser separado do projecto Pé Alado, o espaço destinado à junta estava diminuir, com o primeiro projecto” proposto pela Igreja.
A diocese não está, segundo o autarca, interessada em abrir definitivamente mão do imóvel, para já, mas aceitou que a opção de compra, ao fim de dez anos, ficasse incluída no contrato. A Câmara de Braga não irá pagar renda nos primeiros nove meses, passando a desembolsar metade do valor nos seis meses seguintes, 75% entre Novembro de 2018 e Janeiro de 2019 e só a partir de Fevereiro desse ano vai começar a pagar a totalidade do valor combinado.
O advogado Luís Tarroso Gomes, um dos fundadores do movimento S. Geraldo Cultural, vê o arrendamento como uma vitória para Braga. Depois de “muito barulho”, os cidadãos e organizações envolvidas conseguiram “ impedir a destruição do edifício e esse era um dos objectivos”, nota. Mas o também presidente da associação Velha- a- Branca afirma que falta conhecer a totalidade do projecto, para que se perceba se esta proposta da Câmara respeita o caracter do edifício e envolve a cidade no futuro do antigo cinema.
Para já, fica na gaveta o projecto anterior, apresentado em Fevereiro do ano passado pela Arquidiocese. A proposta, com um custo estimado de 6 milhões de euros, incluía a criação de lojas de artesanato ou moda, vinte restaurantes, um hotel de quatro estrelas, com 35 quartos, e 14 apartamentos T1, destinados a aluguer de curta duração. A primeira sala de cinema de Braga ia reabrir, depois de vinte anos fechada, mas ficaria com pouco mais do que a fachada.
Nem um mês passou para que associações, arquitectos e partidos se opusessem a este projecto que reduzia a quase nada o caracter cultural do imóvel. A plataforma S. Geraldo Cultural promoveu debates públicos, sessões de esclarecimento e levou à Assembleia Municipal de Braga uma petição com 1755 assinaturas contra a iniciativa. Apesar da polémica, a Arquidiocese não parou o projecto, alegando compromissos que não podia desconsiderar, mas teve de recuar quando percebeu que ele não cumpria o regulamento municipal do centro histórico.
Texto editado por Abel Coentrão