Portugal, um país racista?
Portugal é, provavelmente, para não dizer decerto, o país menos racista da Europa.
Há uma nova moda politicamente correta a emergir, de forma cada vez mais ruidosa, no nosso discurso político-mediático: a de considerar Portugal um país racista. Há mesmo políticos de alguns partidos que parecem ter particular gáudio em ecoar tal consideração. Nas suas mentes, Portugal continua a ser um país atrasado, ainda longe do cume civilizacional da Europa, sendo esse alegado “racismo” um dos supostos sintomas do nosso atraso.
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Há uma nova moda politicamente correta a emergir, de forma cada vez mais ruidosa, no nosso discurso político-mediático: a de considerar Portugal um país racista. Há mesmo políticos de alguns partidos que parecem ter particular gáudio em ecoar tal consideração. Nas suas mentes, Portugal continua a ser um país atrasado, ainda longe do cume civilizacional da Europa, sendo esse alegado “racismo” um dos supostos sintomas do nosso atraso.
Esse (cada vez menos) tácito discurso, de tal modo provinciano, não resiste, porém, à crítica. Decerto, Portugal terá alguns atrasos nas mais diversas áreas em relação a outros países europeus. Mas não, de todo, nesta área. Quem conhece minimamente a Europa não poderá senão concordar connosco: Portugal é, provavelmente, para não dizer decerto, o país menos racista da Europa. Defender esta evidência não significa, obviamente, dizer que não há racismo em Portugal. Significa apenas afirmar que, comparando com o que acontece na restante Europa, o racismo em Portugal é bem menor.
Decerto, isso não acontece por razões genéticas. Não há nenhum “gene lusitano” menos propenso ao racismo. O que acontece, muito naturalmente, é que a nossa cultura, tal como se foi sedimentando ao longo dos séculos, desenvolveu essa marca axial: tal como acontece com qualquer outro povo que, não se tendo cingido às suas fronteiras e cristalizado uma qualquer homogeneidade étnico-identitária, se foi habituando, ainda que nem sempre de forma pacífica, a lidar com a alteridade — étnica, linguística, cultural, religiosa, etc.
Apenas um exemplo: há não muitos anos, ocorreu um aceso debate em França sobre a alegada descaracterização da principal selecção de futebol, com um crescente número de atletas vindos do Ultramar. Pois bem: em Portugal, nunca houve um debate público similar e um dos nossos maiores símbolos futebolísticos continua a ser Eusébio. É a nossa própria identidade histórico-cultural que se tornou mestiça, sendo por isso absurdo um debate como o que ocorreu em França. É igualmente por isso que, em Portugal, ao contrário do que acontece em muitos países europeus (bem sabemos que, nalguns casos, com alguns problemas que nós não temos), não há partidos com uma agenda racista com expressão.
Bem sabemos igualmente que por vezes ocorrem incidentes que parecem pôr em causa o panorama que aqui traçámos: como foi o incidente (grave, a nosso ver) ocorrido com a nossa polícia na Cova da Moura. Também não ignoramos que, na Grande Lisboa e noutras áreas metropolitanas do país, persistem bolsas de pobreza com alguns contornos não apenas económico-sociais, mas também étnicos. Todos esses problemas, porém, que existem e não devem ser escamoteados, não podem pôr em causa todo o restante, que não é pouco, até porque pode e deve constituir-se como um dos nossos maiores motivos de orgulho perante os outros países da Europa. Ao menos nesse plano, somos nós o exemplo.