As duas maneiras de perder uma eleição
Passos exigiu aos seus candidatos que respeitassem sete princípios nas próximas autárquicas. O sétimo dá-lhe uma chave para despedir o que escolheu para Loures.
Volta e meia vem-me à memória uma frase que li, aqui no PÚBLICO, citando Manuela Ferreira Leite num célebre e quente Conselho Nacional do PSD. “Há duas maneiras de perder: uma é com honra, outra é sem ela.” Estávamos em 2004 e o contexto era bem mais quente e aceso do que este de pré-autárquicas: Durão Barroso tinha anunciado que rumaria a Bruxelas, indicando Santana Lopes para seu sucessor. A passagem de pasta não foi pacífica no partido, como não foi pacífica no país. Mas aquele Conselho Nacional acabou com a liderança arrumada, salvo erro só com dois ou três votos contra. O PSD escolheu, portanto, a segunda forma.
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Volta e meia vem-me à memória uma frase que li, aqui no PÚBLICO, citando Manuela Ferreira Leite num célebre e quente Conselho Nacional do PSD. “Há duas maneiras de perder: uma é com honra, outra é sem ela.” Estávamos em 2004 e o contexto era bem mais quente e aceso do que este de pré-autárquicas: Durão Barroso tinha anunciado que rumaria a Bruxelas, indicando Santana Lopes para seu sucessor. A passagem de pasta não foi pacífica no partido, como não foi pacífica no país. Mas aquele Conselho Nacional acabou com a liderança arrumada, salvo erro só com dois ou três votos contra. O PSD escolheu, portanto, a segunda forma.
A frase ocorreu-me uma vez mais quando percebi o género de candidato que os sociais-democratas escolheram para Loures. Talvez já tenha percebido: chama-se André Ventura. E anda por aí a dizer coisas extraordinárias: que "a sociedade devia permitir a prisão perpétua dos delinquentes"; que a comunidade cigana goza de “impunidade”; que temos “uma excessiva tolerância com alguns grupos e minorias étnicas”; e até que a lição que ele tira da acusação à PSP na Cova da Moura é que “ninguém estava lá para ver” e que “com isto é que se esquece a falta de meios que a polícia tem”. Está tudo dito, não está?
Não, não está. E tanto não está que, ao fim de umas semanas a aturar um candidato escolhido pelo PSD sabe-se lá com que critério, o CDS começou a pôr-se fora deste filme. Falta o resto, que é o próprio PSD.
E é aqui que nos lembramos de que não há memória de um partido prescindir de um candidato seu. É uma maneira de pensar, mas há outra: é que o ponto de partida do PSD para as eleições autárquicas de Outubro está longe de ser brilhante e basta-lhe recuperar algumas câmaras para poder reclamar, senão uma vitória, pelo menos uma derrota honrosa. Isto para nem falar de Loures, câmara que os sociais-democratas sabem bem que nunca ganharão agora. Na verdade, a escolha até pode ser fácil.
E, se parecer muito difícil despedir um candidato, aqui fica uma pista para Passos Coelho: há dois meses, foi ele mesmo quem fez os escolhidos do partido assinar sete compromissos para as próximas eleições locais. O sétimo chama-se "compromisso com as liberdades", e exige a todos eles que "ofereçam uma visão de autarquia onde qualquer cidadão se sinta em casa”, onde qualquer cidadão tenha a "liberdade de construir um projecto de vida, de constituir família, de professar uma religião, de participar na vida da polis”. Dito isto, fica a sugestão: mandem uma carta ao Ventura. E se ele não perceber, peçam a Ferreira Leite que lhe explique direitinho.