Costa e o PS: hora de afastar fantasmas
António Costa voltou de férias com uma remodelação por resolver — e não teve medo de ir buscar gente ao partido. Fez bem. Agora tem outro fantasma para afastar, no caso Altice/TVI.
O azar da remodelação é o calendário. António Costa não só dispensava uma remodelação em cima das crises de Pedrógão, como tudo faria para evitar a saída de Rocha Andrade a poucos meses do Orçamento. A vida é assim.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O azar da remodelação é o calendário. António Costa não só dispensava uma remodelação em cima das crises de Pedrógão, como tudo faria para evitar a saída de Rocha Andrade a poucos meses do Orçamento. A vida é assim.
Mas o primeiro-ministro resolveu bem o problema. Fez bem em deixar via verde aos ministros para resolverem problemas pendentes (um claramente pessoal no MNE, um outro de falta de perfil na Administração Pública). Mas mostrou, sobretudo, inteligência no recrutamento: foi buscar uma diplomata digna desse nome para as relações com a UE, foi aos antigos quadros da Câmara de Lisboa pedir duas ajudas. E sim, foi também ao PS buscar políticos, sem medo de apostar que os partidos também podem trazer gente valiosa para a governação.
Mas, convém dizer, nesta remodelação não nos contaram ainda tudo: porque é que se muda um secretário de Estado das Florestas de supetão, a meio das negociações parlamentares da reforma que este lançou e um mês depois de Pedrógão? Porque é que as Finanças só agora trocam a secretária de Estado da Administração Pública, quando ainda há poucos meses Mário Centeno mexeu na orgânica do Ministério?
A verdade é que nada disto ajuda ao essencial, que é o próximo Orçamento. Assim como não ajuda ter um secretário de Estado dos Assuntos Fiscais que não domina a área — por promissor que seja no palco político. A menos que seja Costa a decidir tudo (o que dirá muito sobre a centralização deste Governo no seu líder).
Dito isto, anote-se o facto: uma remodelação é sempre um exame à força política de um primeiro-ministro, à sua capacidade de ir buscar gente qualificada. Costa, devemos reconhecer, não se costuma rodear mal. Sabe bem gerir a comunicação. E ainda mostra não ter medo de fantasmas — tão pouco do fantasma do "segurismo" (se preferir, dos seus críticos no PS).
Mas já que falamos de fantasmas socialistas, eis que voltou um outro: a compra da TVI pela Altice não é um problema para o Governo por a empresa estar a mexer com os trabalhadores (isso conta, mas é um problema mais fácil de gerir). É um problema pelo passado, pela tentativa falhada da Ongoing em comprar a mesma televisão, com nítida influência de José Sócrates. O caso deu brado e deixou marcas - a de um PS mestre na comunicação, mas com ímpeto de controlar a televisão. Por isso, esqueça as comunicações que falharam em Pedrógão, tão pouco as comparações com a Cimpor (que nem fazem sentido): o que António Costa vai fazer é mostrar que não tem nada a ver com isto. E pôr-se à margem do negócio.