PCP admite condenar Pyongyang desde que sejam reconhecidas provocações dos EUA

Para além da possibilidade de um texto crítico da acção da Coreia do Norte ser aprovado no Parlamento, Jerónimo de Sousa defendeu ainda a necessidade de estabilidade na Venezuela.

Foto
Jerónimo de Sousa admitiu que “a solução tem de ser política”, num processo de reunificação da Coreia sem violência nem intervenção estrangeira LUSA/MÁRIO CRUZ

O secretário-geral do PCP assumiu esta sexta-feira preocupação com a situação na península coreana, admitindo o voto favorável à condenação das acções bélicas do regime de Pyongyang, desde que sejam reconhecidas provocações dos Estados Unidos da América na região.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O secretário-geral do PCP assumiu esta sexta-feira preocupação com a situação na península coreana, admitindo o voto favorável à condenação das acções bélicas do regime de Pyongyang, desde que sejam reconhecidas provocações dos Estados Unidos da América na região.

Em entrevista à agência Lusa, que será publicada no domingo, Jerónimo de Sousa defendeu ainda a necessidade de estabilidade na Venezuela, até para bem da comunidade portuguesa, reiterando solidariedade com a Revolução Bolivariana, embora recordando que o partido maioritário daquele Governo é filiado na Internacional Socialista.

"Desde que seja um voto que não isole essa questão, mas o faça num enquadramento fronteiriço, que responsabilize essa força agressiva, permanente, que se deslocou milhares de quilómetros para ali estar, em cima de uma fronteira, para ameaçar com todo o poderio militar...", assentiu, confrontado sobre a possibilidade de um texto crítico da acção da Coreia do Norte vir a ser apreciado no Parlamento português.

O líder comunista declarou que "a solução tem de ser política", num "processo de reunificação da Coreia, sem recurso à violência militar, sem intervenção estrangeira", naquela que seria "a solução ideal naquela zona do planeta", referindo-se à República Popular Democrática da Coreia, resultante da divisão da península entre a União Soviética e os Estados Unidos da América no pós-II Grande Guerra Mundial, regime agora liderado por Kim Jong-un.

"Não estamos a falar de um míssil que a Coreia do Norte lançou, estamos a falar de um país, dos Estados Unidos, que tem capacidade para destruir seis vezes o nosso planeta — essa preocupação eu nunca ouço. Estamos a falar da necessidade da paz, de encontrar soluções políticas. Se esse voto corresponder a este quadro, não teremos dificuldade em tomar essa posição", reconheceu.

Na parte oposta do mapa-mundo, dada a recente polémica na Assembleia da República entre o líder parlamentar do PCP, João Oliveira, e o vice-presidente da bancada democrata-cristã Telmo Correia, sobre um texto relativo à Venezuela, Jerónimo de Sousa afirmou que "não há, no plano ideológico, uma identificação comum — o que não invalida o direito que o povo venezuelano tem de traçar o seu futuro", referindo-se ao Partido Socialista Unido da Venezuela do actual Presidente, Nicolás Maduro.

"O partido que determina a governação está filiado na Internacional Socialista", justificou, reforçando a solidariedade para com o "projecto de emancipação" e de "afirmação da independência, progresso económico e social", numa Venezuela que se "libertou de ser ali uma parte do quintal do imperialismo norte-americano".

Segundo o secretário-geral do PCP, há "uma direita mais radicalizada, que se identifica com esse grande objectivo do imperialismo, o qual não perdoa que os povos da América Latina se libertem do seu jugo... e reage ideologicamente para que a situação se encazine".

"A defesa dos interesses da comunidade portuguesa passa necessariamente por uma situação de estabilidade. Os nossos concidadãos só têm a ganhar com a evolução positiva da situação. Olhando para aquilo que está a acontecer... sem ilibar coisa nenhuma, mas calar todo o processo que envolve boicote de produtos alimentares, ataque ao Supremo Tribunal, violência num hospital ou numa creche... a própria ideologia e comunicação social dominantes transformam a vítima em responsável... Deixem o povo venezuelano decidir o seu próprio futuro", defendeu.

Hugo Chávez, chegado ao poder em 1999, viu a nova constituição venezuelana aprovada. Maduro sucedeu-lhe depois da sua morte em 2013, mas a situação económica e social tem vindo a agravar-se em todo o país, sobretudo em tempos recentes, com crescente contestação por parte da oposição e confrontos violentos nas ruas de Caracas e outras cidades.