Cascais: petição pede jardim em vez de sinagoga. Câmara garante que não é disso que se trata
Câmara de Cascais garante que os planos são para a construção “um centro de aprendizagem judaico”, com biblioteca, centro de investigação e “uma pequena zona de culto”. E que o projecto vai regenerar “toda a área verde envolvente”.
Um grupo de moradores da Costa da Guia, em Cascais, está a contestar a construção de uma sinagoga – “ou de qualquer outro edifício” - num espaço verde na rua dos Vidoeiros. “Não pela sinagoga em si, mas porque os moradores têm demonstrado há vários anos que querem que este terreno continue verde”, afirma Pedro Jordão, porta-voz do movimento SOS Costa da Guia, que lançou uma petição de oposição à obra.
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Um grupo de moradores da Costa da Guia, em Cascais, está a contestar a construção de uma sinagoga – “ou de qualquer outro edifício” - num espaço verde na rua dos Vidoeiros. “Não pela sinagoga em si, mas porque os moradores têm demonstrado há vários anos que querem que este terreno continue verde”, afirma Pedro Jordão, porta-voz do movimento SOS Costa da Guia, que lançou uma petição de oposição à obra.
A autarquia garante que não há planos para a construção de uma sinagoga, mas de “um centro de aprendizagem judaico”. Vai-se chamar Jewish Life and Learning Center (Centro de vida e aprendizagem judaico, em tradução livre) e incluir uma biblioteca, centro de investigação e “uma pequena zona de culto”. A Câmara de Cascais formalizou, em Maio, a cedência de cinco mil metros quadrados para construção do edifício à Associação Chabad Portugal, que ficará responsável pelo centro. O projecto, em fase de conclusão, ainda não é conhecido.
Apesar de referir que o movimento se opõe à “construção de qualquer edifício” neste espaço, Pedro Jordão, advogado de profissão, destaca que construção de uma sinagoga é um motivo de preocupação acrescida para os moradores “por questões de segurança”: “Todas as construções religiosas judaicas, e não só, são consideradas alvo de terrorismo pelo Estado de Israel e têm medidas de segurança reforçadas”. Afirma que os moradores temem que a vigilância perturbe “a tranquilidade e descontracção” da zona e “limite a circulação”.
Antecipando a construção de “grandes muros”, o porta-voz do SOS Costa da Guia afirma que esta construção vai impedir a “fruição do jardim como até agora”. O projecto pressupõe o uso de parte do terreno, que actualmente é um descampado, junto a uma zona verde, com parque infantil. A autarquia rejeita que a construção venha a implicar esse tipo de segurança e diz que o processo foi acompanhado pela associação de moradores, que reconhece como legítima, Guia Verde. O PÚBLICO não conseguiu contactar esta associação até ao fecho da edição.
O SOS Costa da Guia, cuja petição tem mais de 400 assinaturas online e 900 em papel, nega que o movimento tenha alguma motivação contra a religião judaica. “Foi uma posição que deixamos clara na reunião com a Associação Chabad: achamos que devem construir uma sinagoga, mas não naquele local”. Pedro Jordão garante que, na Costa da Guia, não existe outro jardim para usufruto dos moradores.
Moradores oferecem-se para pagar renda
De acordo com o contrato, a Associação Chabad vai pagar uma renda mensal de 744 euros à Câmara de Cascais. “Montante que, se tivesse sido proposto aos moradores, seguramente que estes poderiam pagar” para que o espaço não tivesse construções e fosse ajardinado, lê-se na petição. “Há um consenso generalizado acerca disso”, acrescenta Pedro Jordão, admitindo que o valor poderia ser dividido pelas cerca de 900 pessoas que vivem na zona.
A autarquia destaca, em resposta enviada por email ao PÚBLICO, que o centro “vai ao encontro das necessidades de milhares de cidadãos de judeus que encontraram em Cascais, e em Portugal, a sua casa”. E que serve três objectivos: regenera “toda a área verde envolvente”, “afirma a tolerância e o pluralismo do nosso território” e é um projecto com “futuro para o país, que honra a nossa tradição histórica”.
Para este terreno, foi equacionada a construção de um edifício da igreja católica. O projecto não avançou e o terreno passou, no ano passado, para as mãos do município. Segundo a Câmara de Cascais, recentemente, o espaço “tem servido para estaleiro de obra”.
A Associação Chabad prefere não prestar declarações.