É todo um país que depende das respostas sobre Pedrógão
Entre os nomes indicados por partidos e universidades para a comissão que vai analisar a tragédia de Pedrógão Grande estão alguns dos maiores especialistas nacionais.
Os nomes na comissão técnica independente (CTI) para apuramento e análise dos factos relativos ao incêndio de Pedrógão Grande garantem muito do que tem faltado no problema dos fogos florestais em Portugal: conhecimento.
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Os nomes na comissão técnica independente (CTI) para apuramento e análise dos factos relativos ao incêndio de Pedrógão Grande garantem muito do que tem faltado no problema dos fogos florestais em Portugal: conhecimento.
Paulo Fernandes, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, António Salgueiro, que geriu as equipas do Grupo de Análise e Uso do Fogo, Francisco Castro Rego, do Instituto Superior de Agronomia e ex-director-geral das Florestas, ou Paulo Mateus, que foi subdirector-geral dos Recursos Florestais e que é também especialista em fogo controlado, são alguns deles. A experiência vinda da Catalunha, representada por Marc Castellnou Ribau, onde quem está na floresta no Inverno é quem a defende no Verão, será também importante.
O seu mandato é o de “analisar e avaliar as origens, características e dinâmicas dos incêndios” de 17 e 24 de Junho, algo que terá necessariamente de passar pelo problema do ordenamento florestal, que é, desde sempre, a pedra-de-toque do problema dos fogos. É claro que ainda terão de analisar a actuação de tudo o que tem que ver com a protecção civil, mas o seu contributo será tanto mais importante quanto conseguirem apresentar lições para o futuro. Um futuro em que a prevenção tem de assumir mais protagonismo do que o combate, como tem acontecido até agora.
Com este grupo, parecem estar garantidas várias vertentes num debate que é necessariamente complicado, que exige muita ciência e prescinde de ideias feitas. O combate assente em água e aviões, o papel do eucalipto e do pinheiro-bravo versus espécies autóctones, o despovoamento do interior e a estrutura da propriedade no Norte e centro são questões que tendem a levar ao extremar de posições e sobre as quais é fundamental existir algum consenso.
Para além de toda a experiência e saber que esta comissão garante, e na qual estão presentes alguns dos melhores especialistas nacionais na matéria, conhecer o território, saber quem lá vive, de que actividades depende a sua sobrevivência e como lhes apresentar alternativas de forma a serem bem acolhidas é também crucial. Decisões tomadas nos gabinetes de Lisboa, longe da realidade do terreno, das pessoas, acabam frequentemente em rotundos falhanços.
Exemplo disto é a decisão de combater esta ou aquela espécie e limitar a reforma da floresta a essa questão. Não se quer mais a expansão do eucalipto e proíbe-se. Mas para os poucos que vivem no interior, o eucalipto, ou o pinheiro-bravo, é aquele “dinheiro no banco” para uma aflição, disponível em poucos anos. O que os incentivará a plantar carvalhos, de que apenas beneficiarão os seus netos? Esta é das respostas mais difíceis. Pague-se os serviços que uma floresta autóctone assegura ao ecossistema e consequentemente à sociedade é uma recomendação comum, mas terá o país dinheiro para isso? As celuloses têm-no e, como sugeriu recentemente Henk Feith, gestor florestal na Altri Florestal, poderiam contribuir para o que ele chama “créditos de biodiversidade”, em que as espécies produtivas suportam a gestão das espécies de crescimento lento.
As empresas de pasta e papel já o fazem nas suas propriedades, porque têm de ter bolsas de biodiversidade para poderem pôr o selo da certificação florestal nos seus produtos. Seria possível estender esta prática às zonas do país dominadas pela monocultura, mas também por uma propriedade muitíssimo dividida?
Outra dificuldade é a gestão dos matos. Portugal é um país que pelo seu clima sempre teve e sempre terá fogos, sobretudo num cenário de alterações climáticas. A questão é saber geri-los, impedir que assumam as proporções catastróficas de Pedrógão. É impossível limpar tudo, teria custos económicos incomportáveis e nem sequer é desejável do ponto de vista da biodiversidade. A limpeza terá de ser cirúrgica, assente em conhecimento sobre a evolução e comportamento do fogo. Mas mesmo com essas directrizes, que hoje não são dadas, os pequenos proprietários não têm dinheiro para isso. Novamente, qual a solução? As cabras têm-se revelado preciosas, e ainda asseguram rendimento às populações. Será suficiente?
São muitas as questões. Mas mais do que saber o que correu mal — e muito já se sabe — é evitar repetir as asneiras. Será desta?