Angola estreia-se na lista da UNESCO, Viena entra na do património em perigo
Comissão do Património Mundial reunido em Cracóvia fez 26 novas inscrições, 18 das quais relativas a bens culturais.
Depois do Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, um outro sítio do território lusófono foi também incluído na lista de Património Mundial da UNESCO, no decorrer da 41.ª reunião da comissão da organização, que terminou esta quarta-feira em Cracóvia, na Polónia. O lugar em causa é a cidade secular de Mbanza Kongo, na província do Zaire, no norte de Angola. Situada num planalto com mais de 500 metros de altitude, esta cidade fundada no século XIII foi a capital política e espiritual do Reino do Congo entre os séculos XIV e XIX. A chegada dos portugueses no século XV acrescentou ao palácio real, ao tribunal de costumes, à árvore sagrada e aos lugares de rituais funerários habitações construídas segundo técnicas europeias, que ainda aí permanecem. “Mbanza Kongo ilustra, como nenhum outro lugar na África subsariana, as mudanças profundas que decorreram da introdução do cristianismo e da chegada dos portugueses à África Central”, diz a comissão da UNESCO a justificar a classificação deste sítio histórico, que assim se torna o primeiro de Angola a entrar na lista do Património Mundial – e que já se encontrava classificado como património cultural nacional desde 2013.
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Depois do Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, um outro sítio do território lusófono foi também incluído na lista de Património Mundial da UNESCO, no decorrer da 41.ª reunião da comissão da organização, que terminou esta quarta-feira em Cracóvia, na Polónia. O lugar em causa é a cidade secular de Mbanza Kongo, na província do Zaire, no norte de Angola. Situada num planalto com mais de 500 metros de altitude, esta cidade fundada no século XIII foi a capital política e espiritual do Reino do Congo entre os séculos XIV e XIX. A chegada dos portugueses no século XV acrescentou ao palácio real, ao tribunal de costumes, à árvore sagrada e aos lugares de rituais funerários habitações construídas segundo técnicas europeias, que ainda aí permanecem. “Mbanza Kongo ilustra, como nenhum outro lugar na África subsariana, as mudanças profundas que decorreram da introdução do cristianismo e da chegada dos portugueses à África Central”, diz a comissão da UNESCO a justificar a classificação deste sítio histórico, que assim se torna o primeiro de Angola a entrar na lista do Património Mundial – e que já se encontrava classificado como património cultural nacional desde 2013.
Mbanza Kongo é uma das 25 novas inscrições feitas pela comissão da UNESCO no decorrer do encontro em Cracóvia – cujo centro histórico está também já classificado como Património Mundial desde 1978 –, iniciado no passado dia 2 de Julho.
Mas algo surpreendente foi a inclusão do centro histórico de Viena, Património Mundial desde 2001, na lista dos sítios em perigo – a que a UNESCO acrescentou também, no passado dia 7, a classificação da Cidade Velha de Hebron, numa decisão que ganhou imediata relevância política, e enfureceu os responsáveis de Irsael.
O organismo da ONU justificou o alerta relativamente à capital austríaca com os projectos de construção em altura no seu centro histórico. E cita especificamente o complexo Clube de Patinagem-Hotel Intercontinental-Sala de Concertos, considerando que ele ignora as decisões anteriores do comité da UNESCO e terá “um impacto negativo sobre o valor universal excepcional” do sítio.
Depois de analisar as mais de três dezenas de candidaturas presentes, a Comissão do Património Mundial decidiu pela entrada de 18 novos lugares de relevância cultural na lista da UNESCO.
Além dos já citados Cais do Valongo (Brasil), Mbanza Kongo (Angola) e Hebron (Palestina), esses lugares são os seguintes: o sítio arqueológico e a pedreira de mármore de Afrodisias, que inclui um templo de Afrodite, do século III, no sudoeste da Turquia; a cidade militar de Asmara, na Eritreia, apresentada como “uma cidade modernista” e um “testemunho excepcional do urbanismo do início do século XX”; a Catedral e o Mosteiro da Assunção, na cidade-ilha de Sviajsk, na Rota da Seda do rio Volga, na Rússia – uma cidade fundada por Ivan, o Terrível, em meados do século XVI; a arte rupestre das grutas do Jura, no sul da Alemanha, datadas de entre 33.000 a 43.000 anos; a paisagem agrícola sub-ártica de Kujataa no sul da região da Gorenland, na Dinamarca, com testemunhos da cultura paleo-esquimó; a ilha de Kulangsu, entreposto comercial no sul da China, especialmente desenvolvido entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX; a estação arqueológica de Sambor Prei Kuk, “um templo no interior de uma floresta luxuriante”, na classificação khmer, que prosperou nos séculos VI e VII, no Camboja; a região montanhosa de Lake District, no centro da Inglaterra, com as suas paisagens pastoris; a rede de minas de chumbo, prata e zinco de Tarnowskie Góry, na Polónia, com o seu sofisticado sistema de irrigação hidráulica; as fortificações construídas para a defesa militar da República de Veneza, com mais de mil quilómetros de muros entre a costa da Lombardia, em Itália, e a costa adriática, na Croácia e em Montenegro; a paisagem cultural de Khomani, na África do Sul, na fronteira com o Botswana e a Namíbia, com vestígios de ocupação humana desde a Idade da Pedra; o sítio de Taputapuãtea, na ilha de Raiatea, na Polinésia Francesa, marcado por vales arborizados, lagoas e recifes de corais; a cidade história de Yazd, no planalto central do Irão, entreposto da rota da seda e das especiarias, que mantém o seu recorte histórico; a cidade fortificada de Ahmedabad, na Índia, fundada no século XV, que mantém também ainda o seu património arquitectónico tradicional; e a ilha sagrada de Okinoshima e os sítios de Munakata, no Japão, onde permanecem intactos testemunhos de rituais praticados entre os séculos IV e IX.
O comité da UNESCO acrescentou à lista dos bens naturais o Parque Nacional de Los Alerces, nos Andes argentinos, fazendo fronteira com o Chile; a paisagem de Dauria, na Mongólia (Rússia), uma região de montanhas e estepes com 4500 metros de altitude, vizinha do planalto de Qinhai-Tibete; e, finalmente, no extremo-norte deste mesmo sistema montanhoso, a paisagem de Qinghai Hoh Xil, na China.
Foram ainda determinadas alterações nos limites de bens culturais já anteriormente classificados. São os casos dos complexos arquitectónicos da Bauhaus, com a assinatura de Walter Gropius (1883-1969), nas cidades alemãs de Weimar, Dessau e Bernau, a que se acrescentaram agora edifícios projectados por Hannes Meyer, “herdeiro” daquele arquitecto. Foi aumentada a área de classificação do Mosteiro de Ghélati, templo ortodoxo medieval na Geórgia. E o centro histórico de Estrasburgo, em França, para além da chamada Grande-Ile, passou a incluir também a cidade nova (Neustadt), construída sob a administração alemã entre 1871 e 1918.
Na categoria dos sítios naturais, foi igualmente amplificado o perímetro do Complexo W-Arly-Pendjari, um parque transnacional (Burkina Faso, Benin e Níger) que, entre outro património, acolhe a maior população de elefantes da África Ocidental. E ainda a superfície da Floresta de Faias dos Cárpatos (Eslováquia e Ucrânia) e da Alemanha, bem como de lugares dominados por esta espécie florestal noutros países da Europa: Albânia, Áustria, Bélgica, Bulgária, Croácia, Eslovénia, Espanha, Itália, Polónia e Roménia.