Dois generais demitem-se por divergências com o chefe do Estado-Maior do Exército

Depois do comandante do Pessoal do Exército, também o comandante das Forças Terrestres se prepara para pedir exoneração de funções. O caso de Tancos foi a gota de água, disseram ao Expresso.

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Reuters/RAFAEL MARCHANTE

Depois do general José Antunes Calçada, comandante de Pessoal do Exército, também o comandante operacional das Forças Terrestres, o general Faria Menezes, anunciou a sua demissão. As duas notícias foram avançadas pelo Expresso, ao qual os responsáveis fazem críticas à forma como o chefe de Estado Maior do Exército (CEME), Rovisco Duarte, tem gerido o caso do roubo de armas de Tancos.

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Depois do general José Antunes Calçada, comandante de Pessoal do Exército, também o comandante operacional das Forças Terrestres, o general Faria Menezes, anunciou a sua demissão. As duas notícias foram avançadas pelo Expresso, ao qual os responsáveis fazem críticas à forma como o chefe de Estado Maior do Exército (CEME), Rovisco Duarte, tem gerido o caso do roubo de armas de Tancos.

Na sexta-feira, Antunes Calçada apresentou um pedido de exoneração de funções por discordâncias que se foram acumulando ao longo dos últimos meses e em que o caso de Tancos foi a gota de água. Ao Expresso, alegou "divergências inultrapassáveis" com o CEME. 

Para o general, a forma como o Rovisco Duarte decidiu exonerar cinco comandantes por causa do furto de armamento em Tancos foi "inqualificável" e garante que "nunca pretendeu" ser promovido a vice-CEME, lugar que Rovisco Duarte já tinha feito saber que não viria a ser ocupado pelo comandante de Pessoal. 

Já Faria Menezes adianta que vai apresentar a sua demissão na próxima segunda-feira, por considerar que Rovisco Duarte "quebrou o vínculo sagrado entre comandante e subordinados". 

Tal como Antunes Calçada, também Faria Menezes ficou indignado pela forma como o CEME "demitiu na praça pública e em horário nobre os cinco coronéis responsáveis pelas rondas nos paióis de Tancos", escreve o Expresso. “Com a exoneração dos cinco comandantes houve uma quebra do vínculo sagrado entre comandantes e subordinados. Por respeito aos princípios e valores que perfilho, vejo-me obrigado a pedir a exoneração como comandante das Forças Terrestres”, afirmou o general. 

O Exército emitiu entretanto um comunicado informando que "o senhor tenente-general Antunes Calçada apresentou declaração de passagem à situação de reserva, a qual foi aceite pelo general chefe do Estado-Maior do Exército".

"A fim de assegurar a manutenção da cadeia de comando", o comunicado do Exército acrescenta que o cargo de comandante do Pessoal será assumido pelo vice-chefe do Estado-Maior do Exército, Tenente-General Rodrigues da Costa, em acumulação de funções.

Na sua página do Facebook, José Antunes Calçada escreve este sábado um poema de despedida, dedicado especialmente ao Agrupamento Bravo, a primeira unidade do Exército português em operações no Kosovo, a qual comandou entre Maio de 1999 e Fevereiro de 2000.

Na mesma rede social, já recebeu mensagens de apoio de outros oficiais, como o tenente-coronel Pedro Tinoco de Faria: "Toda a felicidade do Mundo para si meu Comandante, obrigado por ter estado ao lado dos Oficiais, Sargentos e Praças dos Comandos, Indiciados por Crime, por ter estado ao lado do Coronéis exonerados, e por ter chorado no Funeral do nosso camarada morto no Mali".

Mal-estar nas Forças Armadas

As duas demissões foram conhecidas uma semana depois de o CEME ter anunciado as exonerações dos cinco comandantes e já depois de ter sido ouvido no Parlamento sobre Tancos, onde afirmou que se sentiu "humilhado" e falou de "erros inadmissíveis" do comando da base.

O responsável explicou que a exoneração de cinco comandantes serviu para abanar o sistema e considerou que era mesmo necessário que os visados não permanecessem nas unidades. Com o argumento de não perturbarem as investigações, foram exonerados, ainda que temporariamente, o comandante da Unidade de Apoio da Brigada de Reacção Rápida, o comandante do Regimento de Infantaria 15, o comandante do Regimento de Paraquedistas, o comandante do Regimento de Engenharia 1 e o comandante da Unidade de Apoios Geral do Material do Exército.

No dia em que Rovisco Duarte foi ouvido no Parlamento, acumulavam-se já sinais de mal-estar dentro das Forças Armadas com a gestão política do dossier Tancos. A Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) emitiu um comunicado nesse dia a salientar que "a situação exige a inequívoca assunção de responsabilidades pela tutela ou, em alternativa, a ponderação na continuidade do exercício do cargo.”

Os oficiais consideram “que a situação é o reflexo do estado de elevado grau de degradação das infra-estruturas e meios afectos às Forças Armadas, da já crónica falta de pessoal para o serviço e da degradação dos direitos dos militares, tudo tendo por causa as opções políticas de sucessivos Governos, iniciadas há décadas, revestindo-se de particular saliência as questões estatutárias e orçamentais”.

Outras duas acções avolumaram a pressão sobre o executivo e sobre Belém, centradas sobretudo no desinvestimento das Forças Armadas: um grupo de oficiais enviou uma carta para o Presidente da República pedindo a sua intervenção; e a Associação Nacional de Sargentos convocou uma vigília para a porta da residência do primeiro-ministro para quarta-feira, dia do debate do Estado da Nação no Parlamento.

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