Plantas dos Descobrimentos protagonizam exposição na Estufa Fria de Lisboa
Há 25 anos, José Mendes Ferrão, engenheiro agrónomo agora de 89 anos, publicou um livro sobre a aventura das plantas nos Descobrimentos. É esta obra que inspira uma exposição onde se pode ver desde a mandioca até à bananeira.
As Plantas na Primeira Globalização é o nome de uma exposição itinerante que nos permite navegar até ao período dos Descobrimentos. Inaugurada em 2007 no ex-Instituto de Investigação Científica Tropical, andou por Portugal, mas também por destinos internacionais como Moçambique, Cabo Verde, Itália, Tailândia ou China. Agora, na Estufa Fria de Lisboa, traz novidades e no dia da inauguração, na quinta-feira ao final da tarde, pôde contar com o autor do livro que a inspirou, o engenheiro agrónomo José Mendes Ferrão. Num diálogo entre história e agronomia, as plantas do período dos Descobrimentos permitiram-lhe aprofundar a relação entre a Europa, a América, África e o Oriente.
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As Plantas na Primeira Globalização é o nome de uma exposição itinerante que nos permite navegar até ao período dos Descobrimentos. Inaugurada em 2007 no ex-Instituto de Investigação Científica Tropical, andou por Portugal, mas também por destinos internacionais como Moçambique, Cabo Verde, Itália, Tailândia ou China. Agora, na Estufa Fria de Lisboa, traz novidades e no dia da inauguração, na quinta-feira ao final da tarde, pôde contar com o autor do livro que a inspirou, o engenheiro agrónomo José Mendes Ferrão. Num diálogo entre história e agronomia, as plantas do período dos Descobrimentos permitiram-lhe aprofundar a relação entre a Europa, a América, África e o Oriente.
A obra A Aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses, publicada em 1992 e que serviu de base à exposição, foi fruto da curiosidade de José Mendes Ferrão enquanto leccionava sobre o café no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa. “Para que os alunos ficassem com uma noção global da planta, era preciso saber de onde era, as variedades existentes, quem a produzia e quem a consumia e eu, num ‘trabalho de chinês’, deparei-me com imprecisões e erros relativamente à origem.” A pergunta que colocou foi: “Então, o que andaram os portugueses a fazer durante os Descobrimentos?” E foi percebendo que ainda havia muita história por contar sobre o papel internacional dos portugueses no domínio agrícola. Trocas que tiveram reflexo nas economias e também em hábitos alimentares de várias populações.
“Durante os Descobrimentos, em África vivia-se, sobretudo, do gado, e as pessoas deslocavam-se em função da disponibilidade de alimento e de água”, conta José Mendes Ferrão. Assim, sem sedentarização, não havia agricultura e, por isso, “o que comiam eram apenas plantas silvestres”. No continente africano, a alimentação sempre sempre se ajustou mais ao meio ambiente do que vice-versa – “há períodos em que comem imenso e outros em que passam uma fome de rabo” devido à falta de infra-estruturas que conservem os alimentos. E acrescenta que a aposta em culturas de frutos secos não é mais do que um reflexo deste cenário.
O curioso foi como as plantas que os portugueses encontraram no Brasil – com uma agricultura com mais de três mil anos – “tiveram um interesse extraordinário para o continente africano”. Entre elas destaca-se a batata-doce e a mandioca, que se tornaram mais-valias por serem fáceis de cultivar, extremamente alimentícias e produzirem mais do que o trigo ou o milho.
Apesar do fraco desenvolvimento agrícola de África, José Mendes Ferrão não esquece a importância do património de plantas silvestres que este continente possui, porque “têm de um valor internacional enorme”. “Está ali um arquivo maravilhoso de genes por conhecer e investigar e é pena que seja, várias vezes, ameaçado pelos países ricos, que simplesmente roubam.”
Aos 89 anos, conserva o gosto pela leitura e, enquanto a sedentarização é condição indispensável para a prática agrícola, nunca foi pré-requisito da vida do professor catedrático que ultrapassou os 400 artigos científicos publicados e escreveu mais de 20 livros. “Ainda hoje, já jubilado, podem perguntar à minha esposa se não tenho, todos os dias, um novo livro de plantas na minha mesa-de-cabeceira”, começa por dizer na abertura da exposição.
Porém, o saber teórico não se fez “sem bota grossa e calças de ganga”. Entre as várias memórias académicas que guarda, há uma frase de um professor que não se esquece – “a ciência entra pela cabeça, mas também pela ponta dos dedos” – e sublinha que não há nada na agricultura que não tenha feito com as suas “mãozinhas”. Diz gostar de todas as plantas, mas tem “uma paixão” especial por aquelas com que trabalhou mais, o cacaueiro e a bananeira. “Integrei um grupo de trabalho de produção de bananas em Angola. Produzimos mil toneladas em 1965 e, em 1972, já se produziam 90 mil.”
Apesar de reconhecer que as gerações mais novas de cientistas estão muito mais bem preparadas, lamenta o facto de haver cada vez menos tempo para parar e pensar: “Hoje falta a análise, ter tempo para confrontar o diferente e saber distinguir o bom do mau.”
As Plantas na Primeira Globalização está aberta ao público até 17 de Setembro e é gratuita todos os domingos de manhã. A visita desdobra-se dentro e fora de portas. Dentro, porque a exposição bilingue (português e inglês) está no Centro de Interpretação da estufa. Fora, porque pode partir à descoberta de algumas das plantas vivas evocadas no livro in situ.
Texto editado por Teresa Firmino