Costa admite falhas no SIRESP, mas fala também em "falhas de menor relevância"
António Costa mantém a confiança na ministra da Administração Interna. O primeiro-ministro admite falhas nas comunicações, mas relativiza parte dessas falhas por terem ocorrido mais longe dos locais onde se registaram mortes e mais tarde.
As falhas nas comunicações entre os operacionais continuam a levantar dúvidas sobre o impacto que tiveram na tragédia de Pedrógão Grande. Em resposta ao Parlamento, o primeiro-ministro António Costa admite que houve falhas na zona do incêndio no período crítico, sobretudo em Pedrógão, mas relativiza o impacto dos problemas verificados em quatro estações do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP) por se encontrarem mais longe das zonas onde houve mortes ou por terem falhado mais tarde. Foram, segundo as palavras usadas nas respostas do primeiro-ministro às 25 questões colocadas pelo CDS-PP nos dias seguintes à tragédia, “falhas de menor relevância, considerando a área e o horário em que ocorreram”.
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As falhas nas comunicações entre os operacionais continuam a levantar dúvidas sobre o impacto que tiveram na tragédia de Pedrógão Grande. Em resposta ao Parlamento, o primeiro-ministro António Costa admite que houve falhas na zona do incêndio no período crítico, sobretudo em Pedrógão, mas relativiza o impacto dos problemas verificados em quatro estações do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP) por se encontrarem mais longe das zonas onde houve mortes ou por terem falhado mais tarde. Foram, segundo as palavras usadas nas respostas do primeiro-ministro às 25 questões colocadas pelo CDS-PP nos dias seguintes à tragédia, “falhas de menor relevância, considerando a área e o horário em que ocorreram”.
No período crítico do incêndio de Pedrógão Grande (entre as 19h e as 23h) houve quatro estações que falharam, ficando apenas operacionais na zona duas estações: a de Figueiró dos Vinhos (a quinta a falhar e a entrar em "modo local" às 3h53 da manhã) e a de Castanheira de Pera. Olhando para estes dados, o gabinete do primeiro-ministro diz, citando em parte as respostas dadas pela empresa que gere o SIRESP, que a partir das 19h38 (hora a que falhou a primeira estação, a de Pedrógão Grande) "apenas os terminais afiliados na estação base de Pedrógão Grande conseguiram falar com o Posto de Comando via rede SIRESP" e que essa dificuldade de comunicação "aconteceu para as restantes quatro estações base (...), sendo estas falhas de menor relevância, considerando a área [as estações de Malhadas, Pampilhosa da Serra e Serra da Lousã] e o horário em que ocorreram [Figueiró dos Vinhos]".
Referindo-se às outras três estações que estavam em baixo no período crítico, o gabiente do primeiro-ministro diz que se “localizam em áreas mais distantes do incêndio e onde não se verificaram vítimas mortais”.
Esta é a interpretação dada pelo gabinete do primeiro-ministro, que recusa a interpretação de que António Costa relativizou as falhas no SIRESP nas respostas que deu ao Parlamento.
Pelo localização das estações do SIRESP, há no entanto outro dado relevante além da passagem de estações para "modo local" e prende-se com a saturação das antenas mais próximas (Figueiró e Serra do Cabeço do Pião, em Castanheira de Pera) que no período crítico estariam 100% operacionais. Não é, porém, abordada em detalhe a saturação dessas estações que permitiram uma comunicação mais abrangente (não apenas entre rádio afiliados em cada estação).
Tal como o PÚBLICO tinha noticiado, um quarto das chamadas que passaram pela estação de Castanheira de Pera, na Serra do Cabeço do Pião, fracassaram no primeiro contacto no período entre as 19h e as 9h da manhã do dia seguinte, não se conhecendo qual a percentagem de chamadas que falharam no período mais relevante até às 23 horas. E na estação de Figueiró dos Vinhos, pelos dados do SIRESP, essa percentagem de falhas foi de 10,6% (até às 3h53 da manhã) o que significou no total um conjunto de quase oito mil comunicações entre as autoridades que na primeira tentativa de contacto falharam. Os dados detalhados não são abordados nas respostas do primeiro-ministro nem constavam do relatório do SIRESP.
Elevação do alerta teria possibilitado outra prontidão
Já sobre a actuação das autoridades, o primeiro-ministro informa que a Protecção Civil esclareceu que o facto de o Instituto do Mar e da Atmosfera (IPMA) ter colocado a zona de Pedrógão Grande em alerta laranja "não determina um estado de alerta especial" para a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC). A zona de Leiria estava em alerta amarelo, mas isso, explicou a ANPC, não obrigava a que as populações fossem avisadas. A Protecção Civil admite, contudo, que "a elevação do nível de alerta teria conduzido a um maior nível de prontidão do dispositivo" de combate ao fogo.
Estas respostas chegam numa altura em que a oposição pede a demissão da ministra da Administração Interna e em que António Costa está de férias em Espanha, a confirmação da confiança política em Constança Urbano de Sousa chegou por escrito. "Cumpre-me informar que o senhor primeiro-ministro reafirma manter a confiança política na senhora ministra da Administração Interna", lê-se nas respostas do gabinete de Costa.
NOTA: O PÚBLICO fez um primeiro texto sobre este assunto com uma interpretação diferente daquela que o Governo diz ser a sua. Admitindo que possa haver uma falha na interpretação, é escrito este novo texto, com informações mais detalhadas sobre as falhas no SIRESP e com a interpretação do gabinete do primeiro-ministro.