Já não cabe mais ninguém no NOS Alive
Não é possível crescer mais. Lotação esgotada. 55 mil espectadores por dia no festival Nos Alive que começa esta quinta-feira, com The Weeknd ou The xx, e termina no sábado com Depeche Mode.
Há dois dias ainda se estendiam alcatifas verdes e erguiam-se as últimas estruturas, mas esta quinta-feira, pelas 17h, estará tudo pronto para a 11.ª edição do festival NOS Alive, que acontece no Passeio Marítimo de Algés, em Oeiras. O modelo do evento tem-se revelado de sucesso nos últimos anos. No ano passado, a lotação prevista para o recinto (55 mil espectadores) esgotou nos três dias — para dois deles, os bilhetes foram vendidos em antecipação, e para o terceiro, esgotaram no próprio dia.
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Há dois dias ainda se estendiam alcatifas verdes e erguiam-se as últimas estruturas, mas esta quinta-feira, pelas 17h, estará tudo pronto para a 11.ª edição do festival NOS Alive, que acontece no Passeio Marítimo de Algés, em Oeiras. O modelo do evento tem-se revelado de sucesso nos últimos anos. No ano passado, a lotação prevista para o recinto (55 mil espectadores) esgotou nos três dias — para dois deles, os bilhetes foram vendidos em antecipação, e para o terceiro, esgotaram no próprio dia.
Pela primeira vez, nesta edição de 2017, os bilhetes para os três dias esgotaram antecipadamente. De tal forma que já foram anunciadas as datas para a edição de 2018 — de 12 a 14 de Julho. O festival, que tem este ano um orçamento de 8,5 milhões de euros, atingiu o pico. Só se o recinto fosse alargado (situado entre o rio Tejo e a linha de caminho-de-ferro, é pouco provável) ou fosse deslocado para uma área maior é que seria possível pensar em albergar mais gente. Mas isso, segundo Álvaro Covões, o director da Everything Is New, a entidade organizadora, não está nos seus planos. “Sucesso não é crescer, sucesso é ter a lotação esgotada”, afirma. “Existe a tendência para se pensar sempre em termos de crescimento. Não. Os projectos são feitos para terem uma lotação. A partir daí, o objectivo é encher. E é nisso que estamos concentrados. O festival foi pensado para competir com os grandes [festivais] europeus em termos de cartaz, atraindo público para além do português, e é isso que nos move.”
Além de sete palcos, entre os quais um coreto e um lugar dedicado à comédia, o espaço possui zonas de restauração, casas de banho e outras zonas para profissionais ou patrocinadores. O ano passado, com a lotação esgotada, sentiram-se alguns momentos de saturação no espaço, com reflexos na mobilidade e na transição entre o palco principal e os restantes, quando os nomes mais sonantes acabavam as suas prestações.
A situação tem sido equacionada pela organização — um dos pontos de fuga possível nessas circunstâncias e que é pouco utilizado é a circulação entre palcos fazer-se pela chamada rua da EDP —, embora exista o reconhecimento de que o fluxo da assistência, em algumas fases, é problemático. “A capacidade é calculada em função do máximo de pessoas que o palco maior pode ter, por isso se toda a gente quiser ir ao mesmo tempo para o palco 2 ou 3 haverá inevitavelmente problemas”, reflecte Álvaro Covões. “Não existem espaços perfeitos ao ar livre para fazer estes eventos, só se forem desenhados de raiz, e não existe ninguém neste país que o faça, mas melhoramos e enquadramos alternativas.”
Outra situação que tem levantado problemas é à saída, principalmente para quem deseja passar a linha de caminho-ferro para Algés. Em alturas de grande congestionamento, a opção tem sido encerrar o túnel que conecta com Algés (só ficando acessível a pessoas de mobilidade condicionada), encerrar a circulação de carros pelo viaduto da CRIL e fazer com que o público percorra esse trajecto. “A massa humana que sai daqui por noite não é compatível com um túnel pequeno”, explica Álvaro Covões, “daí que nós, em conjunto com a protecção civil, polícia e bombeiros, decidamos em que momentos da noite o mesmo deve ser encerrado, encaminhando as pessoas pelos percursos alternativos.”
Um “acãompamento”
Este ano, mais uma vez, um grande número de bilhetes foi vendido no estrangeiro, cerca de 22 mil, mais de metade deles adquiridos no Reino Unido, o que justifica que alguns dos nomes do cartaz tenham sido pensados com essa especificidade em mente. O cartel, aliás, acaba por ser a grande novidade todos os anos, segundo Álvaro Covões. “Este ano vamos ter um ‘acãompamento’ para cães, e temos uma parceria com o festival espanhol Mad Cool, com o qual vendemos bilhetes conjuntos porque partilhamos os Foo Fighters, mas o cartaz é que é a força motriz. Essa é que é sempre a novidade, todos os anos, para lá de tudo o resto.”
Esta quinta-feira, as atenções estarão concentradas nos ingleses The xx e no canadiano The Weeknd. Os primeiros têm sido assíduos dos palcos portugueses, vindo desta vez apresentar o seu terceiro álbum, I See You (2017), um registo mais luminoso do que os anteriores, onde o trio volta a apostar na concepção espacial, nos ambientes monocromáticos, no jogo entre dinamismo rítmico e vozes introvertidas, mas onde é tudo mais expansivo.
O canadiano Abel Tesfaye, ou seja The Weeknd, já tinha estado em Portugal, no NOS Primavera Sound do Porto de 2012, mas nessa altura ainda não era a celebridade que é hoje. Será com esse estatuto, e com as canções do álbum Starboy (2016), que tentará mostrar que é mais do que o criador de R&B electrónico e obscurecido dos tempos iniciais.
Em Março, vimo-lo num espectáculo grandioso em nome próprio, certamente diferente do que irá apresentar agora, mas ainda assim é fácil prognosticar que sairá triunfador de um concerto que se prevê muito dinâmico, alternando entre baladas digitalizadas R&B e batidas pop-funk-house.
Os franceses Phoenix, com as suas canções rock radiantes de sensibilidade melódica e balanço físico, e os ingleses Alt-J, com o cruzamento de tipologias do seu último álbum, Relaxer (2017), entre a folk, rock, electrónicas e psicadelismos, numa toada ritualista, serão outros nomes em evidência. Para momentos de electrónica emocional haverá de contar com os canadianos Rhye ou com o projecto inglês Bonobo, da mesma forma que quem quiser ouvir rock & roll terá nos ingleses Royal Blood e no canadiano Ryan Adams, embora este com pendor folk, boas opções. Para sonoridades dançantes, os portugueses Batida, Riot e Karlon ou a canadiana Jezzy Lanza constituem escolhas. Para conexões fadistas haverá que passar pelo espaço onde estarão Miguel Araújo e Mário Pacheco.
Sexta-feira, quem manda é o rock, com os americanos Foo Fighters de Dave Grohl, e mais de vinte anos de carreira, em grande evidência. Neste quadro, os veteranos Cult do inglês Ian Astbury e os transatlânticos The Kills não terão vida facilitada e tentarão ser mais do que bandas de aquecimento, o que é provável que venha a suceder, pelo número de admiradores que têm por aqui. Para visões mais alternativas do rock haverá de contar com os americanos Local Natives ou os ingleses Wild Beasts, embora a admiração se possa desenhar no feminino com duas excelentes formações: as americanas Warpaint e as inglesas Savages.
No sábado, os Depeche Mode tenderão a ensombrar tudo o resto. A par dos U2, são a última banda de massas da sua geração, mas continuam a desafiar-se. Lançaram este ano o 14.º álbum de estúdio, Spirit, talvez o seu mais politizado de sempre, mas já se sabe que será um concerto transgeracional para passar em revista muitos anos de sucessos, com a dupla Dave Gahan e Martin Gore, como é hábito, a concentrar as atenções, enquanto Andy Fletcher se manterá mais discreto. Também com álbum novo estão os americanos Fleet Foxes. Em 2011, no mesmo palco onde voltarão a actuar, arrancaram um excelente concerto, súmula de folk e rock ou de barroquismo e bucolismo, e tudo indica que desta feita não será diferente. Quem também não costuma falhar em palco são os americanos Spoon e os Cage The Elephant, estes últimos com um culto crescente por aqui, navegando pelas águas do rock menos formatado. Para inclinações mais dançantes, as atenções estão viradas para a estreia em Portugal dos australianos The Avalanches e para a habitual Peaches, embora a surpresa até possa ser o projecto português Scúru Fitchádu.
Como sempre, muitas opções, com cada um a poder desenhar o seu próprio cartaz. Nessa função, no meio da música, era conhecido o labor de Artur Peixoto, que deixou há meses a Everything Is New, um facto que merece uma observação de Álvaro Covões. “Muita gente já passou por aqui e, uns mais do que outros, contribuíram para o sucesso dos projectos, mas ninguém é insubstituível, até porque esta é uma área de desgaste e onde existem muitas rotações”, afirma, concluindo: “E o maior desgaste nem são as ocorrências nos dias do festival. É preparar tudo para que no dia em que abrimos as portas esteja tudo no seu lugar.” Esse dia é esta quinta-feira.