Inês publicou o melhor artigo científico da Harvard Medical School
Um projecto de investigação sobre a causa líder de cegueira em pessoas com mais de 50 anos valeu à portuguesa Inês Laíns a distinção pela Universidade de Harvard
Há três anos que Inês Laíns se dedica, quase exclusivamente, ao estudo da principal causa de cegueira em pessoas acima dos 50, a degenerescência macular relacionada com a idade (DMI). Após examinar 500 doentes de Portugal e dos Estados Unidos, esta médica oftalmologista, juntamente com uma equipa de médicos destes dois países, está a trabalhar na identificação de biomarcadores que permitem um diagnóstico precoce da DMI, bem como que tipo de progressão a doença pode vir a ter. A investigação foi distinguida com o Evangelos S. Gragoudas Award, atribuído anualmente ao melhor artigo científico publicado na Harvard Medical School.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Há três anos que Inês Laíns se dedica, quase exclusivamente, ao estudo da principal causa de cegueira em pessoas acima dos 50, a degenerescência macular relacionada com a idade (DMI). Após examinar 500 doentes de Portugal e dos Estados Unidos, esta médica oftalmologista, juntamente com uma equipa de médicos destes dois países, está a trabalhar na identificação de biomarcadores que permitem um diagnóstico precoce da DMI, bem como que tipo de progressão a doença pode vir a ter. A investigação foi distinguida com o Evangelos S. Gragoudas Award, atribuído anualmente ao melhor artigo científico publicado na Harvard Medical School.
O projecto de investigação — uma colaboração entre a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e a Harvard Medical School — integra 500 doentes do Massachusetts Eye and Ear Hospital, em Boston, e do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, onde Inês se formou. “Sabemos muito pouco sobre esta doença”, avança a jovem de 31 anos. “Não existe uma boa forma de identificar as pessoas com maior risco de desenvolvimento da doença”, continua. Ou seja: sabe-se que acontece acima dos 50 anos, mas não quem a vai desenvolver. “O grande objectivo do projecto é tentar desenvolver formas que nos permitam identificar melhor e mais cedo estas pessoas, e quais as que apresentam maior risco de ficarem cegas.”
Um dos testes mais comuns nas consultas de oftalmologia — o de acuidade visual — “é afectado muito tarde no caso da DMI”. “É possível ter degenerescência macular e apresentar um teste completamente normal”, revela, pelo que são necessários outros testes para o diagnóstico. Os investigadores perceberam que estes doentes tinham muita dificuldade em ver no escuro e procuraram avaliar se isso seria, ou não, um bom indicador da doença. A resposta foi positiva. “Mesmo em pessoas com sinais muito pequenos no olho [manifestações precoces da doença], a adaptação ao escuro é logo muito afectada”, explica a médica portuguesa.
O artigo premiado — Structural Changes Associated with Delayed Dark Adaptation in Age-Related Macular Degeneration —, focado no teste de adaptação ao escuro, é também útil para a compreensão dos mecanismos da DMI, uma doença cujo único tratamento existente foi desenvolvido por Joan Miller. Esta médica e cientista, com quem Inês trabalha diariamente em Boston, foi uma das vencedoras do Prémio Champalimaud 2014. Em cima da mesa não está a cura para a DMI: os médicos vão juntando pistas sobre como tentar impedir a progressão da mesma e a consequente cegueira. “Sabemos que as pessoas têm de parar de fumar, porque o tabagismo aumenta mais de dez vezes o risco de progressão das formas associadas à cegueira”, sublinha Inês, que destaca também a importância da dieta mediterrânica.
Desde Janeiro de 2017, Inês e a equipa de médicos e cientistas à qual pertence já publicaram seis artigos nas principais revistas de oftalmologia. O projecto de investigação que começou com uma bolsa do programa Harvard-Portugal é para continuar. “Os nossos resultados são muito interessantes, estamos a contribuir para o conhecimento”, diz Inês, que tem por hábito dar consultas duas vezes por semana. “A investigação é atraente, mas acho que o melhor médico é aquele que consegue combinar as duas coisas”, continua. “Da clínica surgem as perguntas, percebemos o que falta e o que é mais relevante. Quando fazemos investigação conseguimos tentar dar resposta a essas perguntas e, idealmente, regressar à clínica para pôr as coisas em prática.”