Madre Paula é a história de “uma paixão muito intensa”

A RTP1 estreia esta quarta-feira uma nova série de ficção, que narra a relação intensa de D. João V com uma jovem freira do Convento de Odivelas. Joana Ribeiro e Paulo Pires são os protagonistas.

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Paula, é assim que se chama a mulher de Deus e amante do rei que dá vida (e nome) à nova série de ficção da RTP1. Pobre, filha de um ourives, ingressa no Convento de Odivelas aos 17 anos. Não pelo chamamento divino, mas por necessidade do próprio pai, o mesmo já tinha acontecido com a sua irmã mais velha, Maria da Luz.

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Paula, é assim que se chama a mulher de Deus e amante do rei que dá vida (e nome) à nova série de ficção da RTP1. Pobre, filha de um ourives, ingressa no Convento de Odivelas aos 17 anos. Não pelo chamamento divino, mas por necessidade do próprio pai, o mesmo já tinha acontecido com a sua irmã mais velha, Maria da Luz.

Porém, “esta Paula não é a Paula que existiu originalmente”, começa por explicar Joana Ribeiro, a actriz que interpreta a personagem na série Madre Paula – Mulher de Deus, Amante do Rei, com realização de Tiago Alvarez Marques e Rita Nunes, e que esta quarta-feira se estreia na RTP, às 22h30.

“É uma Paula menos arrogante. Havia a preocupação de retirar um bocadinho da arrogância que caracteriza esta mulher para que o público gostasse dela”, explica Joana Ribeiro, protagonista da série que agora adapta o romance homónimo de Patrícia Müller, publicado em 2014 pelas edições ASA. A autora escreveu o argumento juntamente com Eduarda Laia.

Durante a rodagem, algumas cenas também foram adaptadas para tornar a personagem “mais próxima das pessoas”. “Havia cenas em que ela era muito dura, mesmo má”, nota a actriz, recordando uma delas para o PÚBLICO: “Há uma cena específica em que ela ia chicotear as criadas; nós optámos por não a fazer dessa maneira; ela vai com intenção de as chicotear, mas acaba por desistir.”

Madre Paula tinha um génio tumultuoso e uma personalidade vincada. “Sem isto [a suavização da personagem], ia ser complicado gostar desta freira. Eu tive dificuldades ao início, quando li o guião”, confessa Joana Ribeiro.

Em pleno reinado de D. João V de Portugal (1689-1750), os tempos eram de devassidão nos conventos. As sorores eram visitadas regularmente por homens poderosos da corte, da nobreza e até do clero, que as procuravam para satisfação sexual. Ao entregarem-se, elas alcançavam um outro estatuto. Paula ambiciona esse poder, por isso segue o exemplo das demais freiras.

É então que a noviça se rende ao jogo da ambição e se entrega àquele que viria a ser o primeiro homem da sua vida, o conde de Vimioso (interpretado na série por Nuno Janeiro). Porém, é com D. João V, o Magnânimo, que vive a paixão da sua vida. “A Paula amava o rei, loucamente. Não só por ser rei; amava a pessoa que ele era – um homem culto, que a fascinava”, diz Joana Ribeiro.

D. João V (interpretado por Paulo Pires) era visita regular do Mosteiro de Odivelas, onde mantinha pelo menos uma amante. Bastou um olhar numa das festas da corte para que Paula se tornasse na próxima. Mas não seria apenas mais uma. “Eles tinham uma relação diferente; ela não estava com ele só por ser rei; ela desafiava-o; ela respondia-lhe; ela estava à altura dele; impunha-se e fazia-lhe frente, e isso deslumbrava-o”, esclarece a actriz.

“O que era realmente importante de passar [para o ecrã] era este amor, porque, sem ele, Paula não passava de uma interesseira. Era importante mostrar que ela não é interesseira, que foi um amor real”. Apesar de o rei ter tido outras amantes, reconheceu os filhos bastardos nascidos da sua relação com Paula.

É com satisfação, e com “o sentimento de dever cumprido” que Joana Ribeiro vê o resultado final. “Este é um dos maiores desafios que já tive; não só pela personagem em si, mas por ser [uma série] de época. Tudo é diferente, até o improvisar. É difícil, mas o resultado final é muito bom”.

Desafios da História

Recriar personagens históricas não é tarefa fácil. Paulo Pires, que interpreta D. João V, reconhece-o. “Pesquisei aquilo que consegui. Há muita coisa escrita, mas não há registo, nem de vídeo, nem fotográfico. É por isso que se torna difícil fazer uma figura histórica”, diz o actor.

“É normal que quando nos deparamos com uma personagem desta magnitude fiquemos assustados. Mas é bom ficar assustado, porque só nos faz trabalhar mais”. Depois do processo de pesquisa, o actor teve necessidade de se distanciar. “Esqueci-me de quem tinha sido o D. João V, e centrei-me na personagem do argumento”, explica. 

Num dos corredores do Teatro da Trindade, em Lisboa, onde decorreu a antestreia do primeiro episódio da série Madre Paula, que conta com 60 actores e cerca de 700 figurantes, a autora Patrícia Müller, que já havia escrito outros projectos de ficção, revela-nos como lhe surgiu a oportunidade de escrever esta narrativa baseada em factos reais.

“Soube desta história por um recorte de jornal, e apaixonei-me. Os projectos têm o seu tempo, ficou na minha cabeça e não aconteceu nada. Até que, um dia, em conversa com a minha melhor amiga, ela perguntou-me se não queria escrever um livro. Respondi-lhe que sim, sem hesitar.” Só podia ser sobre a Madre Paula, já que a autora tinha esta ideia na sua cabeça há anos.

“O rei, o homem mais importante do mundo na época, apaixona-se por uma mulher enclausurada num convento e que é o oposto dele. Era um homem ultraculto, muito educado, que se apaixonou por uma freira pobre e inculta”, conta a escritora. Mas recusa-se a considerar esta paixão arrebatadora como um mito, tal como muitos a classificam. “Em conversa com Virgílio Castelo, meu amigo e conselheiro, debatemos sobre isto. Ele dizia que era só sexo, mais uma amante na vida do rei. Mas não é!”, refuta. “Esta relação durou 13 anos! Ninguém anda 13 anos atrás de uma pessoa apenas por sexo. Ele passava semanas lá [nos aposentos de Paula] a amá-la, a gostar dela, a dar-lhe carinho. Era paixão, uma paixão muito intensa”, defende Patrícia Müller.

Passados quatro anos sobre o lançamento do livro, a escritora vê agora a história desse amor revigorad ao passar do papel para o ecrã da televisão. Depois de ver o primeiro episódio, afirma sentir-se “realizada” com o produto final, por “aumentar” tudo aquilo que escreveu. “Eu não imaginaria que pudesse ficar tão bem. Só tenho a agradecer. Não há aqui [na série] nada que eu ache que eles tenham feito a menos. Está maravilhoso. Foram todos maravilhosos”, conclui.

“Esta série tem uma interpretação que faz com que os actores saiam do ecrã. De repente, estamos envolvidos na história porque sentimos uma proximidade com aquela interpretação e com aquela força das palavras”, afirma ao PÚBLICO Daniel Deusdado, director de programas da RTP, também presente na apresentação.

Madre Paula foi realizada a pensar nos mais ínfimos pormenores, desde os figurinos até aos décors naturais, para que o telespectador recue até aos tempos de fausto na corte em pleno século XVIII. A rodagem durou 66 dias e decorreu em locais icónicos, como o Convento de Odivelas, a Quinta da Ribafria, o Palácio do Correio-Mor, o Convento do Grilo, o Palácio dos Marqueses de Fronteira e o Palácio Nacional de Mafra.

Texto editado por Isabel Coutinho