Cristas assume protagonismo na oposição e pede cabeça de ministros
PSD tem sido mais comedido, apesar de algumas críticas serem comuns às do CDS.
O dia começou com o PSD a perguntar por onde anda o primeiro-ministro, mas foi a líder do CDS que assumiu o protagonismo na oposição: foi a Belém pedir a demissão dos dois ministros sob fogo e anunciou-o em tom solene na sede do partido.
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O dia começou com o PSD a perguntar por onde anda o primeiro-ministro, mas foi a líder do CDS que assumiu o protagonismo na oposição: foi a Belém pedir a demissão dos dois ministros sob fogo e anunciou-o em tom solene na sede do partido.
Na declaração aos jornalistas, Assunção Cristas não usou argumentos muito diferentes dos que têm sido arremessados pelo PSD para exigir que rolem duas cabeças no Governo, a da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, e a do ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes. “[O Estado] falhou e tarda em assumir que falhou com um primeiro-ministro ausente, mudo, um ministro que diz assumir responsabilidades por ser um ‘pro forma’”, afirmou a ex-ministra, alegando ainda que "o que se passou nas últimas semanas em Portugal ultrapassou todas as marcas".
Já este fim-de-semana, o líder do PSD tinha mostrado indignação com o facto do ministro da Defesa ter assumido responsabilidades políticas e não retirar daí consequências. Ao sentimento de “insegurança e de intranquilidade” que Passos Coelho diz existir agora na sociedade depois do brutal incêndio de Pedrógão Grande e do furto de armamento em Tancos, Assunção Cristas acrescentou: “Há uma crise de autoridade. Há uma crise de comando. Há uma crise de confiança. Esta só será resolvida com a demissão destes dois ministros”. Uma tentação a que o PSD tem evitado ceder nestes quase dois anos de oposição ao Governo.
Assunção Cristas deu à iniciativa partidária o cunho institucional e informou primeiro o Presidente da República sobre a sua exigência política. A líder do CDS esteve este fim-de-semana com Marcelo Rebelo de Sousa em Bruxelas, numa iniciativa promovida pelo eurodeputado centrista Nuno Melo e pela CAP, mas a ideia da audiência em Belém não terá nascido nessa altura e sim mais tarde, apurou o PÚBLICO junto de várias fontes.
Outra das fragilidades apontadas por Cristas é o silêncio do primeiro-ministro nos últimos dias sobre o furto de armamento em Tancos e a sua ausência do país por se encontrar de férias. Por isso, lançou a frase “senhor primeiro-ministro volte e demita-os” mesmo sem mostrar ter a certeza de que António Costa estava de férias. Só mais tarde o gabinete do primeiro-ministro viria a confirmar o período de uma semana para gozo de férias, minutos depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter referido aos jornalistas de que tem falado com o “substituto legal” do chefe do Executivo (o ministro Augusto Santos Silva) e de que há “continuidade institucional”.
Na Assembleia da República, uma semana e meia depois dos incêndios de Pedrógão, a direita foi mais assertiva que a esquerda a pedir assumpção de responsabilidades, mas não chegou a haver pedidos para que rolassem cabeças no Ministério da Administração Interna. E as críticas à ministra fragilizaram-na, mas não foram a uma só voz.
Pelo contrário, agora, o ministro da Defesa Nacional está isolado. Desde logo, por não fazer parte do tal núcleo duro do primeiro-ministro, mas também porque nem à esquerda nem à direita se encontra quem o defenda. Até as associações de profissionais do sector da Defesa contestam as suas decisões, no Governo.
Esta segunda-feira, o seu colega de executivo, Augusto Santos Silva, não desvalorizou os acontecimentos de Tancos, nem aligeirou o ambiente político. “A violação de instalações militares foi muito grave”, disse. Foi o único governante a falar além de Azeredo Lopes, ministro da Defesa Nacional. Acrescentou também que “estão a ser desenvolvidas todas as diligências para que os factos e as responsabilidades sejam totalmente apurados, assim como todas as medidas para reaver o material roubado”.
Pedro Passos Coelho (PSD), Nuno Magalhães e João Rebelo (CDS), Catarina Martins (BE), Jerónimo de Sousa (PCP), Miguel Medeiros e Miranda Calha (PS) são apenas alguns dos dirigentes ou deputados que publicamente mostraram preocupação com o caso de Tancos.
O socialista Miguel Medeiros não esqueceu o papel de Azeredo Lopes, que será ouvido na Assembleia, a pedido do PSD e do CDS, provavelmente na quarta-feira. “O que tem de se avaliar politicamente é se o senhor ministro, atentas as suas responsabilidades e as suas competências, tinha mecanismos para evitar ou não evitar [o que aconteceu] e se cumpriu aquilo que são as obrigações de um político que dirige um sector tão relevante como este”.
Miranda Calha, também do PS, alertou para o facto de este roubo pôr “em causa a segurança do país, mas também a segurança internacional”. E João Rebelo, do CDS, já havia dito que “ a responsabilidade pelo que aconteceu tem de ir mais longe do que a demissão “ dos cinco comandantes que foram suspensos no sábado à noite. Já esta segunda-feira, o líder da bancada do CDS, em declarações ao DN, fazia quase o pré-anúncio do pedido de demissão: “António Costa tem dois ministros que já não o deviam ser”. Com Sónia Sapage