Olivia de Havilland processa FX pela forma como foi retratada em Feud

A actriz de 101 anos, interpretada por Catherine Zeta-Jones na série, é a única testemunha viva da briga entre Bette Davis e Joan Crawford e não foi consultada para a criação da trama.

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Catherine Zeta-Jones é Olivia de Havilland em Feud: Bette and Joan FX Networks/DR

Ficou conhecida por dar vida a Melanie Wilkes no clássico E Tudo o Vento Levou (1939) e, além de ser hoje a última actriz viva do elenco, é dos últimos ícones da era dourada de Hollywood. Olivia de Havilland, que festeja este sábado 101 anos, anunciou esta sexta-feira que colocou uma acção em tribunal contra o canal FX e a Ryan Murphy Productions devido ao alegado uso sem autorização da sua identidade na série Feud: Bette and Joan, segundo noticiou o Los Angeles Times. A série estreou-se no início de Março e contava a história da turbulenta relação entre as actrizes Bette Davis e Joan Crawford nos bastidores de Que Teria Acontecido a Baby Jane (1962), o premiado filme em que as duas divas contracenavam.

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Ficou conhecida por dar vida a Melanie Wilkes no clássico E Tudo o Vento Levou (1939) e, além de ser hoje a última actriz viva do elenco, é dos últimos ícones da era dourada de Hollywood. Olivia de Havilland, que festeja este sábado 101 anos, anunciou esta sexta-feira que colocou uma acção em tribunal contra o canal FX e a Ryan Murphy Productions devido ao alegado uso sem autorização da sua identidade na série Feud: Bette and Joan, segundo noticiou o Los Angeles Times. A série estreou-se no início de Março e contava a história da turbulenta relação entre as actrizes Bette Davis e Joan Crawford nos bastidores de Que Teria Acontecido a Baby Jane (1962), o premiado filme em que as duas divas contracenavam.

Olivia de Havilland, actualmente radicada em França, avançou com o processo judicial contra o canal norte-americano e a produtora de Ryan Murphy (American Horror Story, American Crime Story) pela forma como foi retratada na série onde é interpretada por Catherine Zeta-Jones. A queixa apresentada esta sexta-feira no Supremo Tribunal de Los Angeles afirma que a actriz construiu, ao longo de 80 anos de carreira, uma reputação pautada pela integridade e dignidade, afastando-se das fofocas e mexericos da indústria. Ora, Feud: Bette and Joan pinta uma imagem completamente oposta de Havilland, criando a impressão de que esta comentava tudo sobre as mulheres e as relações existentes em Hollywood – e que daria alento a mexericos em troca de dinheiro ou de oportunidades.

O documento aponta a cena de abertura da série, que mostra uma suposta entrevista de Olivia de Havilland em que a actriz participa numa fofoquice sobre Bette Davis e Joan Crawford. “[Todas] as afirmações feitas por Zeta-Jones como Olivia de Havilland nesta entrevista falsa são completamente falsas, algumas inerentemente; outras porque nunca foram proferidas”, escrevem em comunicado os advogados Suzelle M. Smith e Don Howarth, assinalando que a FX “promoveu e publicitou Feud como uma série intencionalmente desenhada para reflectir a realidade”. Além disso, a acção judicial condena o modo como a série aborda a relação da actriz com a irmã. No quinto episódio, Zeta-Jones apelida Joan Fontaine de “cabra”, um “termo ofensivo que contrasta claramente com a reputação que Olivia de Havilland conquistou pela sua boa conduta, classe e bondade.”

A actriz britânico-americana é a única testemunha viva dos acontecimentos que envolveram a mais épica rivalidade de Hollywood (Bette Davis e Joan Crawford morreram em 1989 e 1977, respectivamente) e a única figura retratada na série de Ryan Murphy ainda viva. De acordo com a The Hollywood Reporter (THR), a actriz afirma que “os acusados conheciam ou ignoraram descuidadamente a informação publicamente disponível de que está viva, que nunca deu uma entrevista sobre a relação entre Davis e Crawford e que é conhecida por evitar os mexericos”. Em Abril, a actriz havia confessado à THR que não tinha visto a série. “Por princípio, oponho-me a qualquer representação de pessoas que já não estão cá para julgar a exactidão com que são retratados os incidentes em que estiveram envolvidas”.

A acção judicial acusa, precisamente, a FX e a equipa de Ryan Murphy de pintar a actriz “através de um ângulo falso para tornar a série sensacionalista”. Em entrevista à THR, o criador e produtor da série disse que nunca contactou Olivia de Havilland porque não queria incomodar. “Não escrevi à Olivia porque não queria ser desrespeitoso e perguntar-lhe ‘Isto aconteceu? Aquilo aconteceu? O que é que achou daquilo?’”.

Olivia de Havilland vai processar a FX e Murphy pelo uso da sua imagem, invasão de privacidade, enriquecimento ilícito e danos emocionais. A actriz exige que o tribunal reconheça os danos à sua imagem (e os lucros advindos do seu uso) e pede uma ordem de restrição para que a FX não volte a utilizar o seu nome e identidade. O canal norte-americano recusou tecer comentários sobre o processo e a equipa de Murphy ainda não respondeu ao pedido de esclarecimentos do Los Angeles Times. Os advogados de Havilland pretendem preencher uma petição para agilizar a data do julgamento devido à idade avançada da actriz.

Além dos dois Óscares de Melhor Actriz pelo seu trabalho em To Each His Own (1946) e The Heiress (1949), Olivia de Havilland ficou conhecida pelo seu empenho na luta contra o domínio absoluto dos grandes estúdios de Hollywood sobre os actores. Em 1943, opôs-se publicamente aos tradicionais contratos que requeriam exclusividade dos actores com os estúdios e colocou a Warner Bros em tribunal. Acabou por ganhar a acção judicial, abrindo um precedente legal que deu maior liberdade aos artistas e restringiu o controlo da indústria sobre eles.