A outra música dos outros festivais de Verão

Os violinistas Amandine Beyer e Giuliano Carmignola, os pianistas Pierre-Laurent Aimard e Ronald Brautingan, os agrupamentos Cappella Mediterranea e Capella Sanctae Crucis sobressaem nas edições deste ano, mas os festivais de 2017 têm muito mais para oferecer

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O mês de Julho é sinónimo de época alta em matéria de festivais de Verão dedicados à música clássica. Na sua maioria com várias décadas de história, os festivais portugueses parecem estar a ganhar novo fôlego após a contenção dos anos da crise, propondo programas variados para melómanos de todos os gostos. Mais ou menos fiéis aos modelos e linhas temáticas que foram desenvolvendo ao longo dos anos, continuam a equilibrar nos pratos da balança a divulgação de intérpretes internacionais de vulto com a apresentação de músicos portugueses de várias gerações, repertórios com um lugar na história e apostas em obras menos conhecidas, incluindo algumas encomendas de novas composições. Aqui fica um roteiro possível e algumas sugestões para as próximas semanas.

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O mês de Julho é sinónimo de época alta em matéria de festivais de Verão dedicados à música clássica. Na sua maioria com várias décadas de história, os festivais portugueses parecem estar a ganhar novo fôlego após a contenção dos anos da crise, propondo programas variados para melómanos de todos os gostos. Mais ou menos fiéis aos modelos e linhas temáticas que foram desenvolvendo ao longo dos anos, continuam a equilibrar nos pratos da balança a divulgação de intérpretes internacionais de vulto com a apresentação de músicos portugueses de várias gerações, repertórios com um lugar na história e apostas em obras menos conhecidas, incluindo algumas encomendas de novas composições. Aqui fica um roteiro possível e algumas sugestões para as próximas semanas.

Festival Internacional de Música de Espinho

Amandine Beyer e Giuliano Carmignola, dois ilustres virtuosos do violino barroco de gerações diferentes dão início esta sexta-feira à noite, às 22h, à 43.ª edição do Festival Internacional de Música de Espinho, com um programa dedicado a Vivaldi. Atendendo ao percurso destes dois intérpretes, detentores de grande imaginação musical e de uma valiosa discografia no âmbito do barroco italiano, e ao fascínio que a música do compositor veneziano exerce sobre o público, trata-se de uma combinação irresistível. O concerto retoma o programa do último CD do agrupamento Gli Incogniti, dirigido por Amandine Beyer, com Carmignola como convidado especial.

Outro ponto alto o terá lugar a 15 de Julho com os pianistas Pierre-Laurent Aimard, consagrado intérprete da música do século XX, e Tamara Stefanovich, numa obra magnífica: a Sonata para dois pianos e percussão, de Béla Bartók.  Os percussionistas serão Daniel Ciampolini, colaborador regular do Ensemble Intercontemporain, e o jovem português Nuno Simões. Aimard e Stefanovich gravaram em conjunto o Concerto para dois pianos, percussão e orquestra (baseado na Sonata) sob a direcção de Pierre Boulez, registo nomeado para um Grammy. Em Espinho tocarão ainda a Sonata para dois pianos, op. 34b, de Brahms.

Tal como a percussão, o jazz tem também uma longa tradição no Festival de Espinho, destacando-se a participação do Avishai Cohen Trio a 5 de Julho (concerto já esgotado) e um outro recital a dois pianos que reúne, pela primeira vez em Portugal, o italiano Stefano Bollani e o espanhol Chano Dominguez, numa estreita teia de cumplicidades que irá combinar o flamenco e improvisação jazzística (dia 14).

Até 22 de Julho será possível ainda ouvir música de câmara por Alena Baeva (violino), Vadym Kholodenko (piano) e pelo Hanson Quartet, bem como a Orquestra Clássica de Espinho com solistas como o violoncelista Miklós Perényi e o acordeonista Richard Galliano, entre outras propostas.

Programa completo em: http://www.musica-espinho.com/fime/

Festival Cistermúsica de Alcobaça

O evento mais importante da 25.ª edição do Festival Cistermúsica de Alcobaça, que decorre de 1 a 30 de Julho, será a estreia moderna da ópera Inês de Castro de Giuseppe Giordani (1793), a primeira de dezenas de óperas inspiradas na história de amor de Pedro e Inês. Esta ópera não é executada desde o século XVIII, tendo o Centro di Studi Giuseppe Giordani, em Itália, realizado uma edição da partitura especialmente para o Cistermúsica. Os cantores André Henriques, João Rodrigues, Ana Paula Russo, Bárbara Barradas, Cátia Moreso e Maria Luísa de Freitas,  o Coro do TNSC e a Sinfónica Portuguesa,  sob a direcção de João Paulo Santos, apresentam uma versão de concerto no dia 29 no Cine-Teatro de Alcobaça, que será gravada pela Antena 2 para ser editada em CD.

A aposta na música portuguesa que tem caracterizado este festival manifesta-se também na primeira interpretação em instrumentos de época do Requiem à Memória de Camões de João Domingos Bomtempo, sob a direcção de João Paulo Janeiro (dia 8) e na encomenda de novas obras a João Madureira e António Victorino d’Almeida, interpretadas respectivamente pela Capela Cupertino de Miranda e pela pianista russa Irina Chistiakova.

Intérpretes responsáveis por momentos marcantes ao longo dos 25 anos do festival regressam em 2017.  É o caso do Grupo Vocal Les éléments, com obras alemãs para coro e piano (de Schumann a Stockausen); do Quarteto Arcadia com música de Mozart, Haydn e Bartók; do Quatuor Alfama com um programa em memória de Harry Halbreich, musicólogo belga falecido em 2016; e da Cappela Musical Cupertino de Miranda com um programa que assinala os 450 anos do nascimento de Monteverdi. J. S. Bach será o compositor central do recital de violino solo de Cármelo de los Santos, e do concerto da Orquestra de Câmara Portuguesa, dirigida por Pedro Carneiro e pela primeira vez o programa inclui um recital de harpa, pela alemã Silke Aichorn. O encerramento cabe à Orquestra Filarmónica Portuguesa, sob a direcção de Osvaldo Ferreira.

http://www.cistermusica.com/

Festival do Estoril Lisboa

O 43.º Festival de Estoril Lisboa terá o seu concerto de abertura sexta-feira (1 de Julho), às 21h30, no Teatro Nacional de São Carlos (TNSC), com a estreia mundial da Cantata Vera Cruz op.56, (a partir da Carta de Pêro Vaz de Caminha a El-Rei D. Manuel sobre o achamento do Brasil), para coro, orquestra e narrador, da autoria de Nuno Côrte-Real. Trata-se de uma encomenda do festival, com interpretação do Coro do TNSC, da Sinfónica Portuguesa e de Luís Lima Barreto (narração) sob a direcção do próprio compositor.

Sob o conceito Um festival com património, o Festival Estoril Lisboa associa-se este ano à programação de Lisboa - Capital Ibero-Americana de Cultura, contemplando quatro concertos que abrangem seis séculos de música espanhola e prestam homenagem ao pintor Bartolomé Murillo no 4.º centenário do seu nascimento.  Será apresentada em estreia absoluta a obra Niños de Murillo, de Sebastián Mariné, mais quatro peças para piano em primeira audição em Portugal. Este ciclo terá a participação do organista sevilhano Andrés Cea Galán (dia 8, na Igreja de São Vicente de Fora); do agrupamento Orphenica Lyra de José Miguel Moreno, notável intérprete de instrumentos históricos de cordas dedilhadas (dia 10, no Palácio da Ajuda); do Sonor Ensemble (dia 13 no Palácio da Ajuda); e do pianista Mario Prisuelos com o programa Visiones místicas para piano, que inclui peças de Antonio Soler, Joan Magrané, Joaquin Turina e Jesús Torres e a estreia absoluta de Láquesis, de Braida Novoa (dia 17, no Palácio Foz).

Recitais de órgão, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, a Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras e a violoncelista Isabel Vaz (1.º Prémio do Concurso de Interpretação do Estoril de 2016), entre outros intérpretes, preenchem um programa que termina com a Russian String Orchestra (dia 28 nos jardins do Palácio de Belém). 

http://www.festorilisbon.com/

Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim

Com início a 7 de Julho, com a conferência do musicólogo Rui Vieira Nery  intitulada Monteverdi e a construção da Ópera Barroca, a 39.ª edição do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim apresenta um programa variado no qual sobressai como é habitual um conjunto de concertos dedicados à música antiga por intérpretes especializados em práticas de interpretação históricas.

A 8 de Julho, o Ensemble Masques, com os cravistas Olivier Fortin e Jean Rondeau, interpretam obras de J. S. Bach, Wilhelm Friedmann Bach e Telemann e no dia 22 regressa o cravista Pierre Hantaï para um recital dedicado a Carlos Seixas, D. Scatlatti, Couperin, Handel, Rameau e Bach. Mas os maiores destaques vão para o programa Teatro de Monteverdi com a soprano Mariana Flores e o grupo Cappella Mediterranea, dirigido por Leonardo García Alarcón (dia 28), cujas interpretações de música do século XVII têm alcançado enorme sucesso, e para a apresentação ao vivo do primeiro projecto discográfico do agrupamento Capella Sanctae Crucis, dirigido por Tiago Simas Freire (dia 29).

Com o título Zuguambé, o CD editado pela Harmonia Mundi em 2017, dá vida ao riquíssimo repertório do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, composto por obras do séc. XVII de Agostinho da Cruz, Diego Alvarado, Dom Jorge e D. Pedro de Cristo, entre outros. Outro ponto alto será certamente o último concerto (dia 30) com Die Kölner Akademie e Ronald Brautigam, um dos grandes intérpretes de fortepiano do nosso tempo, sob direcção de Michael Alexander Willens, num programa dedicado a Haydn e Mozart.

Salienta-se ainda a actuação do premiado pianista russo Alexander Melnikov e do excelente Pavel Haas Quartet (dia 13).

O programa inclui ainda a participação da Metropolitana de Lisboa sob direcção de Pedro Amaral (com o percussionista Agostinho Sequeira, Prémio Jovens Músicos da RTP Antena 2 – 2016); do Ensemble Clepsidra e quarteto constituído por Afonso Fesch (violino), António Saiote (clarinete), Filipe Quaresma (violoncelo) e Miguel Borges Coelho (piano) na interpretação das obras finalistas do 10.º Concurso Internacional de Composição da Póvoa de Varzim e da obra encomendada a José Luís Borges Coelho, entre outras propostas.

http://www.cm-pvarzim.pt/tome-nota/37o-festival-internacional-de-musica-da-povoa-de-varzim

Festival ao Largo Millennium

Entre 7 e 29 e Julho, o Largo de São Carlos volta a ser o cenário de uma série de espectáculos de música e dança com entrada livre apresentados pela Orquestra Sinfónica Portuguesa (OSP), pelo Coro do TNSC, pela Companhia Nacional de Bailado (CNB) e por alguns convidados. Nas abertura (dias 7 e 8) Joana Carneiro dirige obras de Joly Braga Santos, Bernstein e Ravel com o jovem pianista Pedro Costa como solista e nos fins-de-semana seguintes a OSP regressa para interpretar Verdi e Wagner com cantores solistas como Rachel Nicholls, Cristiana Oliveira e Roland Wood, entre outros. No dia 13 o Coro do TNSC apresenta o programa festivo Noites da Broadway e de  27 a 29 de Junho a CNB apresenta as coreografias Quinze Bailarinos, de Rui Lopes Graça, e Minus 16 do israelita Ohad Naharin.

Os convidados do Festival ao Largo Millenium deste ano incluem a Orquestra Filarmónica de Zagreb, a Metropolitana de Lisboa, a Orquestra Clássica da Madeira, e os Brass Factory num programa que presta tributo a Frank Zappa.

www.festivalaolargo.pt