César Lacerda: depois da vanguarda, “reaproximar a música do povo brasileiro”
Jovem cantor e compositor mineiro encerra este domingo no Espaço Espelho D’Água, em Lisboa, uma digressão por sete cidades portuguesas.
Depois de Tiê e Pélico, César Lacerda. O Espaço Espelho D’Água (junto ao Padrão dos Descobrimentos, em Belém) continua a receber novos nomes da música popular brasileira no âmbito do projecto Faro Pelo Mundo. Neste domingo, 2 de Julho, pelas 19 horas, o jovem cantor e compositor mineiro termina em Lisboa uma digressão portuguesa que começou nas Caldas da Rainha (a 16 de Junho) e passou depois por Vila Nova de Gaia (17), Fafe (24), Aveiro (25), Vila Real (28) e Bragança (29).
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Depois de Tiê e Pélico, César Lacerda. O Espaço Espelho D’Água (junto ao Padrão dos Descobrimentos, em Belém) continua a receber novos nomes da música popular brasileira no âmbito do projecto Faro Pelo Mundo. Neste domingo, 2 de Julho, pelas 19 horas, o jovem cantor e compositor mineiro termina em Lisboa uma digressão portuguesa que começou nas Caldas da Rainha (a 16 de Junho) e passou depois por Vila Nova de Gaia (17), Fafe (24), Aveiro (25), Vila Real (28) e Bragança (29).
Nascido em Diamantina, Minas Gerais, em 5 de Maio de 1987, César Lacerda ia desde muito cedo para a escola de música da sua mãe, pianista e directora do Conservatório de Música daquela cidade. “Noutras famílias, os filhos vão estudar música ou fazer natação como coisas exteriores à vida da casa. Mas a vida da minha casa era música.” Só mais tarde, no acesso ao ensino superior, ele começou a olhar a música com outros olhos. “Pouco antes de entrar na universidade, eu estudei na Fundação de Educação Artística, uma escola importante por ter levado para Belo Horizonte o repertório de vanguarda da música dita contemporânea.” Foi o irmão que o convenceu a seguir na música, porque ele estava interessado “em psicologia para psicanálise.” Do piano, que aprendera em criança, à flauta, que estudou depois, acabou por fixar-se no violão.
“Isso estava de certo modo inconsciente em mim”, diz César Lacerda. “Sempre que eu fantasiava, em adolescente, com a ideia ser um artista que tivesse as minhas canções, a imagem dessa fantasia era a de uma pessoa que tem um violão à mão. E é uma fantasia nacional, porque a música brasileira se desenvolveu através desse instrumento.”
Temas próprios e releituras
Os primeiros discos, gravou-os César ainda integrado na banda cLAP!, um3 e 13’31, ambos de 2006. Depois é que vieram os seus trabalhos a solo: César Lacerda (2011), Porquê da Voz (2013), Paralelos & Infinitos (2015) e O Meu Nome É Qualquer Um (2016), este gravado em parceria com Rómulo Fróes. “Tenho um orgulho danado desse trabalho. Analisados separadamente, eu e Rómulo não temos nada a ver. Mas a gente conseguiu encontrar algo entre o que eu faço e ele faz que originou uma terceira coisa. É um disco que fala de assassinatos de crianças negras na favela, do amor por um transexual, do amor entre dois homens, enfim, temas complicados. É um disco que tem um peso, não é de escuta simples. A minha sensação é que ele vai ser descoberto ao longo dos anos, porque é exigente na sua escuta. Mas tem sido bem recebido, a gente está a rodar com ele há quase um ano pelo Brasil. Vai sair agora em vinil.”
No Espelho de Água, onde estará em solo absoluto, só voz e violão, ele não tem um repertório definido à partida, como não teve ao longo desta digressão portuguesa. “Eu chego, noto como está o ambiente e vou pensando nas canções dos meus três discos, toco também algumas canções novas, do disco que virá em Setembro, e tocarei umas coisas diferentes. Em Aveiro, por exemplo, toquei Sampa, de Caetano Veloso. Em Caldas da Rainha toquei Amar pelos dois, de Luísa Sobral, que ficou famosa pelo Salvador Sobral. Enfim. Basicamente, serão canções minhas e algumas releituras.”
Como nos anos 1960/70
O próximo disco de César Lacerda terá, diz ele, muitas diferenças em relação aos anteriores, começando pela direcção artística, que não será dele. “Convidei o Marcos Preto, que tem trabalhado com a Gal e com o Tom Zé, e a gente pensou este disco como se fazia os discos de cantora nas décadas de 1960 e 70. A primeira faixa é com uma banda rock; a segunda é um standard com regional de samba; a terceira é uma de voz e piano; a quarta… Enfim, é um disco onde a unidade assenta na variedade de temas nas canções. Começo a achar que esse já é o meu melhor disco, tem as melhores canções e é muito directo. A música brasileira actual caminhou para um lugar de muita experimentação e distanciamento do público. Esse disco novo é uma reaproximação com a ideia de MPB fazendo parte do povo brasileiro.” Em Setembro ouviremos.