Investigação ao "Universo Espírito Santo" fez mais uma detenção

O antigo número um do BES na Madeira e elo de ligação à Venezuela, João Alexandre Silva, foi detido quarta-feira no âmbito das investigações ao banco liderado por Ricardo Salgado. Está em prisão domiciliária, em Lisboa, impedido de contactar com os restantes 17 arguidos.

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PAULO PIMENTA

O ex-director do Banco Espírito Santo (BES) na Madeira e antigo representante na instituição na Venezuela, João Alexandre Silva, está em prisão domiciliária, depois de ter sido ouvido esta quarta-feira pelo juiz Carlos Alexandre.

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O ex-director do Banco Espírito Santo (BES) na Madeira e antigo representante na instituição na Venezuela, João Alexandre Silva, está em prisão domiciliária, depois de ter sido ouvido esta quarta-feira pelo juiz Carlos Alexandre.

A informação foi avançada esta quinta-feira pela TVI e pela SIC, e confirmada pelo PÚBLICO, e está relacionada com investigação do Ministério Público (MP) às ligações entre o BES e a petrolífera estatal venezuelana, a PDVSA.

João Alexandre Silva, natural da Madeira, mas a residir em Lisboa, onde se encontra em prisão domiciliária e proibido de contactar os restantes arguidos do caso BES, era o homem forte do banco no arquipélago. Dada a forte comunidade madeirense na Venezuela, estima-se em mais de 300 mil pessoas, chefiou a entrada do BES em Caracas onde cimentou ligações com o regime venezuelano.

Terá sido por aí que terão começado os investimentos da PDVSA do Grupo Espírito Santo (GES), que levaram posteriormente Ricardo Salgado a assinar duas cartas de conforto, que garantiam o investimento realizado pelos venezuelanos em várias empresas detidas pelo grupo, no valor de 260 milhões de euros. Prática que, de acordo com o MP, pode consubstanciar crime de infidelidade de gestão, por representar danos patrimoniais para o banco a favor da PDVSA. Neste processo, recaem suspeitas de branqueamento de capitais sobre a Petróleos da Venezuela.

Documentos que chegaram às mãos do MP em Novembro de 2014 e que no final da semana passada motivaram novas buscas em Lisboa e no Funchal. Foram essas diligências que precipitaram a detenção de João Alexandre Silva, que é suspeito de branqueamento de capitais, corrupção de agentes públicos internacionais e corrupção activa no sector privado.

O juiz Carlos Alexandre deslocou-se à Madeira na passada sexta-feira para chefiar as buscas realizadas à antiga sucursal offshore do BES no Funchal. Daquelas instalações saíram pelas mãos de agentes do Departamento de Investigação da PSP dezenas de caixas de cartão com documentos, etiquetadas com os nomes de várias zonas: Venezuela, África do Sul, Europa e Resto da Europa.

Na altura, o Diário de Notícias do Funchal adiantou que as buscas estenderam-se a outras agências do banco, a residências particulares e já tinham ocorrido também, no final de Março, na antiga sucursal internacional do BES na Madeira.

A Procuradoria-Geral da República (PGR), numa nota emitida no dia das últimas buscas, explicou que estas diligências foram realizadas no “âmbito das investigações relacionadas com o denominado 'Universo Espírito Santo’ a seis domicílios e sete pessoas colectivas, entre as quais “entidades bancárias”.

As buscas, acrescenta a mesma nota, contaram com a intervenção de elementos da Polícia Judiciária, da Polícia de Segurança Pública, da Autoridade Tributária e com a assessoria técnica de elementos do Banco de Portugal e da CMVM.

“Nos inquéritos relacionados com o denominado ‘Universo Espírito Santo’, dirigidos pelo Ministério Público (Departamento Central de Investigação e Ação Penal), até à data, foram constituídos, dezassete arguidos, catorze pessoas singulares e três colectivas.” Uma contabilidade que, com a detenção de João Alexandre Silva, aumenta para 18 arguidos, entre os quais o CEO do BES, Ricardo Salgado.