O SIRESP faz uma leitura dos cinco dias do incêndio na zona de Pedrógão Grande e chega à conclusão que “esteve à altura” e que não houve registo de ocorrências significativas até às 23h de sábado — o período de incêndio mais crítico e que levou à morte de 64 pessoas. Numa análise mais fina aos dados da empresa nota-se, no entanto, que durante as horas críticas, a saturação do sistema aumentou e na única torre 100% operacional mais perto da zona do incêndio quase um quarto das chamadas não foram processadas à primeira.

O SIRESP faz uma leitura dos cinco dias do incêndio na zona de Pedrógão Grande e chega à conclusão que “esteve à altura” e que não houve registo de ocorrências significativas até às 23h de sábado — o período de incêndio mais crítico e que levou à morte de 64 pessoas. Numa análise mais fina aos dados da empresa nota-se, no entanto, que durante as horas críticas, a saturação do sistema aumentou e na única torre 100% operacional mais perto da zona do incêndio quase um quarto das chamadas não foram processadas à primeira.

De acordo com os dados do SIRESP, a partir das 19h38 de sábado, cinco torres (chamadas de estações-base) do sistema de comunicações de emergência foram destruídas pelo fogo e entraram naquilo a que chamam de “modo local”. A primeira foi a de Pedrógão Grande, seguindo-se as de Malhadas, Pampilhosa da Serra, Serra da Lousã e Figueiró dos Vinhos, esta já às 3h53 da madrugada. Mas esta destruição, assegura a empresa, não originou problemas de maior, continuando a permitir as comunicações entre operacionais por causa da tecnologia Tetra, a que acrescem as comunicações de modo directo (walkie-talkie).

Quando estas torres e os cabos de fibra óptica foram destruídos pelo fogo, as chamadas entre operacionais (bombeiros, GNR, comando da Protecção Civil, câmaras municipais e INEM) foram processadas por 11 outras torres que existem no terreno afectado pelo fogo e por estas cinco através do "modo local". Ao PÚBLICO, um técnico de Protecção Civil explicou que nestas circunstâncias são permitidas apenas comunicações localmente, ou seja, não de grande alcance, e que é possível alterar quase de imediato os rádios dos operacionais para o modo de comunicação directo. Contudo, os bombeiros da zona queixam-se também de que em situações normais havia zonas em que o SIRESP já não funcionava por falhas de rede.

Dessas 11 estações, a de Serra do Cabeço do Pião, em Castanheira de Pera, a estação mais próxima da estrada e das aldeias que registaram ocorrências mais graves, registou uma saturação que levou a que quase um quarto das chamadas (6565 num total de 29.479, ou seja, 22,3%) realizadas entre as 19h de sábado e as 9h de domingo não tenham sido realizadas à primeira. Este número é relevante, uma vez que é nesta zona que há relatos de maiores dificuldades de contacto pelos bombeiros. O comandante dos bombeiros de Castanheira, José Domingues, que já tinha dito ao PÚBLICO que não conseguiu comunicar naquela noite, reiterou ontem esta ideia em declarações à agência Lusa: "É lógico que houve falhas" do SIRESP. Esta posição é secundada também pelos comandantes dos bombeiros de Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos.

De acordo com o SIRESP, esta estação "foi aquela que mais chamadas processou e simultaneamente mais busies [chamadas que não foram realizadas à primeira] teve, porque atingiu a capacidade disponível, tendo sido processadas em média 1646 chamadas por hora". Acontece que os dados do SIRESP não são divididos por hora, apresentando apenas um global de chamadas em três períodos diferentes, dificultando assim a percepção do que aconteceu entre as 18h e as 22h, a faixa temporal em que se situa a probabilidade do maior número de mortes. Como informação adicional, o SIRESP diz que até às 23h as situações de saturação de rede "não tenham sido significativas". Quantas não foram realizadas à primeira e a partir de que estações não é possível saber pela leitura do relatório.

No período em análise, das 19h às 9h, houve um total de 125.650 comunicações entre operacionais no terreno (o que corresponde a 1902 terminais), sendo que mais de dez mil não foram realizadas (dados correspondentes a todas as estações activas). Neste período, foi a estação de Cabeço do Pião a registar mais comunicações, mais do dobro do que a segunda estação mais utilizada, o que demonstra que a saturação desta torre provocou dificuldades de comunicação para as chamadas que estavam a ser processadas por ali.

Contudo, o SIRESP faz uma leitura global dos dados e acredita que o sistema "correspondeu e esteve à altura da complexidade do teatro das operações, assegurando as comunicações e a interoperabilidade das forças de emergência e segurança". A empresa privada que detém o sistema diz ainda que "não houve interrupção no funcionamento da rede SIRESP, nem houve nenhuma estação-base que tenha ficado fora de serviço em consequência do incêndio". Segundo o mesmo documento, o SIRESP processou mais de um milhão e cem mil chamadas “em cinco dias contados desde o início do incêndio, através de 3301 terminais", o que corresponde a uma taxa de 15% de chamadas não efectuadas à primeira.