Tiago Rodrigues quer internacionalizar o D. Maria não apenas com as suas peças

Num ano de transição para um novo mandato, o director artístico do D. Maria aposta na internacionalização de novos artistas. Depois das digressões de espectáculos pelo estrangeiro, há que apostar em co-produções.

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Sopro estreia-se daqui a 15 dias em Avignon, já vos disse, não disse?”, brincou o director artístico do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, a propósito da sua peça que terá estreia mundial no festival francês em Julho, antes de chegar em Novembro ao teatro do Rossio, arrancando uma gargalhada a quem assistia à apresentação da nova temporada, feita esta segunda-feira no Salão Nobre. Quase exclusivamente ancorada nas peças de Tiago Rodrigues, que também é dramaturgo e encenador (e cedeu os direitos ao teatro que dirige durante os três anos do seu mandato), o director artístico prometeu que este seria um ano de transição no que diz respeito à internacionalização, numa apresentação em que foi anunciada a sua recondução por mais três anos à frente do D. Maria.

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Sopro estreia-se daqui a 15 dias em Avignon, já vos disse, não disse?”, brincou o director artístico do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, a propósito da sua peça que terá estreia mundial no festival francês em Julho, antes de chegar em Novembro ao teatro do Rossio, arrancando uma gargalhada a quem assistia à apresentação da nova temporada, feita esta segunda-feira no Salão Nobre. Quase exclusivamente ancorada nas peças de Tiago Rodrigues, que também é dramaturgo e encenador (e cedeu os direitos ao teatro que dirige durante os três anos do seu mandato), o director artístico prometeu que este seria um ano de transição no que diz respeito à internacionalização, numa apresentação em que foi anunciada a sua recondução por mais três anos à frente do D. Maria.

É um ano de transição porque as digressões internacionais passam também a ser co-produções, como já tinha acontecido com Bovary (a remontagem, estreada no Théâtre de la Bastille, foi eleita a melhor peça em língua francesa pela Associação Profissional de Crítica de Teatro, Música e Dança de França), além de Sopro, que tem uma dezena de co-produtores que pagam cerca de 80% dos custos de produção, ambas de Tiago Rodrigues. “O D. Maria consegue cada vez mais alavancar a sua actividade através da cumplicidade dos parceiros internacionais. Se Sopro é co-produzido largamente por teatros internacionais, também conseguimos angariar co-produtores para outros artistas e para outras companhias que trabalham connosco.” O director artístico deu o exemplo de Montanha-Russa, um musical de Inês Barahone e Miguel Fragata sobre a adolescência, co-produzido pelo Festival Terres de Paroles, pelo Teatro Nacional de São João e Formiga Atómica. “Vários outros artistas estão em perspectiva de ter parceiros fora de Portugal porque fazem parte da nossa programação”, continuou Tiago Rodrigues, sendo a sua expectativa conseguir a internacionalização de mais dois artistas, nomeadamente Raquel André e Rui Catalão.

Das 50 digressões fora de Portugal, contadas a partir do número de espectáculos apresentados, Tiago Rodrigues contabiliza ainda, além das suas digressões, quatro para Montanha-Russa. Já em relação a Raquel André, uma artista que faz parte da rede europeia APAP (Advancing Performing Arts Project — Performing Europe 2020), vão rodar os seus espectáculos, Colecção de Coleccionadores (nova criação a apresentar em Novembro no D. Maria) e Colecção de  Amantes, “mas neste momento a digressão ainda está a ser construída”, não sendo possível apresentar os locais de apresentação no estrangeiro. O mesmo acontece com Rui Catalão e com o espectáculo Amadorismo, Hipnotismo, Jornalismo, que também faz parte da rede APAP, em que há igualmente a expectativa que faça uma circulação pelos teatros e festivais da rede. Para já, o que se está a trabalhar com André e Catalão são co-apresentações, como aconteceu no início com os espectáculos de Tiago Rodrigues. “A nossa expectativa em temporadas futuras é que já se trate de co-produções. É um trabalho de longo prazo”, esclareceu ao PÚBLICO.

Na temporada 2017-18, serão apresentados 35 espectáculos, com 21 estreias absolutas, sendo esta a terceira do primeiro mandato do director artístico, numa tentativa de consolidação de objectivos e ideias. O orçamento para programação será de 1,1 milhões de euros, disse a administradora do D. Maria, Cláudia Belchior.

Fundamental é continuar a apresentação de grandes textos da dramaturgia internacional, segundo Tiago Rodrigues, abrindo a temporada com Lear, a partir de Shakespeare, numa encenação de Bruno Bravo e produção dos Primeiros Sintomas, com estreia marcada para 16 de Setembro. “Uma grande aposta para criar pontes entre os criadores portugueses e os grandes textos, olhando para o nosso mundo actual através dos olhares desses textos. A Primeiro Sintomas é uma companhia com cerca de 15 anos de trabalho à volta dos textos de reportório. Pela primeira vez vão apresentar-se na Sala Garrett que tem grande visibilidade.” Macbeth, outra encenação de Shakespeare que Nuno Carinhas já estreou no Teatro de São João, no Porto, chega ao D. Maria em Dezembro, onde já não era encenada desde 1964. Os Artistas Unidos voltam a este teatro nacional com O Grande Dia da Batalha, uma encenação de Jorge Silva Melo a partir de Albergue Nocturno, de Gorki,  “uma grande aposta do arranque de 2018”, disse o director artístico.

Pela primeira vez vai ser possível ver a trilogia completa da brasileira Christiane Jatahy, “em momento de consagração”, que estreará A Floresta que Anda, depois de ter apresentado Julia e E Se Elas Fossem para Moscou, nos teatros municipais Maria Matos e S. Luiz. Regressa também Peter Brook, numa colaboração com o festival de Paulo Branco, para apresentar Battlefield, numa revisitação de Mahabharata, um dos trabalhos mais conhecidos do encenador britânico, que aqui tem uma colaboração com Marie-Hélène Estienne. 

Além de Peter Brook, Tiago Rodrigues destaca também o regresso do dramaturgo grego Dimitrís Dimitriádis com Esquecer, numa encenação de Jean-Paul Bucchieri, que é apresentado pela primeira vez no D. Maria II. Junta cinco monólogos num trabalho com os actores Mónica Calle, Miguel Loureiro, Álvaro Correia, Beatriz Brás e Pedro Gil, “um elenco absolutamente incrível”, de aproximação aos artistas portugueses.

Na programação internacional, volta ainda o iraniano Amir Reza Koohestani, com Hearing, depois de ter estado no ano passado no Porto e em Lisboa.

No ciclo recém-nascidos, dedicado aos artistas emergentes, haverá pela primeira vez uma criação internacional, com Overload, pelos italianos do Teatro Sotteraneo. O ciclo começa com Topografia no arranque da temporada, numa produção do Teatro da Cidade, destacando o director artístico o facto desta companhia, uma das mais recentes de Lisboa, estar a apresentar na Sala Estúdio o seu segundo espectáculo, que se estreou em Março deste ano no espaço dos Primeiros Sintomas. O ciclo recém-nascidos continua depois com Ways of Looking, inspirada na peça com o mesmo nome de John Berger, com direcção de Teresa Coutinho.

O D. Maria tem cinco novas produções, onde se destaca, além de Sopro, Sweet Home Europa, um texto de Davide Carnivali com encenação de João Pedro Mamede.

Para o seu novo mandato, Tiago Rodrigues diz que já há várias ideias: “Mas é fundamental um trabalho de balanço, auscultando artistas e público.”