A política desportiva e as crianças e os jovens
No desporto falta debate público e consenso nacional na protecção à juventude.
O desporto é um dos sectores críticos do desenvolvimento e do sucesso da juventude portuguesa. O ensino, as juventudes partidárias e o desporto trabalham de costas voltadas e, por vezes, os dois primeiros contrariam os ideais desportivos da juventude.
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O desporto é um dos sectores críticos do desenvolvimento e do sucesso da juventude portuguesa. O ensino, as juventudes partidárias e o desporto trabalham de costas voltadas e, por vezes, os dois primeiros contrariam os ideais desportivos da juventude.
No segundo fim-de-semana de Junho morreram duas crianças no rio e dois jovens no mar e a comunicação social falou da prontidão dos bombeiros e dos serviços psiquiátricos das autarquias junto das famílias destroçadas. As crianças brincavam num rio onde é possível morrer com pouca água e a corrente do rio faz, qualquer um, perder o equilíbrio e afogar-se num ápice. Os jovens jogavam à bola na praia à beira de um mar inclemente e o primeiro foi buscar a bola caída nas ondas, teve dificuldades em voltar e o segundo, ao socorrê-lo, também se perdeu. O que estas catástrofes indicam é que o saber nadar não basta se a população não aprender a comportar-se no mar e nos rios.
As mortes, acidentes e escândalos com jovens portugueses são recorrentes em sectores como nas claques dos grandes clubes, nas praxes das universidades, no exército, nos Pupilos do Exército (onde uma criança foi espancada, de novo, segundo os media) e, em cada Verão, nos rios e no mar. Os acidentes alimentam o debate público que é incapaz de obrigar os responsáveis políticos e das organizações envolvidas à prestação de contas públicas.
A irracionalidade dos governos e dos sectores trai o ideal de uma juventude bem formada, tantas vezes a coberto de falsos paradigmas. Dirão que são casos pontuais, que não mostram o seu bom trabalho. Um acidente que fosse seria irreparável e essa ocorrência deveria mobilizar o país no combate aos incidentes juvenis e no investimento na correcção da falha social. No desporto falta debate público e consenso nacional na protecção à juventude.
Este artigo foi escrito antes da catástrofe de Pedrógão Grande e percebe-se como o modelo da floresta é o empurrar para o futuro, equivalente às políticas desportivas. Se os governos mantiverem o desinteresse pela reforma da política do desporto, os acidentes estúpidos com jovens nunca serão reduzidos a uma expressão ínfima. Por cada acidente que se repete, demora a correcção das políticas públicas falhadas. O Estado age como se houvesse todo o tempo do mundo para educar gerações de pais, encarregados de educação, organizações sociais e mobilizar os partidos e as instituições nacionais na criação das melhores condições sociais de desenvolvimento da juventude. As falhas das políticas do desporto tornam-se inimputáveis pela incapacidade dos tribunais e órgãos de supervisão da política pública.
O comportamento dos governos portugueses faz-se à margem do Modelo Social Europeu. Portugal tem dos piores índices europeus de literacia desportiva, a começar pela iliteracia desportiva dos políticos e dos partidos incapazes de ajudar as famílias, as comunidades locais e os jovens a defender-se das condições extraordinárias das águas portuguesas.
Quem perde com os fracassos da política desportiva é a juventude. O desporto é uma parte significativa da ocupação do tempo livre de todo o jovem em idade escolar compondo um corpo e uma mente vibrantes, repondo energias vitais e garantindo valências culturais, sociais e civilizacionais únicas. Este activo humano e social cria-se no longo prazo da vida dos jovens até se tornarem adultos.
A escola e a universidade públicas são instrumentos fundamentais da política de desporto. O ensino tem limites na formação do estilo de vida activo do jovem através do desporto. A formação faz-se pela abertura do ensino público aos clubes da sua área de influência e visando a formação plena do jovem. As federações e a sua rede de clubes desportivos são cruciais por promoverem a literacia do desporto e são custo-eficientes face a outros produtores.
O ensino público e privado, os partidos e o associativismo desportivo necessitam de políticas públicas que promovam a parceria democrática e competitiva entre todos.