Pedrógão: Protecção Civil identifica incumprimento da lei na protecção de vias e casas
O chefe da Divisão de Verificação e Fiscalização refere que existe uma falta de cumprimento de medidas preventivas, como uma área de protecção de 50 metros à volta das habitações e dez metros no caso das estradas. Faltam também pontos de água.
A Protecção Civil disse este sábado que não está a ser cumprida a lei relativamente às áreas de protecção para estradas e habitações em Pedrógão Grande, afectado pelo incêndio que começou no dia 17 e que provocou a morte a 64 pessoas.
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A Protecção Civil disse este sábado que não está a ser cumprida a lei relativamente às áreas de protecção para estradas e habitações em Pedrógão Grande, afectado pelo incêndio que começou no dia 17 e que provocou a morte a 64 pessoas.
"Há falta de cumprimento com as áreas de protecção, quer de vias, quer de habitações", disse o chefe da Divisão de Verificação e Fiscalização (DVF) na área da segurança contra riscos de incêndios em edifícios da Protecção Civil, Carlos Souto, que já está há vários dias no terreno com uma equipa de três elementos a fazer um levantamento dos factores que contribuíram para o resultado final do incêndio que afectou o interior norte do distrito de Leiria.
Questionado pela agência Lusa, Carlos Souto recordou que a lei prevê uma área de protecção de 50 metros à volta das habitações e dez metros no caso de estradas. Do relatório que irá apresentar, estará lá a falta de cumprimento dessas medidas preventivas.
Carlos Souto contou que esteve numa localidade em que encontrou "uma casa branca, impecável, rodeada pelo incêndio", e que no espaço da habitação "não aconteceu nada" porque o proprietário "teve o cuidado de limpar, cortar, molhar" a área circundante.
O responsável da DVF da Protecção Civil para a área de segurança contra riscos de incêndios sublinhou também que em "90% dos incêndios que entraram pelos telhados" verificou-se que tal aconteceu porque a estrutura de suporte das telhas "é madeira".
Para além da falta de limpeza à volta das estradas e das habitações, faltam também pontos de água que permitam "uma primeira intervenção da população".
"Eles querem defender o que é deles. Não têm falta de coragem", constatou, sublinhando que os meios que usam, nomeadamente baldes de água ou mangueiras com calibre pequeno, são ineficientes.
Para isso, seria necessário existir, nas aldeias, pontos de água, com dois lances de mangueira e uma agulheta para uma maior eficiência da defesa das habitações. Carlos Souto notou ainda que também se verificou "falta de água".
"As estações elevatórias deixaram de funcionar", face ao corte de electricidade, sublinhou, defendendo que é necessário que estas mesmas estações elevatórias da rede de abastecimento de água tenham "meios alternativos de emergência", para garantir que as populações têm água para combater o fogo.
Dois grandes incêndios, que provocaram a morte a 64 pessoas e ferimentos a mais de 200, deflagraram no dia 17 na região Centro, tendo obrigado à mobilização de mais de dois milhares de operacionais.
Estes incêndios, que deflagraram nos concelhos de Pedrógão Grande e Góis, consumiram cerca de 53 mil hectares de floresta — o equivalente a mais de 53 mil campos de futebol — e obrigaram à evacuação de dezenas de aldeias.
O fogo que deflagrou em Escalos Fundeiros, em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, alastrou a Figueiró dos Vinhos e a Castanheira de Pera, fazendo 64 mortos e mais de 200 feridos.
As chamas chegaram ainda aos distritos de Castelo Branco, através do concelho da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra, mas o fogo foi dado como dominado na quarta-feira à tarde.
O incêndio que teve início no concelho de Góis, no distrito de Coimbra, atingiu também Arganil e Pampilhosa da Serra, sem fazer vítimas mortais. Foi extinto hoje, às 13h00.