Santander inaugura centro de artes desenhado por Renzo Piano
O Centro Botín é um edifício icónico, que liga o centro histórico com a baía da capital da Cantábria. Vicente Todolí, ex-director do Museu de Serralves e da Tate Modern, é o responsável pela programação de artes plásticas.
Será que o Centro Botín vai funcionar para Santander como o Museu Guggenheim, de Frank Gehry, funcionou para a vizinha Bilbau? Esta parece ser a expectativa, mesmo que não claramente expressa, dos habitantes e responsáveis da capital da Cantábria, no momento em que se procede à inauguração do novo centro de artes também projectado por um nome maior da arquitectura mundial, o italiano Renzo Piano, prémio Pritzker em 1998.
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Será que o Centro Botín vai funcionar para Santander como o Museu Guggenheim, de Frank Gehry, funcionou para a vizinha Bilbau? Esta parece ser a expectativa, mesmo que não claramente expressa, dos habitantes e responsáveis da capital da Cantábria, no momento em que se procede à inauguração do novo centro de artes também projectado por um nome maior da arquitectura mundial, o italiano Renzo Piano, prémio Pritzker em 1998.
Três anos passados sobre a primeira data anunciada, e com um acréscimo de 20 milhões de euros ao orçamento inicialmente anunciado de 80 milhões, além de uma demorada polémica com associações culturais e ambientalistas locais que contestaram a localização e a dimensão da obra, o Centro Botín é finalmente inaugurado este fim-de-semana.
O calendário da cerimónia começou esta quinta-feira, exclusivamente para convidados e profissionais do sector das artes, prolonga-se sexta-feira com a visita oficial dos reis de Espanha, e completa-se no sábado, com a definitiva abertura ao público.
Com o novo Centro Botín, Santander conquista um equipamento que promete ser “um espaço vivo, um lugar único de encontro, que vai fomentar a criatividade através das artes”, como se lhe referiu, citada pelo jornal ABC, Fátima Sánchez, directora artística da nova instituição mandada construir pela Fundação Botín, ligada ao Banco Santander.
O projecto remonta a quase um quarto de século atrás, quando Emilio Botín (1934-2014) primeiramente sonhou com a criação de um centro de artes que ajudasse a revitalizar a cidade na costa norte de Espanha. Para o concretizar, convidou Renzo Piano, o celebrado autor do Centro Pompidou, em Paris, e de muitas outras instituições ligadas às artes plásticas, espalhadas principalmente pelos Estados Unidos, em cidades como Dallas, Los Angeles, Chicago e Nova Iorque – onde mais recentemente abriu o novo Whitney Museum of American Art, na marginal do rio Hudson.
A obra em Santander começou em 2012, mas quis o destino que o banqueiro não chegasse a vê-la concluída – Emilio Botín morreria em Setembro de 2014, ano em que acreditou que a obra pudesse estar concluída, como estava previsto no calendário inicialmente negociado com Piano. Mas a contestação, liderada por várias associações locais, à dimensão e à localização do edifício, associada a exigências do próprio arquitecto, motivou o atraso da construção – e a obra chegou mesmo a ser interrompida.
“Talvez tenhamos criado expectativas de ritmo demasiado ambiciosas. Numa obra assim, devíamos colocar na balança três objectivos: o custo, a qualidade e o prazo. Demos prioridade à qualidade com um custo equilibrado, e o prazo foi prejudicado”, comentou algum tempo antes da inauguração Íñigo Sáenz de Miera, director-geral da Fundação Botín, citado pelo jornal El País.
Mas a cidade e os seus responsáveis parecem agora rendidos à forma e às potencialidades do centro desenhado por Piano. Trata-se de um edifício suspenso sobre pilares e colunas à altura da copa das árvores do contíguo jardim de Pereda, na marginal da baía de Santander. Tem dois corpos ligados entre si por uma estrutura de corredores e passagens, integralmente revestidos por uma “pele” formada por placas de cerâmica, que espelham a luz e as cores da envolvente.
O corpo do lado oeste, o maior, tem duas salas de exposições com 2500 metros quadrados distribuídos por dois pisos; do outro lado, ficam os equipamentos de apoio: um auditório de 300 lugares, salas de aulas e de formação, espaços comerciais e restaurante. No conjunto, o novo Centro Botín apresenta-se como um lugar de encontro com as artes, mas também com a música, o cinema, o teatro, a literatura…
“Sinto-me muito honrado por fazer este projecto para a cidade de Santander, porque vem na sequência da minha trajectória pessoal de desenhar centros culturais abertos, tolerantes e acessíveis a todos”, disse Renzo Piano numa declaração difundida pela Fundação Botín, na altura da inauguração. E o arquitecto italiano estabelece um paralelismo com algumas das suas obras congéneres, como o Auditório de Roma, a Fundação Beyeler, em Basileia, a Biblioteca Morgan, em Nova Iorque, ou o Instituto de Arte de Chicago, além, claro, do Centro Pompidou – “todos eles lugares urbanos e apreciados pelas pessoas”, acrescenta.
O Centro Botín – cuja construção foi integralmente financiada pela fundação do Banco Santander – foi também o pretexto para uma operação mais ampla de requalificação urbana, que incluiu a duplicação da área do Jardim de Pereda, um incremento de zonas verdes e a construção de um túnel de mais de 300 metros para desviar o trânsito do lugar. A marcar a nova vida dos jardins, foi instalada uma escultura de Cristina Iglesias, que faz a ligação do espaço verde com o novo edifício.
Três exposições
A assinalar a inauguração, o Centro Botín abre três exposições simultâneas, num programa delineado pelo seu director artístico, Benjamin Weill, e por Vicente Todolí, ex-director dos museus de Serralves, no Porto, e da Tate Modern, em Londres, e que é agora em Santander o responsável pelo departamento de artes plásticas.
O primeiro artista vivo a ser convidado é o belga Carsten Höller (n. Bruxelas, 1961), que aí mostra trabalhos realizados na última década, sob o título Y (até 10 de Setembro). Carsten, que já tinha sido convidado a instalar uma peça nos jardins de Pereda, inaugurados em 2014, comentou agora que se sente dentro do Centro Botín “como se estivesse dentro de Moby Dick”. “Já fiz exposições em vários museus. Alguns, às vezes, são feios, ou levam-te a achar que o arquitecto não pensou suficientemente sobre a sua função. Os arquitectos fazem uma estrutura e tu tens de adaptar as tuas próprias obras dentro dela. Aqui, a sensação é como a de Moby Dick’. E ela é ainda mais apropriada a Santander, pela relação com a água e pela forma do espaço, que parece uma grande baleia. É um espaço muito bonito, e que comigo funciona”, disse o artista belga em entrevista ao ABC.
Além de Y, o centro mostra desenhos de Goya (1746-1828), em Ligeireza e atrevimento (até 24 de Setembro), organizada numa parceria com o Museu do Prado, e apresentada como “a maior exposição jamais dedicada em Espanha” aos desenhos deste artista.
A agenda completa-se com A arte na mudança de século (até 1 de Janeiro), comissariada por Benjamin Weil, uma primeira selecção da colecção da própria Fundação Botín, criada há pouco mais de meio século.