No néon vibrante dos anos 1980, os estereótipos ficam de fora do ringue
GLOW, a nova série das produtoras de Orange is The New Black em exibição a partir desta sexta-feira no Netflix, aborda um grupo de mulheres que chega ao mundo da televisão através do wrestling.
Corria o ano de 1985 quando David B. McLane, apresentador e promotor na World Wrestling Association, resolveu introduzir o wrestling feminino num universo que até então era exclusivamente habitado por homens. Mais de 500 mulheres apareceram para as audições num ginásio em Los Angeles, 12 das quais foram escolhidas para seis semanas de treino intensivo. Era o início de GLOW (Gorgeous Ladies of Wrestling), um programa de televisão que ao longo de quatro temporadas e 104 episódios seguiu a vida daquela equipa dentro e fora do ringue, popularizando-se pela exuberância e força das mulheres que o protagonizavam e pelo exagero dos sketches de comédia que apresentava.
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Corria o ano de 1985 quando David B. McLane, apresentador e promotor na World Wrestling Association, resolveu introduzir o wrestling feminino num universo que até então era exclusivamente habitado por homens. Mais de 500 mulheres apareceram para as audições num ginásio em Los Angeles, 12 das quais foram escolhidas para seis semanas de treino intensivo. Era o início de GLOW (Gorgeous Ladies of Wrestling), um programa de televisão que ao longo de quatro temporadas e 104 episódios seguiu a vida daquela equipa dentro e fora do ringue, popularizando-se pela exuberância e força das mulheres que o protagonizavam e pelo exagero dos sketches de comédia que apresentava.
Não é sobre estas mulheres que fala a série homónima do Netflix, cujos dez episódios ficam disponíveis esta sexta-feira no serviço de streaming. Só que tal como aconteceu há mais de 40 anos, este grupo de mulheres chega ao ringue com a expectativa de conseguir o “grande furo” que lhes dê um lugar no mundo do entretenimento. Esta é a história de Ruth Wilder (Alison Brie), uma actriz frustrada que salta de audição em audição até ser convidada para uma audição aberta com um grupo heterogéneo de mulheres — e que vem a descobrir posteriormente tratar-se de uma prova para um programa de wrestling. Trata-se de um conjunto de mulheres oriundas de diferentes backgrounds étnicos e sociais e que pouco ou nada sabem sobre a dinâmica do wrestling. A trama ganha fôlego quando a ex-melhor amiga de Ruth, Debbie (Betty Gilpin), uma antiga estrela de telenovela, aparece no ginásio para resolver um conflito pessoal e acaba por ficar na equipa.
“Sabíamos desde o início que esta era uma série sobre o corpo e sobre mulheres que trabalham com os seus corpos como nunca tinham feito anteriormente e de uma forma que nós enquanto audiência nunca tínhamos visto”, explica Liz Flahive à The Hollywood Reporter (THR). A criadora da série juntou-se a Carly Mensch, produtora executiva de Orange is The New Black, e conseguiu o selo de aprovação de Jenji Kohan para avançar com mais uma história sobre um grupo diversificado de mulheres. “Eram necessários actores que que fossem fisicamente capazes ou que estivessem dispostos a tornar-se mais capazes de executar todos os movimentos”.
Uma paixão improvável
A coordenação das cenas de luta ficou a cargo de Chavo Guerrero Jr, lutador de wrestling profissional que pertence à terceira geração da família Guerrero, conhecida pelo seu trabalho dentro da modalidade. Na versão original que foi para o ar entre 1986 e 1990, esta tarefa estava a cargo do seu tio Mando Guerrero, lutador e coordenador de cenas de acção em Hollywood. Coube a Chavo Guerrero Jr ajudar as actrizes a mergulhar num mundo que lhes era maioritariamente desconhecido. “Ao ser o coordenador de wrestling, acabei por trabalhar também os ringues e os cenários, e chegaram a dar-me o guião antecipadamente para que pudesse sublinhar e mudar a terminologia do desporto”, conta em declarações à Rolling Stone.
Segundo Chavo Guerrero Jr, o plano de treino desenhado para as actrizes não foi o típico treino dos profissionais de luta livre, porque o objectivo era fazer com que se apaixonassem pelo desporto (e porque a série se foca mais na vida das personagens fora do ringue em comparação ao original). “Acho que funcionou. Recebo imensas mensagens a dizer ‘Tenho saudades do ringue’, a Alison Brie manda-me mensagens a dizer ‘Tenho saudades de cair e de desferir golpes’”. Quando questionada pela THR sobre a aprendizagem da modalidade, a protagonista assegurou que não houve lesões graves durante as gravações, mas “ficaram algumas nódoas negras”.
A ficha técnica de GLOW tem o peso dos nomes que nos deram Orange Is the New Black e a comparação com o sucesso planetário do Netflix é inevitável e, em larga parte, plausível. É uma trama que se centra num elenco sobretudo feminino e multicultural que invade um espaço maioritariamente masculino, nomeadamente no confronto que há entre as lutadoras e Sam Sylvia (Marc Maron), o realizador fracassado que as orienta no novo mundo. “Todo este trabalho foi bastante feminista. As nossas criadoras são mulheres, as nossas produtoras são mulheres e 14 membros do nosso elenco são mulheres”, nota Alison Brie num vídeo promocional do Netflix.
É verdade que a série se situa entre o drama e a comédia e aborda a formatação de género e os estereótipos sociais, mas a protagonista da série afirma que “GLOW não é uma prisão — é bastante mais animada que a prisão”. Afinal, o pano de fundo da história é a fluorescência e o néon dos anos 1980, onde as malhas coloridas ganharam força e os cabelos ganharam volume.
Apesar de causar alguma reticência junto dos fãs de luta livre quando foi anunciada, GLOW faz uso da história deste desporto e tem sido muito bem acolhida pela crítica. A Variety caracteriza-a como “feminina, mas não adorável; histórica, mas não nostálgica” e a Entertainment Weekly descreve-a como “em parte um drama desportivo, em parte sátira do entretenimento e em parte, uma alegoria do nascimento-da-mulher-moderna”.