Não há rede social que escape à propaganda dos bots
Da China ao Brasil, programas de computador são utilizados para dar a ilusão de que um tema ou pessoa é mais popular do que é.
Há muitos bots a falar de política nas redes sociais. Em nove países (com regimes democráticos ou autoritários), estes programas de computador – que simulam comportamentos humanos nas redes sociais – foram utilizados para silenciar a oposição ou difundir ideias convenientes a certos políticos durante os períodos de eleições e de crises políticas dos últimos dois anos.
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Há muitos bots a falar de política nas redes sociais. Em nove países (com regimes democráticos ou autoritários), estes programas de computador – que simulam comportamentos humanos nas redes sociais – foram utilizados para silenciar a oposição ou difundir ideias convenientes a certos políticos durante os períodos de eleições e de crises políticas dos últimos dois anos.
O fenómeno é descrito como “programação patriótica” num estudo publicado esta semana pela equipa Polbots da Universidade de Oxford, que se dedica a investigar o impacto da propaganda computacional na vida pública.
Entre 2015 e 2017 a equipa reuniu 12 investigadores que entrevistaram 65 profissionais da área de propaganda computacional e política, e analisaram dezenas de milhares de publicações em seis redes sociais (além das gigantes mundiais Facebook e Twitter foram consideradas a rede chinesa Weibo, a coreana Line, e as russas Odnoklassniki e Vkontakte).
Os bots estavam em todas, com redes a serem criadas para dar a ilusão de que uma hashtag (uma palavra-chave que permite agrupar mensagens sobre um tema) é popular quando, na realidade, está apenas a ser partilhada em massa por máquinas, para criticar ou defender uma figura política.
Por exemplo, no Brasil estas redes foram detectadas em publicações antigas das eleições presidenciais de 2014, na crise constitucional que levou à destituição de Dilma Rousseff e nas eleições municipais de 2016 no Rio de Janeiro. Estas contas – encontradas no meio de uma amostra de mais de 360 mil tweets – eram capazes de apoiar ou atacar figuras políticas, enviar mensagens sobre temas em debate e motivar protestos, mesmo com a lei brasileira a requerer que as contas associadas a campanhas políticas estivessem associadas a pessoas.
Já nos Estados Unidos, 10% de uma amostra de 17 milhões de publicações analisadas no Facebook e no Twitter também eram máquinas. Foram uma parte importante das últimas eleições presidenciais, com uma rede de bots associada a hashtags sobre o actual presidente Donald Trump a ser três vezes maior que a rede associada à rival do Partido Democrático, Hillary Clinton. A ilusão de que um candidato tem apoio online pode desencadear apoio no mundo real por pessoas que querem seguir a tendência, alertam os investigadores.
Na Rússia, de 1,3 milhões de contas de Twitter analisadas, 45% das contas com mais de dez publicações pertenciam a contas automatizadas.
Os três países, porém, não estão sozinhos. O estudo considerou também os casos da Alemanha, Canadá, China, Polónia, Taiwan e Ucrânia.
No geral, o domínio de contas automatizadas em redes sociais nos nove países considerados é visto como uma tendência assustadora para os investigadores. "É importante que as empresas responsáveis pelas redes sociais trabalhem para a democracia", concluem os investigadores. “Podemos assumir que os governos autoritários vão continuar a utilizar as redes sociais como uma forma de controlo político", lê-se no resumo do estudo. "É crucial promover informação e notícias sobre política de fontes de confiança. No final, criar estratégias para a democracia, de forma sistemática, vai ajudar a restaurar a confiança nos sistemas das redes sociais."